sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Clássico do DVD: Manon 70 e a sensualidade de Catherine Deneuve

Manon 70,  chega às locadoras no dia 15. Lançado em 1968, a produção é comandada por Jean Aurel e protagonizada por Catherine Deneuve, no auge da beleza, e Sami Frey.

Cineclick/Uol

Sofrer por amor no primeiro mundo é outra coisa. É passear em iates, envergar vestidos sofisticados e na crista da moda, beber grandes vinhos. Finesse, monsieur, é chorar nas ruas de Paris em vez do fim de mundo de Porto das Caixas.Por isso, em vez de lutar contra o mundo em mudança, o protagonista masculino de Manon 70 decide se resignar e assumir a pecha de corno para não perder o amor de uma beldade, Catherine Deneuve. Manon 70 reposiciona o papel do homem e da mulher na sociedade em meados dos anos 60.Movimento de abertura que aos poucos foi sendo acompanhado pelo cinema. Quando Johnny Guitar saiu em 1954 parecia até uma anomalia pensar um filme no qual uma mulher bancava sozinha um bar com um coldre na cintura e pronta para enfrentar os homens que buscavam por Dancin' Kid.
Troque o revólver pelo sexo, o faroeste pelo romance, os Estados Unidos pela França, o Oeste por Paris, a música de Victor Young por Serge Gainsbourg e temos como os franceses olhavam para a mulher no cinema em 1968.Mesmo assim, Manon 70 tem seu quinhão careta. Se pensarmos que, na literatura, o erótico já tinha sido mais radical nos anos 1930 com O Amante de Lady Chatterley, é possível enxergar muito pudor nos takes do filme de Jean Aurel. O próprio cinema francês já tinha ido além ao tratar o corpo em 1956 com ...E Deus Criou a Mulher, de Roger Vadim, charmoso e sensual graças à deslumbrante Brigitte Bardot. Claro, Manon 70 não é de todo conservador. Afinal, Manon (Catherine Deneuve) não se prende a um só homem, não está nem um pouco incomodada com ter um amante rico e um marido falido e, na cama, gosta de brincar com a fantasia do estupro. Sem contar que, em vez de defender a represália de Manon, o filme a solta para a vida
Câmera fofoqueira
Jean Aurel é o diretor de Manon 70. Morto em 1996, o romeno ficou mais conhecido como roteirista do final da carreira de Truffaut – O Amor em Fuga (1979), A Mulher do Lado (1981) e De Repente Num Domingo (1983). Como diretor, ganhou algum destaque nos anos 60 por De l’amour (1964) e Les Femmes (1969).Aurel dirige o filme com uma câmera bisbilhoteira que se mete por entre cabides, casacos e frestas para observar os amores de Manon. Cinematograficamente, esse ar de intromissão é o que há de mais interessante no longa. O espectador é cúmplice da mulher que não consegue viver sem o conforto dos ricos amantes ou sem o amor (e dependência) incondicional de Des Grieux (Sami Frey).O jovem é um jornalista que conhece Manon em um voo de volta da China. Ele a persegue e consegue pegar o mesmo avião. Aurel nos engana: parece que Des Grieux vai comandar a iminente relação, mas do outro lado existe Manon. Em uma idílica e excitante cena numa banheira, ela diz que o ama, ele não consegue imaginá-la nos braços de outro. Mas não há muita escolha: ou aceita o cenário à sua frente ou perde Manon, simples assim.
Clássico da literatura
Manon 70 é uma livre adaptação contemporânea de uma obra onipresente na literatura francesa. L'Histoire du chevalier des Grieux et de Manon Lescaut foi publicada em 1731 e posteriormente banida, tornando-se moeda cara no mercado negro do século 18.Na história original, o herói é Des Grieux e o que separa o casal é o desejo de luxúria de Manon Lescaut. O livro de Abbé Prévost explora o clássico tema do romance proibido, arquétipo shakesperiano. A obra francesa serviu de base para uma série de outros filmes, como Manon (1949), de Henri-Georges Clouzot, e Manon Lescaut (1940), que trouxe Vittorio de Sica como ator.Na versão de Aurel, o sexo e o que Manon faz com ele tem função fundamental. Aurel começa filmando como Claude Lelouch e aparentemente quer se debruçar sobre um encontro amoroso, mas abandona essa linha e fica mais perto de Roger Vadim. Um bom filme que permite admirar a beleza e independência de Catherine Deneuve – atriz que vinha de duas obras-primas, Repulsa ao Sexo (1965), de Polanski, e A Bela da Tarde (1967), de Buñuel.

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