Na pele da policial Jô de "Salve Jorge", a atriz Thammy Miranda tem se divertido com a repercussão que os novos rumos de sua personagem na novela tem causado.
Nas próximas semanas, Jô, uma escrivã com trejeitos masculinos obstinada por desvendar os vilões do crime organizado internacional, se transformará em "um mulherão". Tudo em prol de uma investigação policial da trama que busca desvendar uma quadrilha de tráfico humano alocada na Turquia.
Seja pelos desdobramentos que a infiltração de Jô podem ter para a novela, seja pela curiosidade de ver Thammy, homossexual assumida que adotou há anos um visual masculino, como uma garota de programa sensual, a expectativa sobre a transformação é grande.
"Já está todo mundo se estapeando pela primeira foto", comemora Thammy em entrevista ao UOL . "Você gostaria que ela fosse como?", responde quando pressionada a dar as características do disfarce. "Não sei como ela vai se vestir, nem como vai ser infiltrada", desconversa, acrescentando que a primeira cena da nova fase de Jô só deve ir ao ar "daqui a duas semanas".
DE THAMMY GRETCHEN À THAMMY MIRANDA
Filha da cantora e dançarina Gretchen, Thammy tentou seguir os passos da mãe antes de "se encontrar" na carreira de atriz.
Com o nome artístico Thammy Gretchen ela dançou no grupo da mãe, gravou um CD (aos 18 anos, idade em que aparece na foto acima), posou nua e atuou em um filme pornô ao lado da ex-namorada Julia Paes.
Ao assumir a homossexualidade, abandonou o cabelo cumprido, as roupas sensuais e a marca Gretchen. "Agora sou Thammy Miranda porque é o meu nome de batismo, porque quer dizer que sou eu mesma, não uma personagem", diz.
Segundo Thammy, Gloria Perez, autora de "Salve Jorge", não tinha planejado a guinada do papel quando a convidou para viver a escrivã. "Acho que ela queria ver como eu iria me sair e também sentir a aceitação do público".
Com um sorriso enorme de satisfação no rosto, Thammy lembra do momento em que a autora revelou o que planejava para Jô. "Ela me ligou, me deu parabéns e disse que se surpreendeu com meu desempenho", conta. "Aí ela falou: 'Muitas pessoas tem me pedido para aumentar seu papel e eu vou te dar esse presente'", completa.
Apesar de não saber quanto espaço Jô vai ganhar na trama, Thammy torce para que o núcleo da delegacia, formado por Jô, Helô (Giovanna Antonelli) e Barros (Marcelo Airoldi) ganhe cada vez mais importância.
"A gente se diverte muito gravando e acho que essa alegria está transparecendo para quem assiste", disse, fazendo muitos elogios aos colegas. "Tudo o que eu aprendi nesse trabalho eu devo a Giovanna".
Thammy também deseja que Jô seja a peça-chave para a prisão de Wanda (Totia Meirelles), Livia (Claudia Raia), Irina (Vera Fischer) e Russo (Adriano Garib).
"Não sei se eles devem morrer, mas quero que sofram bastante. Queria que a Jô forjasse um programa com o Russo e judiasse bastante dele", deseja.
Sobre um possível romance da personagem na história, Thammy afirma que acha improvável. A sexualidade da personagem, explica, é algo pouco discutido nos bastidores de "Salve Jorge". "A Glória já disse que isso não está em questão".
"No começo eu perguntei se a Jô era lésbica, mas me disseram para eu me preocupar em ser a policial", explica. "Acho o arco investigativo da trama tão mais interessante do que, por exemplo, um beijo gay". "Nunca pensei em quem poderia ser o par romântico da Jô, mas se a Glória escrever, eu faço numa boa".
Iniciante na carreira televisiva, Thammy faz aulas de interpretação uma vez por semana para melhorar a atuação na novela. Para a nova fase de Jô, no entanto, ela não mudou a rotina.
"Estou me preparando comigo mesmo, para conseguir visualizar o que a Jô faria. Se eu fosse uma policial infiltrada, seria capaz de fazer tudo para desvendar a máfia", afirma.
EM CENA
Thammy Miranda e Giovanna Antonelli contracenam em cena de "Salve Jorge". "Tudo o que aprendi até agora foi com a Giovanna", diz a intérprete de Jô
"Rompendo barreiras"
Pelo menos no discurso, Thammy está tão empenhada quanto sua personagem para se estabelecer na carreira de atriz. "Sou capaz de fazer qualquer papel, se me derem a chance", afirma.
Por outro lado, Thammy afirma estar consciente que sua opção sexual e estilo podem restringir seus papeis. "Se o preconceito vir primeiro, talvez eu só faça essa policial", diz. "Ser homossexual assumida não quer dizer que eu só possa fazer papeis gays, eu posso fazer homem, mulher, olha que maravilha", brinca.
Para ela, a discriminação sexual é um fator importante para que "muitos artistas não saiam do armário". "Não condeno, nem julgo, porque sei o quanto se assumir atrapalha a carreira", diz. "Uma mulher como eu, que não é feminina, não é vendável, eu nunca vou ser chamada para fazer comercial de shampoo, por exemplo".
Para Thammy, no entanto, a sua escalação para interpretar Jô é um começo de mudança. "Só o fato de eu estar em uma novela das 21h, de uma autora importante como a Glória, já está rompendo barreiras", afirma.
"Poderia não ser eu, poderia ser uma atriz hétero no papel, mas só de ter alguém como a Jô na novela, já é quebrar o preconceito", afirma.
"Depois que a minha personagem foi para o ar, veio a da Martnália em "Pé na Cova" [série de Miguel Falabela exibida pela Globo às quintas-feiras]. Talvez daqui para frente existam mais papeis assim, porque essas pessoas existem na vida real".
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