terça-feira, 25 de junho de 2013

NILSON XAVIER-Com estreia promissora, “Saramandaia” é a novela certa no momento certo

A Globo estreou sua nova novela das onze, “Saramandaia”, excepcionalmente nesta segunda-feira, 24, após a novela das nove, “Amor À Vida” – a trama será exibida de terça a sexta-feira, após as 23 horas. E já se percebeu uma diferença gritante: saiu o melodrama cinza e entrou as cores da fotografia viva de “Saramandaia”, com um universo mágico cuja caracterização nos remete a “Harry Potter“ e à filmografia de Tim Burton. A novela é uma reedição da clássica “Saramandaia”, criada por Dias Gomes em 1976. Na trama original, o autor usou do realismo fantástico para criticar a ditadura militar que assolava o país. Atualmente, a nova novela, adaptada por Ricardo Linhares, foca o realismo fantástico para discutir a diversidade, através de uma cidadezinha fictícia onde acontecem os maiores absurdos. Homem que põe o coração pela boca, outro que solta formigas pelo nariz, o que criou raízes no chão, a que se derrete por amor e a que queima de tesão, a que vê galinhas onde não tem, o que vira lobisomem e o que esconde um par de asas.

Como estabelecer um padrão de igualdade onde o diverso está em todo canto? O mais curioso disso tudo é que a Globo – novamente por acaso – apresenta uma novela certa no momento certo. Exatamente quando, na vida real, explodem pelo país várias manifestações populares, e na noite em que a presidente Dilma sugere um plebiscito para reforma política, o primeiro capítulo apresenta uma manifestação comandada por jovens que querem um plebiscito para que se mude o nome da cidade de Bole-Bole para Saramandaia. A expressão “primavera saramandista”, usada na trama (uma alusão à recente primavera árabe), veio a calhar no outono/inverno brasileiro. Em 1992, o movimento Caras Pintadas coincidiu com a exibição da minissérie “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, que recriava as manifestações contra a ditadura do final da década de 1960. Quer mais uma coincidência? O canal Viva começou a reexibir “Anos Rebeldes” em junho, antes das manifestações atuais começarem. Coincidências à parte, “Saramandaia” promete tratar com presteza de problemas que afloram na nossa sociedade atual, como a intolerância à diversidade. Em uma metáfora muito pertinente, o primeiro capítulo apresentou o jovem João Gibão (Sérgio Guizé, de “Sessão de Terapia”), que foi chamado de “esquisitão” e tem pavor que descubram que possui um par de asas, mas que anseia por liberdade. Enquanto o velho Tibério Vilar (Tarcísio Meira), de tanto tempo parado, criou raízes tão profundas que não consegue se mexer. Logo João se livrará das amarras de seu gibão e voará para a liberdade, enquanto outros permanecem presos ao que paralisa. Dias Gomes deu seu recado há 37 anos e Ricardo Linhares endossa com a atualidade. O primeiro capítulo foi bonito, colorido, pitoresco, deu gosto de ver. Tudo muito bem feito, da abertura à trilha sonora – que trouxe a antiga “Pavão Mysteriozo”, de Ednardo, para o deleite dos saudosistas. “Saramandaia” promete ser daqueles remakes que valem a pena: ganhou uma produção à altura da original (melhor em alguns aspectos, como efeitos especiais, por exemplo), e uma história que, adaptada, reflete os dias de hoje: a cidade é pequena, mas tem caras pintadas nas ruas que se organizam pela internet. #MudaBoleBole #SaramandaiaJá #EssaPromete

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