segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Música pop mostra a cara barbada da nova androginia

A música pop, eterno celeiro de tendências, apontou nos anos 1970 e 1980 para uma onda de artistas cuja aparência levantava uma questão imediata: é homem ou é mulher? Pois a androginia de músicos como David Bowie, Annie Lennox e Boy George deu um passo à frente e sua ambiguidade sexual se transformou em coexistência, ou simultaneidade, de gêneros. Artistas defendem que não são homens nem mulheres: são os dois É este o caso da cantora (ou cantor) austríaca Conchita Wurst, 25.

Nascida homem, batizada Thomas Neuwirth, ela moldou um corpo feminino de fazer inveja a originais do gênero e manteve, abaixo de olhos finamente maquiados, uma barba espessa e bem desenhada. O nome escolhido para a nova identidade é emblemático: Conchita quer dizer concha em espanhol, mas também designa vagina; Wurst é salsicha em alemão. "Sou homem e mulher em uma só pessoa", define-se, em entrevista à Folha. Conchita foi escolhida por uma comissão para representar a Áustria no Festival Eurovision de Canção, evento anual que reúne cantores de todo o continente europeu e é transmitido pela televisão. Muitos austríacos surtaram e exigem mudanças nas regras de eleição de representantes para que o público possa votar nos candidatos de forma direta.

 

"Só espero que as pessoas apreciem minha música e não pensem tanto se sou homem ou mulher, gay ou hétero...", diz a cantora. "Gostaria que conseguissem olhar além de características como sexualidade e cor da pele." Para o cearense Daniel Peixoto, 27, que surgiu na cena independente brasileira em 2005 como o vocalista maquiado da banda eletro-punk Montage, a polêmica sobre a eleição de Conchita levantou a questão da separação entre gêneros mundo afora. "Desde criança me perguntam se eu sou menino ou menina. E, como artista, questionei a ideia de gênero", diz.

Outro exemplo é o do norte-americano Perfume Genius, codinome de Mike Hadreas, 32, cujas baladas confessionais ao piano são acompanhadas de saltos altos, batons e esmaltes num corpo que não pretende camuflar sua masculinidade. "A maioria das pessoas diz ser homem ou mulher. Mas acho que, se todos se permitissem, seriam mais como eu: masculinas e femininas", disse Hadreas à Folha. "Foi só através da música que consegui ser quem realmente sou."

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