quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

'Eu já passei dos 70 e não estou nem aí, para mim está tudo igual', diz Ney Matogrosso

No ano em que completou quatro décadas de uma carreira transgressora, imprevisível e bem-sucedida, iniciada com o sucesso do Secos & Molhados, Ney Matogrosso, 72, não quis olhar para trás. Rechaçou, como vem fazendo há anos, qualquer homenagem a seu ex-grupo e lançou-se à estrada com um repertório dominado por compositores novos, no show "Atento aos Sinais", que virou CD gravado em estúdio. Em conversa com a Folha em sua cobertura, no Leblon (zona sul do Rio), Ney falou sobre o álbum recém-lançado e como diversas canções dele (como "Rua da Passagem" e "Incêndios", as duas primeiras faixas) têm uma temática de protesto social que, de certa forma, anteciparam o clima que se viu nas ruas do país neste ano. O cantor disse ser favorável aos protestos populares, apesar de não ter se juntado a nenhum deles. Condenou a violência dos black blocs ("Talvez, se fosse só contra os bancos... mas a gente viu que não é") e mostrou que continua profundamente desanimado com a classe política, a ponto de dizer que deve anular seu voto nas próximas eleições para presidente e governador. Filho de militar, criado sob regras rígidas, disse ser "transgressor desde que me entendo por gente" e falou sobre os 40 anos de carreira e a relação quase sexual que ainda mantém com a plateia de seus shows.


*
Em "Atento aos Sinais" você inverteu, mais uma vez, a lógica tradicional, lançando o CD após a turnê. É melhor assim?
Quando você entra no estúdio para gravar sem fazer isso, está tudo muito verde, rapidamente o disco fica ultrapassado, porque a gente começa a fazer e vai entendendo. Mesmo nesse, que eu gravei depois de um tempo, já não estou cantando as músicas como no disco. Quando fui para o estúdio, onde usamos muita eletrônica, eu trouxe aquilo para o show.

Como foi a seleção do repertório? Há muitas regravações, você não liga para exclusividade?
Eu achava que o foco devia estar nos novos. Todas aquelas músicas já foram cantadas por seus respectivos compositores, muitos deles trabalhos independentes que ninguém conhece. Não encomendo as canções, a exclusividade do repertório nunca foi um dilema para mim, cada pessoa oferece seu ponto de vista.
Você escolhe as músicas pelo que quer dizer? O que queria dizer com as de "Atento aos Sinais"?
As letras são o que me fazem definir o repertório. Este começou a ser montado em 2009 e eu comecei a mostrar em fevereiro deste ano, portanto não tinha nenhum acontecimento previsível no horizonte, e elas realmente abordam essa temática urbana, de violência, de desrespeito. Eu sempre trato disso, gosto de ter um panorama, fazer alguma referência ao nosso país, que está precisando de muita coisa, né? "Não Consigo" [da banda Tono] é a única que eu considero romântica. "Isso Não Vai Ficar Assim" [de Itamar Assumpção] é brejeira, a do Vitor Ramil é cabeça ["A Ilusão da Casa"]. "Tupi Fusão" [Vitor Pirralho] foi a primeira que eu escolhi, em 2009. Me chamou a atenção por ser um rap que não fala de mano, mas dos índios na chegada dos portugueses, achei engraçado. A do Criolo ["Freguês da Meia-Noite"] é mais cinematográfica.

A propósito, você pretendia ter a participação do Criolo no disco, não?
Acabou não rolando, porque o que aconteceu quando eu cantei com ele [em um show do rapper paulistano] foi tão espontâneo que, no estúdio, não seria a mesma coisa. No final da canção, ele ficou me xingando de "vagabundo, ordinário, sujo", e eu fui gostando cada vez mais.
Você já tinha gravado Paulinho da Viola?
Acho que não. Adoro essa música ["Roendo as Unhas"], ela é bem diferente dentro do repertório dele, porque o Paulinho é muito singelo, tranquilo, e aquela música é pessimista. Eu não faço de uma maneira pessimista, aí é aquela história da liberdade que se toma com a música de alguém, você pode dar uma outra intenção. Mas a gravação original dele é pessimista, e eu achei interessante ter uma música dele com essa conotação.

Como você vê o resultado do disco?
Acho muito interessante. Quando você tira do show, as ideias ficam comprimidas, e ele soa bem. Acho um dos melhores que eu já fiz, gosto do resultado musical, da banda, acho os arranjos interessantes. Acho... a palavra não é "moderno", porque eu não tenho essa preocupação de ser moderno, mas tanto a temática quanto o resultado o colocam nesse patamar de moderno.
Você também não se preocupa em incluir sucessos, não é?
Eu preciso fazer o que acredito. Meu público sabe que eu não faço show de sucessos, nunca fiz. Em algumas turnês entram mais, mas nunca fiz um show só de sucessos. Tenho número suficiente para isso, mas não me interessa.
Me lembro de um show em que você virou para o público que pedia bis e disse que não ia ter.
Antigamente não tinha bis, eu não fazia, o que eu tinha para dizer era aquilo. Mas aí elas ficavam tanto tempo lá que eu disse "tá, vou fazer bis". Mas isso é uma concessão de pouco tempo para cá.
É difícil balancear essa independência artística com o lado comercial?
Eu zelo pela pureza artística. Todas as gravadoras que me pressionaram, eu abandonei. Passei por seis, defendendo o meu direito de me manifestar artisticamente com meus critérios e minha liberdade acima de tudo. Talvez até dificulte a minha vida, mas não saberia fazer de outra maneira.

Ainda faz sentido lançar CD, principalmente no formato físico?
Eu gosto de CD, de capa, de abrir. Penso da seguinte maneira: se realmente tem muito pouca gente que compra, quem compra é porque gosta, então eu faço algo caprichado para eles, capa bonita, interessante. Eu gostava mais de LP, claro, porque você tinha possibilidades muito maiores. A indústria como a gente conhecia não existe mais, então o que me interessa é uma boa distribuição. Que será restrita, mas, se for uma melhor distribuição... E a Som Livre tem essa coisa de anunciar na televisão, nos intervalos da Rede Globo, que é bem interessante. O último disco que eu lancei por lá foi por causa do João [Araújo, ex-diretor da gravadora e pai de Cazuza, morto no último dia 30].
Ter música na trilha de novela ainda é importante?
Não acho. Não botei "Poema" no show por causa da novela ["Sangue Bom"], pelo contrário: quando coloquei e ouvi na novela, me deu uma brochada, "agora vão pensar que eu coloquei por causa da novela". E nem imaginava que ela pudesse aparecer numa novela depois de tantos anos. Se for para aparecer numa novela, prefiro que seja num personagem legal do que numa abertura, porque a abertura é desgastante, as pessoas enjoam. Eu enjoo de me ouvir.

Você ainda compra CDs?
Compro coisas que me interessam. Não baixo nada, nunca. Nem ouço música, só no rádio do carro, quando estou dirigindo, coisa que raramente eu faço. Eu sou diferente. Só tive um aparelhinho desses [aponta para o celular] dez anos depois.
A comemoração dos 40 anos do Secos & Molhados te bateu de alguma forma?
Não, foi que nem fazer 60 anos. Antes de chegar a eles, tive um tremor, achando que era uma idade a partir da qual eu não ia mais poder usar minhas roupas como eu gostava, minhas calças justas. Aí fiz 60 e não mudou nada, continuo me vestindo igual, sendo a pessoa que sou. Aí já passei dos 70 e não estou nem aí, para mim está tudo igual.

E em termos físicos?
Haverá um impedimento físico, obviamente. Na voz ainda não tenho, no corpo ainda não tenho, mas terei em algum momento, convivo com essa possibilidade. Agora, não vou começar a fazer menos por estar com medo. Não estou com medo, quando tiver um impedimento, as pessoas saberão e pronto. Mas, enquanto não houver... Eu acreditei no primeiro maluco que me disse que com 40 anos eu não manteria a mesma voz. Já estou com 72 e continuo cantando, quer dizer, não dá para acreditar nisso, cada um é de uma maneira. Mantenho meu tônus vocal cantando e meu tônus muscular fazendo ginástica. Não sou preocupado com a minha voz, só tenho problema com ar condicionado, que me prejudica. Mas tomo gelado, vivo normal, não tenho problema.

E a memória?
Continua ótima. Não senti diferença. Agora, vi no documentário ["Olho Nu", de Joel Pizzini, sobre Ney] uma forma de dançar da época do Secos & Molhados que hoje em dia seria impossível, não sei como mexia o quadril daquele jeito. Isso eu não consigo fazer mais. Ali não estava nem pensando, não era algo que eu determinasse, eu entrava e fazia daquela maneira.
Era intuitivo, cada noite uma dança?
Como é ainda. Eu tenho alguns pontos marcados, mas o que eu vou fazer entre um ponto e outro depende muito mais do público do que de mim. Se é um público que me acende, eu fico doido, pulo, só não dou cambalhota.
Como o público te acende?
Quando é extremamente receptivo e aberto para mim, isso me deixa louco. Quando começou essa história, eu tinha realmente desejo pela plateia, assim como a plateia me desejava. Olhava aquela gente e tinha tesão, para mim aquela multidão era um ser, que eu desejava. Hoje em dia é uma brincadeira em cima disso.
Você perdeu o desejo?
Não perdi não, filho. [risos]
Essa reação do público a sua performance veio desde o início?
No Secos & Molhados as pessoas tinham mais medo, um certo susto com aquilo. Isso começou a acontecer comigo no "Bandido" [seu segundo disco solo e turnê, de 1976], quando eu tirei aquela coisa de animal de cima de mim e virei gente. Nunca chegou num contato físico, porque eu não estava ali no palco para conquistar alguém que estava na plateia. Então, se alguém vinha depois do show com coisas comigo, não rolava. Já perdi muitas oportunidades boas por causa disso.

O Secos & Molhados foi uma explosão, fez sucesso muito rápido, atingiu inclusive as crianças. Como isso aconteceu?
Elas foram nosso salvo-conduto. Funcionou porque as crianças não viam [sua performance] como uma manifestação sexual, viam um inseto. Funcionou pelo movimento, pela fantasia, eu botava antena, chifre no meio da testa, eu enlouquecia.
Foi assim: a gente ensaiou o repertório por um ano, mas nunca ensaiamos um show. Quando fomos fazer a primeira apresentação, lá no teatro Ruth Escobar, perguntei o que ia sobrar de palco para mim e disse que ia fazer o que me desse na telha, mas não sabia o que seria. Quando tapei meu rosto com a pintura, isso deflagrou uma coisa do meu inconsciente, que se liberou. Até então eu era todo problemático, não trocava de roupa na frente das pessoas, achava minhas mãos horrorosas, vivia com elas escondidas, não deixava ninguém ver meus pés, não tirava minha camisa porque me achava feio, magro. No que tirei minha cara e virou uma máscara, adquiri coragem para uma exposição física que eu jamais achei que seria capaz. Foi quase uma terapia mesmo. Imagina você não ter rosto, você pode tudo. Ainda mais naquele momento, eu podia tudo, não era uma pessoa, era uma coisa híbrida entre insetos e bichos, e era a maneira que eu gostava que me vissem.

Agora, tinha uma carga de sexualidade, eu tinha 30 anos, eu vivia assim, se não trepasse, não dormia. Aquilo tudo era verdade. E não se permitia ao homem expor a sexualidade, mas como eu ia segurar isso, impedir de aparecer? Aí fui ficando cada vez mais louco, disse "tá entregue, vamos ver até onde posso ir". A censura começou a pegar no meu pé, a classificação do show foi subindo de "livre" para "12 anos", depois 14, 16 e eu pensei o seguinte: no dia em que chegar a 21, eu vou entrar nu, balançando os culhões com a mão [risos]. Era isso, uma guerrilha urbana. Quando chegou a 18 eu já arriava a roupa e segurava meu pau com a mão, olhando sério para o povo, sem um sorriso. Acho que foi isso que sempre perturbou muito as pessoas, eu fazia todas aquelas loucuras sem um sorriso. Diziam assim: "Ah, é veado". Que veado? Eu não estava de gracinha, de quiquiqui, de risadinha, estava desafiando eles.
Como seus pais reagiram quando você estourou com a banda?
Olha, não reagiram. Não aconteceu nada. Meu pai era militar, mas ali a gente já tinha se entendido, já tinha ultrapassado aquela fase de ódio recíproco que foi até meus 17 anos. Ele ficou orgulhoso de eu usar o sobrenome dele, Matogrosso, soube que ele falava muito bem de mim para os outros. Ele só foi me ver quando eu estava fazendo "O Homem de Neanderthal" [seu primeiro show solo, em 1975] em São Paulo. Tomou um remédio para o coração e foi com a minha irmã. E não me falou nada, também não fiquei perguntando, querendo saber o que tinha achado. Mas ele comentou com minha irmã que me achou completamente diferente do que ele pensava, que agora achava que eu era um grande artista. Que bom, né?
Você recebeu propostas para uma volta da banda?
Neste ano, não. Alguns anos atrás, a prefeitura de São Paulo me ofereceu uma fortuna, mas eu disse não. Não tenho por que fazer isso. Não tem homenagem a quem não viu. Quem viu, viu, quem não viu, procure saber [risos]. É uma coisa minha, não tenho por que me voltar para o passado, estou aqui, fazendo.
A propósito, o que você achou do movimento Procure Saber?
Uma bobagem. Eles nem me chamaram, porque me conhecem, sabem que eu nunca apoiaria nenhum movimento contra a liberdade.
Por que você foi o único integrante do Secos & Molhados que prosperou em carreira solo?
Não sei. Talvez ele [João Ricardo, principal compositor da banda] não tenha prosperado porque parou naquela história de Secos & Molhados, não se desprende disso. Não estou falando mal, cada um é um, mas acho que ele ficou estacionado no Secos & Molhados. O Gerson [Conrad] também é muito preso nisso. Eu não sou preso ao passado, o que não significa que eu não tenha lembranças. Mas sou totalmente desapegado do passado e não tenho certeza do futuro, então procuro viver o agora como se fosse o último da minha vida, com meu trabalho em dia com o momento em que eu vivo.
Mas o passado sempre acaba aparecendo, não? Você participa de homenagens.
Mas aí estou voltando para um passado artístico que não é meu. Não sou apegado ao meu passado, mas é claro que reverencio a história da música brasileira, os grandes artistas que a música brasileira já nos ofereceu.
Falando em passado, você assistiu a "Cazuza, O Musical"?
Sim, fiquei impressionado com o rapaz que faz o Cazuza [Emilio Dantas]. Vi um ensaio em que não tinha nem figurino nem cenário. Quando ele falou a primeira palavra, já tomei um susto, parecia que o Cazuza estava ali falando. Quando ele cantou, eu fui ficando perturbado. Teve um momento em que eu viajei, fiquei tão tocado, tão envolvido com aquele menino que era idêntico ao Cazuza, que quando ele passou por mim tive um ímpeto de botar a mão no Cazuza. Aí eu rapidamente voltei a mim. Fiquei muito emocionado nesse dia, mas não por mim, pelo que tivemos, como as pessoas falaram. O que me tocou foi ver uma pessoa fazendo uma outra, que ele não conheceu, com o grau de intimidade com o personagem que me deixou confuso, a ponto de eu querer botar a mão no Cazuza.
E o que achou de se ver na peça?
Não gostei. É a mão do diretor [João Fonseca], ele colocou o ator que me interpreta [Fabiano Medeiros] como se eu fosse, na vida, como sou no palco. Não ando assim [estufa o peito e se coloca como se estivesse entrando em cena], conversei com o ator, que me disse que foi o diretor que pediu que ele ficasse assim. Até entendo, porque como as pessoas que não me conhecem têm dificuldade de saber que eu não sou o do palco, não vivo daquela maneira, então tem uma referência. Mas eu estranhei, não vivo assim, não me ponho assim na vida.
Como o João Araújo lidou com seu relacionamento com o Cazuza?
Acho que ele não lidou. Ele soube, sempre me tratou muito bem. Eu já o conhecia e, quando conheci o Cazuza na praia, me apresentaram como sendo o filho do João Araújo, em 1979, aí tivemos nossa história. Houve um acontecimento muito engraçado: a gente era muito louco, tomava muita droga, pintava o sete, e fomos para um sítio do João, eu, Cazuza e uma amiga da gente. Ficamos lá enlouquecidos, transávamos o dia inteiro, e tirávamos muitas fotos, o tempo todo. Na hora de vir embora, vimos que nossas máquinas estavam sem os filmes, tinham tirado. O Cazuza disse: "É meu pai, aquele mafioso" [risos]. Certamente os empregados estavam todos prestando atenção na gente, com ordens para não deixar passar nada que desse sujeira. Imagina essas fotos hoje em dia, o sucesso que seria!
Ele nunca falou nada, mesmo quando você se aproximou profissionalmente do Cazuza?
Jamais tocou no assunto. Ele sempre me tratou muito bem, sempre foi muito respeitoso. Quando dirigi o Cazuza, ele foi o único que sacou uma coisa que eu tinha feito, de prender o filho dele numa cruz de luz branca, por causa da doença, da situação dele. Eu sempre me dei bem com o João, e com a Lucinha também. Ela era mais doida, né? O João também era, todo mundo era naquela época.
Eram anos mais liberais?
Era normal tomar droga, todo mundo cheirava pó, todo mundo fumava. A única droga que eu gostei mesmo foi tirada de circulação, que era Mandrix. Cocaína eu odiei, nunca gostei, como não gosto de álcool. As pessoas falam que, se liberar, todo mundo vai usar, mas, meu Deus do céu, a cocaína, se eu quisesse usar, teria usado. O álcool é liberado e eu não bebo.
Você é a favor da descriminalização das drogas?
Até hoje, só aumentou o consumo, mesmo com todo o dinheiro que todos os países gastaram no combate. Acho que seria mais inteligente mudar essa estratégia.
Nos últimos anos você passou a atuar mais. Gosta de ser ator?
Olha, durante muitos anos eu me vi como um ator que cantava. Quando fui fazer o Secos & Molhados eu já fazia teatro, já tinha feito três peças onde tinha que cantar, dançar. Esse foi o meu treino, e foi o que eu trouxe para o Secos & Molhados.
Você é melhor ator ou cantor?
Acho que sou melhor cantor. Gostaria de ser um bom ator. Tenho feito mais cinema, mas implico com minha voz falando. Me incomoda, acho estranho. No "Luz nas Trevas" [2012], a Helena [Ignez, diretora] me pediu que eu falasse o mais grave possível, mas o meu mais grave não chega aos pés do ator que fez o Bandido da Luz Vermelha [Paulo Villaça, no filme original]. Agora, isso é questão de treino. Não sou um ator profissional, ainda mais de cinema, onde é "quanto menos, melhor". A minha manifestação artística é toda para fora, eu subo no palco e logo me coloco, boto o ombro no lugar, entro todo posto. E no cinema você não pode fazer isso, mas eu não sabia. Mas gostei, estou aprendendo. Esse último que eu fiz ["Poder dos Afetos", 2013], com a Helena, é o que estou mais natural.
Você guarda um grande acervo da sua própria carreira. O que pretende fazer com ele?
Eu gostava de ter, não era uma coisa com uma meta. Eu tinha todos os programas a que fui, mas perdi muitos. Não quero ficar com nada guardado, a única intenção que tenho é ir liberando tudo isso, não sei como. Mas vou tentar. Não quero que vire acervo, quero liberar para as pessoas verem, ser uma TV de mim mesmo.
Por que nunca tentou uma carreira internacional?
Não me interessa. Faço shows fora do Brasil, mas não tenho intenção de ter uma carreira internacional. É chato segurar isso aqui, imagina ir para o mundo segurar esse rojão. Não tenho paciência, teria de me submeter muito, não sou afim. Eu gosto de cantar, mas tudo o mais que está envolvido é chato. Empresário, viajar, nhe-nhé [faz cara de desgosto], é cansativo. Mas eu ainda gosto de cantar, então suporto. Mas suporto aqui, não suportaria numa dimensão mundial, pelo amor de Deus, ia cortar meus pulsos. Não me interessa, não tenho essa ambição na minha vida, nem de dinheiro nem de que o mundo se curve a meus pés.
Você viu a imitação que o Marcelo Adnet fez de você no "Fantástico"? Como você encara as imitações?
Não vi, mas me disseram que ele fez muito bem. Na época dos "Trapalhões", as pessoas dizem que ele [Renato Aragão] debochava de mim, mas nunca me senti assim. Eu via que ele fazia graça em cima do personagem, mas ria muito com aquilo, me divertia, nunca me senti ofendido.
Como você viu personalidades como Daniela Mercury e Maria Zilda assumindo sua homossexualidade?
Há um movimento de liberação dessa questão, mas eu acho muito normal, na hora em que existe uma tentativa de se abrir as mentalidades, que o lado que quer fechar as mentalidade se manifeste. Então aquele homem lá, aquele deputado [Marcos Feliciano, pastor e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados], é um representante dessa coisa retrógrada. Mas é assim mesmo, não se caminha só para a frente. E, na medida em que todo mundo se expõe, eu acho interessante. Acho interessante não ter nada oculto, ele vir e dizer que é contra. Agora, não pode é dar o poder a ele de determinar os direitos das pessoas, porque ele é totalmente incapaz de estar no cargo que está.
Você, que está atento aos sinais, o que eles te dizem?
Me dizem que, daqui para frente, tudo vai ser diferente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...