terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ney Latorraca renasce em especial na TV 'Alexandre e Outros Heróis'

"Volteeei, volteeeei", é o que diz em tom de troça o velho Alexandre, enquanto se levanta da cama após ser dado como morto. A fala é do protagonista do especial "Alexandre e Outros Heróis", que vai ao ar no dia 18, após "Amor à Vida", na Globo, mas poderia muito bem servir para a vida real de seu intérprete, Ney Latorraca, 69 anos. Um ano após ter deixado o hospital, onde permaneceu quase 50 dias internado por causa de uma inflamação no peritônio que o fez passar por cirurgia e o deixou sem andar nem falar, Latorraca está de volta à TV. Este é seu primeiro protagonista após o Solano da série "S.O.S. Emergência", de 2010, e sua estreia ao lado de Luiz Fernando Carvalho, diretor com quem há muito queria trabalhar. Na produção, que toma como base dois contos do livro "Alexandre e Outros Heróis", de Graciliano Ramos, Latorraca vive o contador de histórias, morador de uma casa simples à beira do rio, que mistura verdade e mentira ao narrar causos para sua plateia fiel, formada pela mulher e vizinhos. "A sensação que tenho é a de renascer com esse trabalho. E o Luiz Fernando põe isso no especial", diz. "Ele criou uma cena em que falo 'Não me leva agora. Não! Espera!'. E eu gritando, 'mãe, mãããããe!'. Nossa, é muito forte isso, mexeu comigo." Durante o período em que ficou internado, Latorraca diz ter se lembrado muito de seus pais. E temeu o pior. Quatro dias após a cirurgia, se sentia completamente debilitado. "A fala não vem, mas a cabeça fica com tudo. Você quer escrever e não pode, não dá nem para fazer mímica", diz. Quando a fisioterapeuta lhe disse que o faria andar, achou loucura. Mas foi, usando andador. "Queria voltar logo. Tive medo de cair. Nessa hora, você vira um bebê."

VIGOR
O convite para o papel "foi um presente", como diz Latorraca. Mas fazê-lo exigiu cerca de três meses de trabalho, em um período em que ele recuperava seu vigor. Além de fazer exercícios de interpretação que incluíram se enrolar numa cortina junto com o ator Flávio Bauraqui, no Projac, no Rio, Latorraca passou dez dias hospedado numa fazenda em Pão de Açúcar, a quatro horas de Maceió (AL), para onde levou um estojo de remédios. Para ir à locação, atravessava o rio São Francisco de balsa. Ele conta que o trabalho o revigorou. Numa cena, precisava ficar no rio, embaixo d'água. O diretor disse para permanecer submerso o quanto conseguisse. "Repeti umas 500 vezes, adorando aquilo", diz, rindo. Afirma, ainda, não ter se importado em usar uma lente de contato que não o permitia ver nada com o olho esquerdo --é ela que dá ao personagem sua aparência de caolho. Segundo o ator, Carvalho conduziu as gravações com delicadeza, sem a pressão do "atenção, ação, gravando!", mas trouxe desafios, como as cenas organizadas como se fossem partituras, com indicações musicais que determinariam o tom das interpretações --"allegro", "andante" etc. "Ele me tirou totalmente da zona de conforto", afirma. Carvalho diz que o especial vai virar série, com gravações previstas para o segundo semestre de 2014. Já tem outros nove contos de Graciliano adaptados e quer ter, de novo, Latorraca no papel.

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