quinta-feira, 29 de maio de 2014

Tom Cruise acerta o tom em ficção científica No Limite do Amanhã

Faça as contas: nas incontáveis vezes nas quais Tom Cruise foi responsável por salvar a humanidade, quantas delas foram realmente boas? Satisfatórias? Interessantes? O astro não vem acertando na escolha dos papeis na última década, mas, desta vez, foi diferente. No Limite do Amanhã, que estreia no país nesta quinta-feira, 29, sobressai diante das obras recentes do ator de forma criativa, absorvendo referências de ficção científica a jogos de videogame como uma esponja, sem perder a originalidade. Feitiço do Tempo, estrelada por Bill Murray em 1993, é a influência mais básica que salta aos olhos do público. Um homem preso em um dia, na angústia de reviver todas as mesmas situações por vezes infinitas. Cruise, contudo, coloca ação e alienígenas assustadoramente maleáveis, como polvos ágeis e mortais. Somente ele, Murray ou Cruise, sabe o que se passa ali e precisa lidar com a repetição infinita. No caso de Cage (Cruise) tudo ganha ares mais apocalípticos quando a humanidade está prestes a ser devastada pelos aliens. As referências à Segunda Guerra Mundial transbordam por todos os lados.

O Dia D, conhecida data na qual os soldados norte-americanos invadiram a praia da Normandia e iniciou a verdadeira vitória dos Aliados contra a Alemanha nazista, é recriado sem a tensão dos primeiros minutos de O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, mas não vacila ao explorar uma experiência aterradora. Neste Dia D do futuro, na mesma praia da Normandia, não são tiros de fuzil, o peso da água salgada na roupa, a dificuldade de se locomover na areia que dão a sensação atordoante, mas a forma como o protagonista Cage é jogado no meio daquilo tudo. Um homem sem treinamento, vestindo uma armadura de exoesqueleto com qual ele sequer sabe atirar. Somos jogados em um campo de batalha mortal juntamente com Cage, inúteis, imprestáveis e fadados a morrer. E morremos – ou ele morre, no caso, e isso não é spoiler algum, ok? O que acontece é que, no derradeiro segundo de vida, Cage acaba por matar um precioso alienígena, ou mímico, como são chamados no filme, e engatilha um evento raríssimo de prisão temporal.

Cada vez que Cage morre, ele volta para o início do dia anterior. Enjaulado nestas 24 horas, o soldado expõe a fragilidade humana diante de uma guerra. Tropas Estrelares, de Paul Verhoeven, também transparece aqui e acolá, principalmente na escolha pelos trajes de guerra, mas falta a Liman a sagacidade e o veneno do diretor de Robocop para a sátira, mas cabe ao público ligar os pontos e perceber a crítica à guerra escondida ali. Soldados mortos aos montes, a frieza do comando e, principalmente, a constatação de que mesmo décadas mais tarde daquele 6 de Junho de 1944, na Normandia, as guerras são uma repetição tão literal quanto a prisão do tempo na qual o personagem de Cruise está aprisionado. No Limite do Amanhã se destaca por dois pontos ligados entre si. O primeiro é a repetição da morte de Cruise – quem nunca quis que ele morresse ainda no começo de alguns de seus filmes? Com isso, o filme de Liman entra no que podemos chamar de “modo videogame”. O longa funciona como um jogo extremamente difícil e sem “game over”. Jogamos tanto que sabemos de onde virão os inimigos, a hora certa de pular para a direita, abaixar, e por aí vai. O filme é enfraquecido com sentimentalismo clichê inevitável. A personagem de Emily Blunt, Rita, também passou pela experiência de volta no tempo de Cage (Cruise), mas perdeu o “mojo”. A química entre eles funciona, principalmente quando ela atira em Cage para que o dia seja resetado, mas torna-se anticlimática quando a ideia central ali é derrotar os alienígenas. Ainda assim, Cruise acertou tanto nessa ficção científica que até gostaríamos que ele tivesse a habilidade adquirida por Cage e, ao longo da carreira, repetisse o mesmo dia até chegar a um resultado satisfatório como em No Limite do Amanhã – certamente teria nos poupado alguns filmes medíocres lançados nos últimos anos.

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