Ailton Graça vive travesti em "Império": "Só uso salto, pedi para abolir tênis"

Prepare-se para ver Ailton Graça de um jeito completamente diferente de tudo que ele já fez. Nos próximos capítulos de "Império", o ator, que saiu de "O Caçador" há pouquíssimo tempo, assume o posto de Xana Summer, personagem que promete levantar bandeiras, divertir e informar. "Eu quis propor algo um pouco mais agressivo. Isso é o motivo da maquiagem, da homenagem a Madame Satã, a Rogéria... É a caricatura, mas com nobreza de espírito e de alma", disse ele ao iG. Xana se veste como mulher, modula a voz, tem a sobrancelha fina e enfrenta o preconceito diariamente. É bem diferente do que a TV tem abordado quando o assunto é relação homossexual. "Félix e Niko é uma coisa montadinha, é quase... Eu adoro, acho que a interpretação foi fantástica, mas ainda tinha uma coisa do politicamente correto. Acho que depois do beijo do Félix a gente pode ousar um pouco mais, pode usar mais tinta, e colocar a realidade mais nua e crua como ela realmente é", opinou referindo-se à novela "Amor à Vida", de Walcyr Carrasco. Na trama, o autor Aguinaldo Silva criou Xana como dona de um salão em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, local onde é respeitada. O problema é quando Xana ultrapassa os muros de onde se sente segura. É aí que a mensagem social entra. "Tenho que fazer de verdade. Com humor, mas sem perder o drama". Para o "fazer de verdade", quando o assunto é a caracterização, Ailton não brincou em serviço: tratou de comprar dois saltos e tem treinado bastante em casa. Quer saber? É só conferir o papo abaixo:

iG: Você saiu agora de "O Caçador" e caiu em outra coisa completamente diferente, né?
Ailton Graça: To-tal-men-te diferente (risos). Não é bom isso? Eu gosto dessa mudança radical. Não sei o que vai ser ainda, não tenho a menor ideia, mas estou me divertindo muito fazendo. É uma composição totalmente diferente do que eu já fiz é do que tenho visto, que é um gay quase politicamente correto. Eu quis propor algo um pouco mais agressivo. Isso é o motivo da maquiagem, da homenagem a Madame Satã, a Rogéria... É um pouco mais vertical nesse sentido. É a caricatura, mas com nobreza de espírito e de alma.
iG: A caracterização, pelo que vi, é bem pesada. Quanto tempo você passa na maquiagem?
Ailton Graça: São duas horas pesadas para me caracterizar. Comprei dois saltos que estão lá em casa. Ando de salto o tempo todo (risos). Estou falando sério! Pedi para a Globo para fazer aula de stiletto (dança de salto), porque quero acentuar cada vez mais os trejeitos. Afinal, a Xana Summer tem que fazer valer esse nome. É a Donna Summer mesmo, uma das grandes divas. Ela vai se sentir a Beyoncé, a Shakira, e eu queria o gestual para realizar isso.
iG: Mas você usa salto na novela o tempo todo?
Ailton Graça: Eu SÓ uso salto. Falei para abolir o tênis. Não tem tênis (risos). Vou sofrer, né? E eu que tenho o cruzado rompido no joelho! Eu terminei agora de fazer 'O Caçador' e estava fazendo artes marciais, e rompi. Agora só opero depois da novela, então estou abusando do salto.
iG: E a sobrancelha fake?
Ailton Graça: Eu cubro essa sobrancelha, e a gente propôs um novo formato, antigo, que as pessoas faziam na colher. Colocava a colher no rosto e riscava a sobrancelha. Eu estou pegando todas essas coisas para levar pra personagem, para fazer de maneira diferente. É uma homenagem mesmo para todas as divas do teatro de revista, para todas as pessoas que passaram pela ditadura, os homossexuais que se montavam para ter esse enfrentamento social para mostrar que existiam questões que tinham de ser abordadas naquela época. Hoje, o que os grupos LGBT estão colhendo é de uma luta lá de trás. Por isso que quis fazer a maquiagem mais carregada mesmo, que apontasse para esse lado. Não quis nada de peito. Ele é um cara que tem a alma feminina com esse corpo mesmo, com as pulseiras, o lenço na cabeça. Na época não tinha essas vitaminas de hoje e ele tinha que modular a própria voz para trazer o tom agudo.
iG: Qual é a trama dele, os conflitos?
Ailton Graça: É de aceitação social. Na comunidade que ele está, está tudo bem. As pessoas não enxergam bem essa caricatura que ele é. Mas vai ser interessante para o grande público, porque existem conflitos, não é só gracinha e humor. O nosso núcleo vai caminhar com outros núcleos que vão apontar o preconceito para esse personagem, e isso vai colocar em pauta a intolerância.

“Depois do beijo do Félix, a gente pode ousar um pouco mais, pode usar mais tinta, e colocar a realidade mais nua e crua como ela realmente é
iG: Ele tem um amor?
Ailton Graça: Não, mas vai citar um que já teve, e um que ele provavelmente vai se apaixonar na novela. Isso também é legal. Como será que é ver esse personagem se apaixonando? Félix e Niko é uma coisa montadinha, é quase... Eu adoro, acho que a interpretação foi fantástica, mas ainda tinha uma coisa do politicamente correto. Acho que depois do beijo do Félix a gente pode ousar um pouco mais, pode usar mais tinta, e colocar a realidade mais nua e crua como ela realmente é.
iG: Você conheceu muitas pessoas como Xana na sua pesquisa?
Ailton Graça: Demais. Eu vou a encontros LGBT para conversar com essa turma, para saber os conflitos reais que a gente pode apontar na novela, e encontrei muita coisa interessante. Conheci duas pessoas, uma delas um rapaz de São Paulo, que desde os 10 anos eles assumiu sua homossexualidade para a família e nunca sofreu nada entre a família. O pai dele era caminhoneiro! Quem ia brigar na escola quando o filho era hostilizado era o pai! Ele usa só salto desde os 12. O pai construiu uma casinha para ele no fundo do terreno deles para ele se encontrar com os namorados para evitar violência na rua. Então, é possível. É totalmente possível! Por isso que tenho que fazer de verdade. Com humor, mas sem