quarta-feira, 2 de julho de 2014

SADOVSKY-Tudo que você queria saber (e que eu já sei) sobre X-Men: Apocalypse

Bryan Singer iniciou sua conta no Instagram de maneira… sutil. Uma folha de papel, no cabeçalho, X-Men: Apocalypse. Pronto, começa assim a contagem regressiva para a próxima aventura mutante nos cinemas. O tratamento, datado de 6 de junho, é assinado por Singer e Simon Kinberg (responsáveis pelo roteiro de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido), mais Michael Dougherty e Dan Harris (que escreveram X2 e a cena brilhante com Mercúrio ajudando a livrar Magneto da prisão na aventura mutante ainda em cartaz). Entre o pouco que dá para ver, imagina-se que o filme começa perto do Rio Nilo, no Egito, e cita os Quatro Cavaleiros. Do Apocalypse. Ok, a essa altura você precisa de uma bula para entender o que está acontecendo – ou vai acontecer.

Antes de mais nada, é bom ser mais técnico com a coisa: um tratamento de roteiro é, a grosso modo, um argumento detalhado, que percorre todos os pontos da história para que os roteiristas consigam visualizar a fluidez da narrativa e se todos os pontos estão ligados. Daí, parte-se para um primeiro draft – que seria o primeiro roteiro, que será dissecado, orçado, revirado, torcido e aprovado pelos homens do dinheiro (executivos da Fox, que banca a brincadeira) até que todos concordem com um shooting draft, o roteiro final que será traduzido em filme. X-Men: Apocalypse já tem data marcada para chegar aos cinemas, 27 de maio de 2016. A trama, até agora, é um mistério total. Se você ficou até o fim dos créditos de Dias de Um Futuro Esquecido, foi presenteado com a visão de um ser enigmático, cercado por quatro cavaleiros encapuzados, sendo louvado por uma multidão que canta seu nome, En Sabah Nur (ou “O Primeiro”), enquanto ergue, usando seus poderes, as pirâmides do Egito. Aquele é Apocalypse, o mais velho mutante na Terra, o primeiro homo superior. “Dias de Um Futuro Esquecido não arma o palco para Apocalypse: arma possibilidades”, disse Singer sobre o teaser. “O que vamos descobrir (em 2016) é que eventos neste filme tornaram Apocalypse possível… Vamos lidar com mutações na antiguidade. Como os humanos enxergariam um mutante? Como os mutantes enxergariam os humanos? Estamos lidando com deuses, com seres grandiosos… E se um deles sobrevivesse e descobrisse um meio de chegar a nosso mundo?” Quem procurar pistas nos quadrinhos vai perceber que, de fato, o “universo cinematográfico mutante” é um animal diferente. Apesar de emprestar elementos dos gibis, todos os filmes protagonizados pelos X-Men traçam caminhos diferentes de sua versão em papel. Não que não exista uma inspiração clara. X2, que Bryan Singer fez 2002, aborda temas semelhantes ao da graphic novel God Loves, Man Kills (no Brasil, O Conflito de Uma Raça), com ênfase nos mutantes como minoria perseguida. X-Men: O Confronto Final, este dirigido por Brett Ratner, tem pistas da “cura mutante” bolada por Joss Whedon (ele mesmo, diretor de Os Vingadores) quando escreveu duas dúzias de edições de Astonishing X-Men – além de uma mal sucedida exploração da Saga da Fênix Negra. Wolverine Imortal bebe da primeira minissérie do personagem, de Chris Claremont e Frank Miller.

E Dias de Um Futuro Esquecido é inspirado no arco clássico de Claremont e John Byrne. Tudo bem parecido; tudo radicalmente diferente. Nos quadrinhos, Apocalypse foi criado pela roteirista Louise Simonson e pelo desenhista Jackson Guice para a quinta edição de X-Factor, publicada em maio de 1986. Essa equipe trazia os X-Men originais – Ciclope, Jean Grey, o Fera, Homem de Gelo e o Anjo – que, agindo como “caçadores de mutantes”, protegia jovens que acabaram de descobrir seus poderes. Logo de cara deu para perceber que Apocalypse não era só mais um vilão. Aos poucos sua origem foi revelada: nascido há cinco milênios, En Sabah Nur descobre ser imortal. Educado para acreditar na sobrevivência do mais forte, ele ressurge em diferentes eras da humanidade, manipulando líderes e fomentando conflitos, fazendo assim uma aceleração da seleção natural darwinista. Ao acordar na era moderna, ele convoca seres poderosos, geralmente mutantes, para compor sua guarda pessoal, seus Quatro Cavaleiros do Apocalypse: Fome, Pestilência, Guerra e Morte – este, o próprio Anjo dos X-Men, alterado fisica e mentalmente pelo vilão. X-Men: Apocalypse, o filme, será consequência direta de Dias de Um Futuro Esquecido – e do novo futuro estabelecido pela interferência de Wolverine nos anos 70. A saga das HQs Era de Apocalypse (que envolve realidades alternativas, viagem no tempo e destruição em escala global) é uma inspiração. Ainda assim, é cedo para dizer como Bryan Singer e seu time vão incorporar elementos dos quadrinhos na trama. De todos os X-Men originais, apenas o Fera (Nicholas Hoult) já está estabelecido na atual cronologia.

O elenco de Apocalypse será composto pela encarnação mais jovem da equipe, mantendo James McAvoy, Michael Fassbender e Jennifer Lawrence em jogo. O diretor também sugeriu que Hugh Jackman fará parte da trama – agora ambientada nos anos 80. Será que a introdução de Logan como parte da equipe será diferente da versão que o próprio Singer fez em 2000 com o primeiro X-Men? Será que, depois dos eventos de Dias de Um Futuro Esquecido, a ordem é ignorar tudo que aconteceu com os mutantes no cinema e explorar uma segunda linha temporal, mais ou menos como J.J. Abrams fez com seu Star Trek? A essa altura, é fácil assumir que Bryan Singer será o diretor de X-Men: Apocalypse. A dúvida surgiu quando ele foi afastado de toda a divulgação do filme anterior para “proteger” o lançamento da publicidade negativa atraída pelo processo sofrido por Singer, acusado de molestar sexualmente um jovem na virada do século (as evidências foram refutadas, e o caso, derrubado).

Mas com Dias de Um Futuro Esquecido amealhando, até o momento, 714 milhões de dólares em todo o mundo (é o mais lucrativo de todos os X-Men e a maior bilheteria de 2014 até agora, mas vai ficar na poeira ante o rolo compressor Transformers: Era da Extinção), não há dúvidas que a Fox vai entregar seu produto mais precioso ao diretor. Pelo tamanho de Apocalypse, é preciso de alguém acostumado a lidar com pressão, com o elenco gigante e que possua o necessário equilíbrio entre intimismo e espetáculo. O que, a essa altura, Bryan Singer tira de letra.

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