segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Aos 92, Bibi Ferreira revela: “Desde muito jovem aprendi a não sonhar”

A grande dama dos palcos brasileiros. Aos 92 anos, Bibi Ferreira encerra o ano após grande sucesso de crítica com o espetáculo “Bibi Ferreira canta repertório Sinatra”, que ficou em cartaz no Teatro Renaissance, em São Paulo, até mês passado. Com humor afiado e arrancando risos da plateia, Bibi interpretou 15 canções do cantor sob a regência de Flávio Mendes e orquestra. Em entrevista ao Glamurama, a atriz, que precisou cancelar as últimas apresentações – até este domingo (14) – por ter se sentindo mal, falou sobre sua carreira, os prós e contras da idade e ainda revelou que aprendeu desde muito cedo a não sonhar. “Querida, você pode falar alto e devagar? Porque esse telefone faz um barulho desagradável, fica um ruído. É um telefone metido a besta, todo modernão, não sei nem se estou com ele no lugar certo (risos).” Confira a entrevista, em alto e bom tom! Por Denise Meira do Amaral é eterno. Apenas o infinito.


Glamurama – Em 73 anos de carreira, a senhora continua nervosa ao subir no palco?
Bibi Ferreira – Sempre. Muito nervosa. Acho que é o senso da responsabilidade. O dia em que você perde essa consciência, não vale mais a pena subir ao palco. Você tem a obrigação de levar uma coisa limpa e perfeita para o público que pagou para te ver.
Glamurama – O que você puxou dos seus pais [o ator Procópio Ferreira e a bailarina espanhola Aída Izquierdo]?
Bibi Ferreira – Acho que tenho a voz do meu pai e a disciplina da minha mãe.
Glamurama – Você foi a primeira mulher no Brasil a fazer um espetáculo só com músicas interpretadas por Sinatra. É uma ousadia?
Bibi Ferreira – Sempre é uma ousadia qualquer coisa que envolva o Sinatra. Mas o repertório é fabuloso, foi mais isso que me empurrou a fazer o show. O repertório dele é muito popular, muito bom.
Glamurama – O Sinatra é o seu cantor preferido?
Bibi Ferreira – Sim. Gosto muito dele. Ele é maravilhoso, a voz dele é perfeita, tem uma tessitura muito ampla, vai das notas agudas às graves sem a gente sentir. Além do ótimo repertório, ele tem muito bom gosto.
Glamurama – Quem mais gostaria de interpretar?
Bibi Ferreira  – Vou interpretar canções do Dorival Caymmi, um show só com músicas dele. Mas vai demorar um pouco porque, antes disso, ainda vamos levar o Sinatra ao Rio, depois de volta pra São Paulo. A gente nunca sabe ao certo quanto tempo esses shows duram.
Glamurama – Você se considera uma atriz-cantora ou uma cantora por completo?
Bibi Ferreira – Eu sou uma atriz que canta. Sem grandes pretensões de ser uma grande cantora. Mas eu afino, o que é o mais importante.
Glamurama – Quem são o melhor ator e a melhor atriz do Brasil, na sua opinião?
Bibi Ferreira – O melhor eu não sei. Mas existem os atores bons. O Tony Ramos é ator pro mundo todo. Tem o Mateus Solano, o Alexandre Nero. Entre as atrizes, têm a Fernanda [Montenegro] e a Fernandinha [Torres], que está se tornando uma atriz excelente, e a Andréa Beltrão,  que ainda precisa de melhores oportunidades.
Glamurama – Quais são os prós e os contras da idade?
Bibi Ferreira – A responsabilidade, com a idade, é cada vez maior. Ter um nome como o meu é muita responsabilidade. Fisicamente não é tão ruim não, porque sou muito disciplinada. Não bebo, não fumo, não falo muito, telefone é proibitivo pra mim. Agora não, porque estou dando uma entrevista, mas eu não sou de ficar de nhe-nhe-nhem no telefone. Também não tomo gelado, há muito tempo não sei o que é um sorvete. Um dia me serviram um sorvete de framboesa. No dia seguinte, cadê a minha voz? [Imita uma fala muda, rouca] Não teve espetáculo. Não estou mais acostumada com o gelado.
Glamurama – Você já disse que sua vida pessoal é desagradavelmente chata. Por quê?
Bibi Ferreira – Porque minha vida é muito igual. Tenho uma rotina como a de todo mundo. Acordo, a minha assistente vem me dizer quais são as novidades, o que eu tenho que fazer no dia seguinte. Primeiro eu ouço as ordens, depois me arrumo e começo a trabalhar. É um trabalho árduo. Preciso estar sempre muito bem arrumada, maquiada, tem sempre fotógrafos na minha rotina. A gente tem também de estar sempre bem preparada e com bom humor.
Glamurama – Por que você fez tão poucos trabalhos na TV e no cinema?
Bibi Ferreira – No cinema eu fiz só um filme na Inglaterra. Porque o cinema não depende de mim, do meu corpo, depende também do som, da edição, são tantos terceiros… Eu não penso em fazer cinema. Gosto de dar entrevista pra TV, mas participar da programação diária, estar todos os dias na TV, eu não gosto. E a TV também não depende de mim, depende do ângulo que foi filmado, da equalização. Fica tudo muito na mão da técnica. No palco, você está à custa de si própria. Mas eu gosto de assistir TV, aliás, assisto muito.
Glamurama – A crítica é sempre muito favorável a você…
Bibi Ferreira – Na minha vida inteira eu nunca tive uma crítica negativa. O que eu vou fazer? Outro dia, teve um crítico que disse que eu não dava a nota exigida da tônica. Eu disse que ele estava certo. Se eu fosse dar a tônica, iria desafinar. Não chegou nem a ser uma crítica.
Glamurama – Qual é o seu sonho?
Bibi Ferreira – Eu não tenho sonhos. Tudo o que eu fiz na minha vida foi por necessidade. Desde muito jovem eu aprendi a não sonhar. Aprendia a realizar. O que é um sonho? É um carro? Todo mundo tem um carro. Esse negócio de sonho é uma coisa muito boba. Nos dias de hoje ter um sonho? Vou falar da minha vontade, então. A minha vontade é que Deus me dê sempre essa saúde que eu tenho hoje. Com essa saúde, tenho todos os meus sonhos realizados.
Glamurama – A senhora já casou muitas vezes, né? O que é o amor?
Bibi Ferreira – Acho que me casei umas cinco vezes. Mas se você dividir por minha idade, e eu já tenho quase cem anos, dá uns 20 anos com cada um (risos). Pra mim o amor é vadio. Ele é preguiçoso. Ele vem, descansa um pouco, depois vai embora, depois vem de novo e vai embora. É uma coisa vadia. Não acredito no amor eterno, não acredito no casamento. Nada pra mim

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