"Enjoei de atuar", diz Miguel Falabella no camarim do teatro em que apresentava o musical "Alô, Dolly!", no Rio. "Como ator, comecei a cansar de trabalhar."
Ele chega com o musical aos palcos de São Paulo, no dia dois de março, depois de uma temporada de quatro meses no Rio. E está no ar com a série "Pé na Cova", de que também é roteirista, na Globo. No canal de reprises Viva, surge quatro vezes por semana como Caco Antibes, de "Sai de Baixo", e o corretor Mario Jorge, de "Toma Lá, Dá Cá".
No mesmo canal, em março, vai aparecer ainda em outro repeteco, como o galã "serial killer" de "As Noivas de Copacabana".
Em abril, estrela um especial com episódios inéditos de "Sai de Baixo", ao lado de quase todo o elenco original.
Mas, no momento em que está mais em evidência, o que ele quer mesmo é desaparecer. "'Pé na Cova' deve ser meu último papel na TV." No teatro, vai atuar cada vez menos.
Escapar dos holofotes não é o mesmo que abandonar o mundo artístico. Miguel só descobriu que esse mundo tem opções mais atraentes para ele. "Gosto do meu escritório, do meu computador. Perco muito tempo atuando. Quero escrever."
Entre os novos projetos como escritor e diretor estão criar musicais originais e fazer novas versões de clássicos, como "Annie", voltar a fazer cinema ("de preferência como o Almodóvar, que tem o controle de tudo") e escrever um romance sobre a história da própria família (a avó foi assassinada pelo cunhado; a mãe, professora, foi presa durante a ditadura). Em São Paulo, pretende lançar um musical em homenagem à cidade, "Memórias de um Gigolô".
A MORTE LHE CAI BEM
Aos 55, Miguel faz parte do entretenimento da família brasileira há mais de 30 anos (estreou na Globo em 1982), o que inspira no público uma espécie de intimidade com o artista.
No intervalo do musical, três senhoras conversavam no café. O assunto era ele. "Como é bom ator", diz uma. "E ótimo cantor", completa a outra. "Quanto mais velho, mais charmoso ele fica", suspira a terceira.
Miguel gargalha quando ouve a história. Tudo indica que a descrição de galã usada pelo seu personagem mais marcante, Caco Antibes, de "Sai de Baixo" ("loiro, nórdico..."), continua lhe caindo bem. Acata os elogios com um sorriso e parece não se incomodar com o aposto "mais velho".
Fazer a série "Pé na Cova", sobre uma família dona de uma funerária no subúrbio do Rio, tem a ver com os anos que passam. "Eu queria muito falar sobre a morte. A gente vai ficando mais velho, a partir dos 50, e a morte vira uma realidade. O fim... Não pensava nisso com 30 anos."
Traduzir, dirigir e encenar "Alô, Dolly!" também tem a ver com amadurecer. "Quando eu tinha oito anos, minha avó me levou para ver essa peça. Fiquei alucinado e decidi que era aquilo que faria pro resto da vida. Só não fiz o musical antes porque... Você sabe como é a vaidade dos atores", diz, enquanto come pedaços de uma maçã já picada em um Tupperware.
"A gente pensa em projetos que nos coloquem em destaque. E meu papel é delicioso, mas é um coadjuvante", diz ele, acostumado a ser protagonista de quase todos os projetos de que participa. Na versão do musical da Broadway, a estrela é Marília Pêra (que também está em "Pé na Cova").
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