• Filme, que estreou neste fim de semana, procura dar toques de humor a protagonista
  • Reconstrução do super-herói integra estrátégia para dialogar com diferentes públicos
  • Estratégia funcionou com Homem de Ferro, outro personagem secundário da Marvel

Thor


Assistir a uma sessão de "Thor" ajuda a entender não só a megaprodução que estreou neste fim de semana, mas também o público que ela tenta atingir. Basta observar com cuidado.Vi o filme nessa sexta-feira, num shopping de São Paulo. Sessão das 18h30. Versão dublada, por opção minha. Apesar do horário, sala com mais da metade das cadeiras ocupadas.Trailers. A maioria dava um tira-gosto das novas adaptações de super-heróis: "X-Men - Primeira Classe", da mesma Marvel Comics de Thor, e "Lanterna Verde", da concorrente DC Comics.Terminada a entrada, o cardápio principal. As cenas iniciais já sinalizavam que um dos protagonistas do filme seriam não os atores, mas os efeitos especiais.
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A história inicia em Asgard, reino além da visão humana onde moram os deuses nórdicos. Cenário impressionante de ser ver, independentemente do gênero do filme.As divindades são comandadas pelo poderoso Odin (Anthony Hopkins).Os minutos iniciais mostram o conflito dele com os homens de gelo e apresentam seus dois filhos-herdeiros: o orgulhoso Thor (Chris Hemsworth) e o ardiloso Loki (Tom Hiddleston).Já adulto, foi a impulsão de Thor que  levou a uma retomada do confronto com os seres de gelo. E que acarretou sua expulsão de Asgard. O confinamento seria na Terra.
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É aí que se percebem bem claramente as semelhanças com a adaptação de outro personagem do segundo escalão da Marvel Comics, Homem de Ferro.De tão bem-sucedida, a produção ganhou uma sequência e projetou o personagem para um público muito diferente do dos quadrinhos de super-heróis.
A fórmula de Homem de Ferro era ter efeitos especiais de primeira, um elenco afiado, um protagonista carismático, que mescla momentos de humor e de ação.Assim como o Tony Stark vivido por Robert Downey Jr., este Thor dirigido por Kenneth Branagh põe o poderoso herói em situações inesperadas e, por isso, cômicas.
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O humor nas histórias em quadrinhos de Thor, quando havia, era restrito a personagens coadjuvantes.
Criado em 1962 por Larry Lieber, Jack Kirby e Stan Lee (sim, ele faz a tradicional ponta no filme), o herói sempre foi representado de forma nobre, inclusive na fala.O personagem passou por vários escritores ao longo das décadas. O protagonista do filme é uma amálgama de vários deles, inclusive no visual, baseado numa versão mais recente.Mas o humor é novo. E torna o Thor do cinema um personagem mais interessante que o dos quadrinhos, assim como o Homem de Ferro.
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Mas não se pode esperar muito mais que isso. Trata-se de um roteiro simples, camuflado pelo roteiro simples e por rostos de alguns atores conhecidos.Nem a presença da oscarizada Natalie Portman sobressai. Constrói-se um forçado interesse do deus nórdico por ela, que se torna mais um rosto na produção, como os demais.É daqueles filmes para não pensar muito. É para sentar e deixar se envolver pelos efeitos especiais, o humor e os efeitos. E só.A fórmula funcionou com Homem de Ferro. Tem tudo para ser repetida com "Thor". A recepção junto à grande massa é quem dirá.
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A plateia comum de filmes de ação era a maioria, pelo menos na sessão a que assisti. Como dito no início destas linhas, basta observar com cuidado.Terminado o filme, a maioria se levantou para sair. Permaneciam nas sala uns poucos casais de namorados, como de praxe, e um grupo de oito pessoas, eu entre elas.
Eram os leitores de quadrinhos, que sabiam que as adaptações da Marvel dialogam entre si, como nos quadrinhos, e que haveria pistas após os créditos.Dito e feito: aparecia o Nick Fury de Samuel L. Jackson para indicar o caminho do roteiro de "Vingadores", com Thor e Homem de Ferro. Não falo o que é para preservar a surpresa.