Andre Barcinski
Semana passada, entrevistei para a Folha Olivia Harrison, 64, viúva
do Beatle George Harrison (1943-2001) e co-produtora do documentário
“George Harrison – Living in the Material World”, dirigido por Martin
Scorsese.
Como a entrevista rolou de última hora, não tivemos muito espaço para
o texto no jornal. Por isso, resolvi postar aqui a íntegra. Aproveite…
- Depois que George morreu imagino que a família deva ter recebido muitos convites para fazer um filme sobre ele…
- Sim, muitas. Até fiquei com medo de que outra pessoa fizesse um filme antes de nós.
- E como surgiu a idéia de fazer o filme com Scorsese?
- Bom, eu vi “No Direction Home” (documentário de Scorsese sobre Bob
Dylan), e achei sensacional. Mas nunca imaginei que ele se interessaria
por contar a história de George. Mas temos um amigo em comum que
mencionou a idéia do filme para Marty e ele ficou muito empolgado.
Depois, percebi que fazia todo sentido Marty se identificar com George.
Eram pessoas muito parecidas…
- Em que sentido?
- São pessoas muito espirituais, grandes artistas que sempre buscaram
objetivos maiores em suas vidas, um sentido mais amplo e profundo para
suas vidas. Ambos tiveram sucesso e não se iludiram com isso. E ambos
perderam muitos amigos, vítimas do sucesso.
- É impressionante a quantidade de cenas raras e inéditas no filme. Vieram de arquivos pessoais?
- A maioria, sim. O que pouca gente sabe é que George estava fazendo
um filme autobiográfico quando morreu (em 2001, de câncer). George dizia
que o filme seria o primeiro documentário sobre uma pessoa que não
apareceria no filme, porque estava atrás das câmeras (risos). Por isso
George estava filmando tudo que acontecia com ele: queria usar as
imagens em seu próprio filme.
- Scorsese usou todas as imagens inéditas, ou restaram algumas?
- Sobrou muita coisa. Algumas cenas que eu julgava importantíssimas e
muito raras, Marty não quis usar. Havia imagens de George e John, por
exemplo, que eu achava lindas, mas ele disse que só usaria imagens que
adicionassem alguma coisa à história. Marty foi absolutamente honesto.
Ele é um autor, e nós respeitamos isso.
- George sempre teve uma relação estreita com o cinema, não? Ele financiou filmes do Monty Python…
- Muita gente acha que George era um aficionado por cinema, mas isso
não é verdade. Ele gostava muito, mas não era um cinéfilo, como Marty,
por exemplo.
- Mas os Beatles sempre tiveram um senso estético apurado e os filmes da banda foram muito influentes…
- Sim, isso é verdade. Coisas que eles filmaram nos anos 60 são copiadas até hoje…
- Quanto disso era influência de George? Ele opinava muito nos filmes da banda?
- Naquela época, não. Os Beatles sempre se cercaram de pessoas muito
talentosas e criativas. Acho que, na época dos Beatles, a banda confiava
muito nas pessoas com quem trabalhava.
- O que você achou do resultado final do filme?
- Tenho muito orgulho desse filme e tenho certeza que George também
teria. Não é um desses filmes açucarados e que só elogiam o biografado,
mas um retrato honesto e profundo sobre vida de um homem. Acho que é o
filme que George merece.
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