Minha implicância durou pouco. Eu já estava fisgado antes do final da primeira temporada, e a segunda, com a sub-trama da mênade Maryann, uma sacerdotisa de Dionísio que quer se encontrar com seu deus, me deixou hipnotizado em frente à TV.
"True Blood" nunca mais recuperou o mesmo pique, mas eu me mantive fiel ao programa. A ação se passa na fictícia cidade de Bon Temps, no estado americano da Louisianna, onde o calor e a umidade contribuem para a atmosfera lânguida e decadente. É um lugar fabuloso povoado não só por vampiros, como também por lobisomens, fadas, demônios e "shapeshifters" - criaturas que conseguem assumir as mais variadas formas, animais ou humanas.No mundo de "True Blood" os vampiros "saíram do armário". Já não se escondem mais nas trevas, mas vêm a público reclamar seus direitos politicos (afinal, pagam impostos como todo mundo). Tudo isto graças a um sangue sintético inventado por cientistas japoneses, o tal do "true blood" --nenhum morto-vivo precisa mais atacar alguém para se alimentar. Basta tomar o refrigerante do grupo sanguíneo adequado.Acontece que nem todos na comunidade vampirística querem se integrar à sociedade. Há os que preferem viver como antes, matando inocentes por toda a eternidade. Este racha será o tema principal da quinta temporada do seriado, que estreou na noite de domingo. De um lado, a Autoridade, o líder supremo, que prega discrição e colaboração com os humanos. Do outro, a seita dos Sanguinistas --fanáticos religiosos que querem implantar uma ditadura vampiresca na Terra e transformar a humanidade em pouco mais do que gado."True Blood" sempre foi uma alegoria política, e são óbvios os paralelos entre o mvoimento gay e a luta dos vampiros por aceitação. Desta vez, Alan Ball diz que seus monstros teocratas foram inspirados por políticos fundamentalistas como Michelle Bachmann, a ex-candidata à presidência dos EUA que dizia ter uma linha direta com Deus.
A história promete ser boa, mas quero só ver se a série consegue manter o foco. "True Blood" tem simplesmente personagens demais, que foram se acumulando ao longo dos anos e agora demandam suas tramas próprias, tornando árduo o trabalho do espectador em seguir os muitos fios da meada.
Para completar, quase não há mais humanos entre os protagonistas. Uma das últimas foi transformada em vampira logo no episódio de estreia. Este é o maior risco que o seriado corre: se afastar demais da vida real e se afundar num mundo fantástico onde qualquer coisa pode acontecer, sem ressonância do lado de cá da tela. A conferir.
Tony Goes tem 50 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas
vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e
blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários
programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte
ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da
revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o
"Big Brother 11" na Folha.com.
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