sexta-feira, 17 de agosto de 2012

É um ganho de causa', diz 1ª travesti a encaminhar documento no RS

Pitty Barbosa Serrano tem 50 anos e faz parte da ONG Igualdade Guaíba.
Para comemorar, ela fez um jantar com cerca de 30 travestis em casa.

Tatiana LopesDo G1 RS

Pitty Serrano, 1ª travesti a encaminhar documento no RS (Foto: Arquivo Pessoal)
 
Aos 50 anos, Pitty poderá pela primeira vez usar oficialmente o nome que escolheu (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos 12 anos de idade, Pitty Barbosa Serrano saiu de casa para se aventurar em uma nova vida após sofrer rejeição do próprio pai, na casa onde morava, em Porto Alegre. Junto com uma amiga, que seguiu o mesmo caminho, ela se descobriu como travesti e seguiu viagem para São Paulo, de carona. Hoje, aos 50 anos, e com muitas histórias para contar, ela comemora a oportunidade de ter um documento de identificação com o nome que sempre quis usar.
A Carteira de Nome Social, instituída no dia 17 de maio pelo governo do Rio Grande do Sul, permite que travestis e transexuais sejam identificadas por nomes femininos. Nesta última quinta-feira (16) o Instituto Geral de Perícias (IGP) da capital gaúcha recebeu os primeiros encaminhamentos para a confecção do documento. Pitty foi a primeira a chegar, às 9h30, com a amiga também travesti Lupy Velleda, de 33 anos.
Pitty Serrano, 1ª travesti a encaminhar documento no RS (Foto: Arquivo Pessoal)Pitty coordena uma ONG em Guaíba, na
Região Metropolitana (Foto: Arquivo Pessoal)
"Representa um novo momento. Tenho 50 anos e fui profissional do sexo por muitos anos. Para entrar em uma farmácia e comprar preservativo, eu era motivo de chacota. Apanhamos muito nos anos 70, fomos presas. A sociedade vê a travesti como prostituta e marginal. Hoje temos esse reconhecimento, isso é um grande ganho de causa, uma luta", desabafa Pitty em entrevista ao G1.
A iniciativa da carteira é da Secretaria da Segurança Pública, em parceria com a Secretaria de Justiça e dos Direitos Humanos, dentro do programa RS sem Homofobia, do governo do estado. Nos primeiros 30 dias, o documento somente poderá ser feito na sede do Departamento de Identificação do IGP (Avenida Azenha, 255, em Porto Alegre). Depois, também será expedido nos postos de identificação online do interior, seguindo os mesmos procedimentos da Carteira de Identidade.
Depois de sair de Porto Alegre, ir para São Paulo e passar por diversos outros lugares do país e também do Exterior, Pitty fixou residência em Guaíba, na Região Metropolitana, onde mora há 25 anos. A casa ela dividiu em três partes: uma para receber a família, outra para receber as integrantes da ONG Igualdade Guaíba e a última que abriga sua casa de religião. "É uma casa pequena, mas eu consegui dividir um espaço para cada momento", conta.
Ao lembrar do passado, Pitty diz ter apenas um arrependimento. "Não me arrependo de nada, só do sofrimento da minha mãe. Mas tenho muita tranquilidade com a minha vida", afirma.
Encaminhar a Carteira de Nome Social foi um marco na vida de Pitty. Para não passar em branco, ela chamou outras 30 travestis para uma janta em sua residência. Segundo ela, fora da capital as travestis encontram mais dificuldades para serem aceitas. "No interior é mais difícil, o governo deveria até fazer uma sensibilização no interior", sugere.
Trabalho na ONG
Pitty não sabe o número exato de integrantes da Igualdade Guaíba. Dependendo do mês, ela recebe uma quantidade de travestis e mulheres para conversar, desabafar, e realizar atividades. Entre as ações, a ONG distribui preservativos e informativos com alertas sobre doenças sexualmente transmissíveis, drogas, entre outros. "Fazemos intervenções na BR-116 com as profissionais do sexo nas boates, nas estradas, com caminhoneiros", conta.
Entre as dificuldades que encontra para manter a ONG, Pitty não desiste dos sonhos. Um deles é construir uma cooperativa para dar oportunidade a pessoas que precisam de ajuda, de apoio para reestruturar a vida. "Meu sonho seria que a prefeitura desse uma área e chamasse pequenos, médios, grandes empresários que dessem tijolo, cimento, para montar uma cooperativa de recicladores, um galpão para oficinas e arrecadação de renda que chamasse aqueles que precisam para trabalhar, para ganhar autoestima, uma oportunidade", diz.
Em breve, Pitty planeja fazer um trabalho dentro do presídio feminino de Guaíba. "Vou tentar fazer um trabalho sobre HIV, câncer, colo do útero, hepatite, sexo." Ela, que atuou como profissional do sexo ativamente durante muitos anos, reforça a importância do uso de preservativo nas relações.

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