terça-feira, 26 de junho de 2012

Novo "Homem-Aranha" é mais realista, sombrio e emocionante

RODRIGO SALEMDE SÃO PAULO
A reinvenção do Homem-Aranha nos cinemas não deveria se chamar "O Espetacular Homem-Aranha", e, sim, "O Espetacular Peter Parker". O novo começo para a saga do aracnídeo, agora com Marc Webb ("(500) Dias Com Ela") é muito mais sobre a identidade secreta do herói, o adolescente órfão Peter Parker, do que sobre o mascarado que se pendura em teias pela cidade de Nova York.
Ao contrário do primeiro filme dirigido por Sam Raimi, em 2002, o novo longa investe na presença --ou melhor, na ausência-- dos pais do adolescente. O desaparecimento dos dois é a linha narrativa que move "O Espetacular Homem-Aranha" desde o início, quando o casal precisa deixar Peter na casa dos tios Ben (Martin Sheen, fantástico) e May (Sally Field), até o momento em que o garoto descobre que seus poderes estão ligados às experiências do pai --um cientista da Oscorp, empresa que emprega Curt Connors (Rhys Ifans), lado humano do vilão Lagarto.
Se a Marvel queria construir uma história sobre fúria e emoções adolescentes, conseguiu o objetivo de forma primorosa. O filme só fica atrás de "Homem-Aranha 2", de Raimi, talvez a mais notável produção baseada em um gibi da Marvel. A origem do herói é um pouco diferente da mostrada por Raimi. Ao contrário de Tobey Maguire, o Aranha de Andrew Garfield ("A Rede Social") é um moleque que peita o valentão na escola, mesmo que custe hematomas no rosto, anda de skate e ouve iPod o tempo todo. Realismo é a palavra chave.
Sony/Divulgação
Protagonizado por Andrew Garfield, filme "O Espetacular Homem-Aranha" estreia em 6 de julho no Brasil
O Parker de Garfield é a representação do novo tipo de nerd, assim como a Gwen Stacy de Emma Stone ("Zumbilândia") não é a garota idiota que espera o namorado salvar o mundo. A química do casal prevalece e, por alguns momentos, você esquece que está vendo um filme de herói e embarca em uma história trágica de amor.
Olhando sob esse ângulo, a escolha de Webb, considerada temerária por causa de sua parca experiência com blockbusters, foi acertada. Webb sabe arrancar a melhor interpretação de seus protagonistas, joga uma musiquinha pop aqui (no filme passado foi Smiths, agora é Coldplay) e explica de forma crível as criações do herói. Caso do polêmico lançador de teias, trocado por fios orgânicos na trilogia original, e que aparece no longa de forma mais realista que nos quadrinhos.
Por outro lado, Webb (ainda) não tem costas quentes para impor 100% de sua visão. É bem verdade que "O Espetacular Homem-Aranha" segue uma linha mais sombria, lembrando muito "Batman Begins", de Christopher Nolan. Mas quando o clímax da perseguição do Aranha ao Lagarto --que ameaça infectar Nova York em um plano difícil de comprar--, o filme ganha um clima infantilóide para vender brinquedos.
A perseguição final é o elo mais fraco do longa. Bebe da fonte da "união dos americanos faz a força", usada por Raimi na primeira sequência, em 2004, mas agora de forma mais grotesca: funcionários de construção civil alinham seus guindastes para ajudar o herói. É a velha mensagem de que a base do heroísmo vem do próprio povo, que a reconstrução é possível, mesmo em uma economia em recessão.
"O Espetacular Homem-Aranha" comprova de vez que o vilão da vez em Hollywood não vem mais do Oriente Médio, mas de bancos corruptos, hipotecas vencidas e empregos em falta nos Estados Unidos. Prato cheio para Peter Parker --estudante prestes a começar uma carreira, futuro freelancer de fotografia em um jornal e morador de uma casa no Queens com uma tia aposentada-- escolher sua ameaça na futura continuação. Duende Verde? Fichinha...

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