Para além da brincadeira cheia de orgulho da minha amiga travesti, o exemplo acima mostra o quanto a selvageria da civilização brasileira está à flor da pele. E nem os héteros estão livres da violência contra os gays. Então, não é de estranhar a pesquisa do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, publicada nesta quinta-feira , 26, na Folha, apontar que 70% dos gays tenham sofrido algum tipo de agressão.
Mas além da agressão física, verbal ou sexual, tem uma silenciosa, difícil de contabilizar que até talvez possamos chamar de psicológica.
Augusto Patrini Menna Barreto é um militante gay que mora em meu prédio. De um dia para outro, surgiram em sua porta palavras ofensivas, xingando sua orientação sexual. Ele logo percebeu que se tratava do porteiro da noite. Reclamou para o síndico que nada fez. Só depois de mandar uma notificação via imobiliária que foi instalado uns cartazes contra as ofensas que ele sofreu.
Em conversa com ele, percebi que o tal porteiro me cumprimentava apenas quando estava sozinho, quando estava com os amigos seguranças da rua, virava a cara. Podia ser uma impressão minha… Depois de um tempo passou a não abrir mais a porta para mim. Até que a minha empregada veio falar que ele odiava o casal de lésbicas que morava no prédio e ficava escutando elas transando. Além disso, ela ouviu dele que não me suportava porque eu era homossexual e torcia para eu sair do prédio.
Mas o fato dele ser homofóbico surtiu efeito nenhum em sua demissão que veio por motivos outros. Não há como negar que isto também é uma agressão. Silenciosa, mesquinha e com cúmplice.
E antes que as feras do lodo da intolerância grunhem, todos sofrem agressão, mas os gays sofrem agressão só pelo fato de serem o que são.
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