Ana Maria Bahiana
Do UOL, em Los Angeles
As piadas de Seth McFarlane e Emma Stone eram sem graça (por exemplo: "Quando Áustria e Alemanha se juntaram pela última vez, o resultado foi Hitler. Mas 'Amor' é melhor") e na lista de indicados que, numa primeira leitura, parecia uma repetição dos Globos de Ouro, coisas inesperadas e muito interessantes aconteceram na madrugada fria desta quinta-feira (10) em Los Angeles, no teatro Samuel Goldwyn da Academia.
"Amor" ("Amour", no original) foi reconhecido como um dos melhores filmes do ano, além da categoria melhor filme estrangeiro (onde o chileno "No" e o canadense, filmado na África, "War Witch" foram gratas supresas). Além de ser a 9ª produção em língua não-inglesa a ser indicada a melhor filme, "Amor" levou indicações também para Michael Haneke (diretor e roteiro), Emmanuelle Riva (atriz) e, para arredondar, melhor filme estrangeiro.
Três pequenos (e maravilhosos) filmes independentes foram reconhecidos: "Indomável Sonhadora" (indicado a melhor filme, diretor --o estreante Benh Zeitlin--, roteiro adaptado e a jovem atriz Quvenzhané Wallis, de 9 anos), "Moonrise Kingdom" (melhor roteiro) e a animação "Para Norman" (melhor longa de animação).
O bizarro foi o desaparecimento de três diretores cotadíssimos este ano, cujos filmes receberam múltiplas indicações, inclusive para melhor filme: Kathryn Bigelow por "A Hora Mais Escura"; Ben Affleck por "Argo". e Quentin Tarantino por "Django Livre".
Enquanto escrevo, um verdadeiro tsunami de reclamações, indignações e teorias sacode a cidade. Uma das teorias aponta para a confusão do voto online; outra para a mudança do prazo de entrega dos votos, que teria prejudicado todos os filmes que estrearam por último (o que não se aplica a "Argo", que foi exibido confortavelmente em outubro); e mais uma para a simples preguiça do departamento de diretores em ver todos os filmes concorrentes.
Eu, pessoalmente, adicionaria uma pitada de birras pessoais, competição e as eternas rasteiras desta indústria tão feroz. E o fato de, com o novo prazo, os diretores não terem podido “colar” as indicações da entidade de classe, a Directors Guild.
A arrancada de "As Aventuras de Pi", um filme filosófico e reflexivo, acabou ficando com o segundo maior número de indicações --11, no total-- inclusive para a dobradinha definidora de melhor filme/melhor diretor.
O sumiço de "O Mestre", de Paul Thomas Anderson, era esperado. A trama é cerebral e desafiadora demais para o perfil do votante da Academia. O departamento de atores, contudo, não deixou que os resmungos de Joaquin Phoenix contra festas de prêmios fosse um obstáculo: como nos Globos, ele e seus companheiros de elenco Philip Seymour Hoffman e Amy Adams foram indicados.
No final das contas, somados os novos elementos de prazo mais curto e confusão na votação online, "Lincoln" assumiu a liderança, com 12 indicações e um perfil perfeitamente encaixado na média do gosto da Academia. Neste momento, é o filme a ser batido. Vamos ver o que vai acontecer até dia 24 de fevereiro.
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