sexta-feira, 1 de março de 2013

USP apura caso de universitários que ficaram pelados dentro do campus

A Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos vai abrir um processo administrativo para apurar a conduta de dois universitários que ficaram pelados e hostilizaram cerca de 40 integrantes de um grupo feminista que protestava contra a realização de um desfile de calouras, conhecido como “Miss Bixete”, em uma festa dentro do campus. Segundo a Frente Feminista de São Carlos, o "concurso de beleza", que foi realizado na tarde de terça-feira (26), é machista, submete as estudantes a constrangimentos e muitas são pressionadas pelos veteranos para participar. O grupo não quis, no entanto, registrar um boletim de ocorrência na polícia. Em nota, a USP disse que "os dirigentes do campus tomaram providências para identificar os envolvidos nesse lamentável evento e, posteriormente, promover a abertura de um processo administrativo".

O G1 não conseguiu localizar os alunos responsáveis pelo trote. saiba mais Calouros da USP fazem limpeza em asilo de São Carlos em trote solidário USP de São Carlos recebe calouros de engenharia com muita tinta e lama Alunos de baixa renda podem tentar vaga em moradias na USP e UFSCar Desde 2005, grupos protestam contra a realização do evento, realizado no Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (CAASO). Apesar do uso do espaço pelos estudantes, a própria direção se diz contrária ao concurso. “Expor as calouras como 'carnes novas' aos veteranos e submetê-las às brincadeiras pejorativas é, na verdade, reduzir a mulher a um mero objeto de consumo”, informa, em texto publicado no site do centro.
De acordo com uma integrante da Frente Feminista, uma estudante de 20 anos que preferiu não se identificar, as universitárias recém-chegadas têm que desfilar em um palco e atender aos pedidos dos veteranos, que muitas vezes fazem brincadeiras constrangedoras. “É uma forma de humilhação. Elas estão acabando de chegar e têm que se expor de maneira absurda. Algumas não querem e são induzidas a participar, porque depois são vistas como chatas e antissociais. Algumas tiram a blusa e não se sentem à vontade. Eles costumam até a contratar prostitutas para incentivar as bixetes a fazer o que elas fazem”, disse.

Panfleto de veteranos parodia livro (Foto: Divulgação/Frente Feminista)
Na festa realizada na terça, o grupo feminista, que protestou com música, grito de guerra e cartazes em frente ao local, foi ofendido por veteranos. “A gente não queria impedir, mas mostrar para as bixetes que elas não precisariam subir ao palco se não quisessem”, disse a estudante. Ela ainda relatou outros abusos cometidos por eles. Ao menos dois tiraram a roupa. Fotos registradas pelo grupo mostram um dos estudantes sem as calças, mostrando o pênis. As imagens foram publicadas no Facebook. “Começamos a tocar músicas e eles se sentiram irritados, tiraram sarro e alguns, que estavam bastante bêbados, começaram a tirar a roupa, simularam sexo com uma boneca inflável. Eles ainda xingaram, ficaram cantando as meninas que estavam no protesto, tentavam passar a mão e até jogaram bombinhas e cerveja na gente”, afirmou. Um dos veteranos, segundo ela, distribuía panfletos com uma paródia do livro Cinquenta Tons de Cinza incentivando a agressão a mulheres sob o título "50 golpes de cinta". O professor Airton Ferreira Moreira Júnior, que também participou do protesto, disse que os estudantes tiveram comportamento agressivo e proferiram comentários homofóbicos. “Eles comentaram que iam corrigir ‘esse bando de gays e lésbicas’. A agressão verbal quase se tornou física. Tivemos que conter dois caras que tentaram ir para cima delas”, disse. Moreira também condenou a realização do evento. “O pessoal se apropria de uma espaço público para fazer um evento que não é unanimidade. Isso tem consequências para a vida da menina na universidade”, afirmou.

Protesto feminista terminou em confusão no campus da USP (Foto: Divulgação/Frente Feminista) ~
Apesar das ofensas e do atentado ao pudor, o grupo preferiu não registrar boletim de ocorrência. “Eu espero que ocorra uma reflexão porque o Miss Bixete é algo extremamente machista”, disse a estudante. Moreira disse concordar. “Jamais impedir o trote, mas tentar impedir que ele se baseie em violência física e psicológica. Eu acho que o mais importante não é punir quem ficou pelado e sim impedir que as mulheres sejam submetidas a isso. Refletir sobre como receber os calouros”, destacou.

Estudantes se reúnem para desfile do 'Miss Bixete' na USP (Foto: Divulgação/Frente Feminista) Investigação A assessoria de imprensa da USP informou que as atividades em questão não fazem parte da programação da Semana de Recepção dos Calouros e que a universidade é contra qualquer ação que cause constrangimento. Ainda de acordo com a nota, como nenhum registro foi feito até esta quinta-feira (28), o fato era desconhecido. “Ao serem informados, os dirigentes do campus imediatamente tomaram providências para identificar os envolvidos nesse lamentável evento e, posteriormente, promover a abertura de um processo administrativo”, informou. A assessoria disse ainda que disponibiliza o Disque-Trote (0800-0121090) para que o aluno ou qualquer cidadão denuncie situações de tratamento inadequado. A universidade, porém, não informou se há um controle ou fiscalização sobre o tipo de trote aplicado aos calouros dentro do campus. A direção do CAASO divulgou uma nota a respeito do caso no Facebook na quinta-feira. “O CAASO, que sempre lutou contra as opressões na sociedade, deve continuar sendo um palco de discussões em busca de uma sociedade mais justa, livre e igualitária. Por isso, reafirmamos nosso posicionamento em não participar do Miss Bixete pelo seu caráter machista. Deve-se salientar que os estudantes têm liberdade para participar dos espaços que julgarem pertinente, porém a diretoria do CAASO constrói a atividade de integração 'Tô à toa', juntamente com outras secretarias acadêmica."

Estudante simulou sexo com boneca inflável para ofender manifestantes (Foto: Divulgação/Frente Feminista)

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