Tampouco acredito que estou escrevendo para defender o ex-"CQC". Sim, defender: é justamente essa ausência de desculpas, esse não-arrependimento, que me fez ver o caso com outros olhos.
Rafinha está se mostrando corajoso ao não retirar o que disse. Está se expondo e se protegendo ao mesmo tempo: corre o sério risco de perder contratos vultosos, mas por outro lado mantém sua independência e sua "rebeldia", ainda que destrambelhada.
No caso dele, eu já teria voltado atrás há muito tempo. Vivo soltando tiradas que eu julgo engraçadíssimas, mas que volta e meia ofendem alguém. Já precisei me retratar inúmeras vezes, às vezes sem nem ter tido a intenção de machucar. Eu sou assim: quero estar bem com todo mundo, nem que para isto precise engolir minhas próprias palavras.
Pelo jeito Rafinha não quer, e estou começando a admirá-lo por isto. Veja bem, não estou defendendo a não-piada com Wanessa Camargo e seu bebê. Continuo achando-a sem graça e sem propósito. Também acho que não é motivo para uma ação judicial: Rafinha só falou, não agiu nem incitou ninguém a agir.
Ao invés de se redimir, ele tem tirado sarro de si mesmo no Twitter e em vídeos. Também se revelou ainda mais grosseiro do que eu suspeitava ao responder de maneira chula - e por escrito - a uma pergunta de uma repórter da Folha.
Mas acho que preservou sua "arte" (põe aspas nisto) melhor do que Marco Luque, que se apressou a soltar uma nota condenando o colega. Luque deve ter agido assim por pressão de seu empresário: afinal, ele e Ronaldo "Fenômeno" são garotos-propaganda da mesma empresa de telefonia celular.
Agora a produtora Eyeworks, que criou o formato do "CQC" na Argentina, ameaça levar o programa para outro canal. Não sabemos até que ponto é jogo de cena, mas faz sentido: afinal, uma atração que se pretende irreverente e se chama "Custe o que Custar" (no original, "Caiga Quien Caiga", ou "caia quem cair") não pode deixar barato.
A discussão sobre os limites do humor é pertinente e interessante, e a correção política é um fator que está afetando muitos outros aspectos da cultura brasileira - para o bem e para o mal. Rafinha Bastos está no olho do furacão, com muitos interesses conflitantes girando ao seu redor. Talvez não sobreviva, mas por enquanto está rendendo assunto.
Tony Goes tem 50 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.
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