quinta-feira, 5 de julho de 2012

Anticonvulsivo pode evitar evolução de Alzheimer, diz neurocientista

Após 30 anos estudando o cérebro idoso, Michela Gallagher descobriu que a perda de memória é causada por uma hiperatividade no córtex cerebral. Foto: Johns Hopkins University/ Divulgação
Após 30 anos estudando o cérebro idoso, Michela Gallagher descobriu que a perda de memória é causada por uma hiperatividade no córtex cerebral
Foto: Johns Hopkins University/ Divulgação

Carla Ruas
Direto de Washington


A neurocientista norte-americana Michela Gallagher, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins, entusiasmou a comunidade científica neste ano ao afirmar que um remédio que já existe pode evitar o desenvolvimento do Alzheimer. Após 30 anos estudando o cérebro idoso, ela descobriu que a perda de memória é causada por uma hiperatividade no córtex cerebral. E que essa atividade pode ser controlada com pequenas doses do medicamento anticonvulsivo Levetiracetam, usado em pacientes com epilepsia.
A descoberta foi divulgada em maio em artigo publicado na revista científica Cell Press. Em entrevista exclusiva ao Terra, Gallagher explica que, se aprovado em testes clínicos, o uso do remédio para este fim será liberado em menos de cinco anos. Seria uma grande avanço contra a doença, que atinge uma população crescente de idosos, causando perda gradual de memória e de todas as funções mentais.
Confira a seguir a entrevista completa:
Terra - Você estuda o envelhecimento do cérebro há 30 anos. Quais foram as principais descobertas ao longo da pesquisa?
Michela Gallagher -
Quando comecei a estudar o envelhecimento do cérebro se pensava que à medida que envelhecemos há inevitável perda de neurônios. E os livros de medicina até afirmavam que ocorria 10% de perda por década, ou algo assim. Então, o primeiro avanço realmente significativo foi descobrir que não ocorre essa perda no córtex mesmo se você tiver 80, 90 ou até 100 anos. Isso nos mostrou que o motivo para a perda de memória não era degeneração do cérebro, mas como as células passavam a funcionar. Para investigar isso usamos novas ferramentas de captura de imagem incrivelmente sofisticadas que nos permitem olhar para o cérebro das pessoas enquanto estão fazendo testes de memória. O que vimos foi que um grupo específico de células ficava hiperativo em quem tinha perda de memória. Quem teria imaginado isso há 30 anos? Então descobrimos que a hiperatividade nessa parte do cérebro é que estava causando os problemas.
Terra - Um artigo seu (Reduction of Hippocampal Hyperactivity Improves Cognition in Amnestic Mild Cognitive Impairment) causou comoção na comunidade científica. Por quê?
Michela -
Ao realizar testes em ratos já tínhamos descoberto que havia uma forma para reduzir essa hiperatividade no cérebro e melhorar o desempenho da memória. Então nós descobrimos que havia um tipo de medicamento que poderia ser usado: um antiepiléptico que controla convulsões em seres humanos. Recentemente testamos esse remédio num estudo clínico em humanos e usamos ferramentas magnéticas funcionais para olhar a atividade no cérebro enquanto os pacientes realizavam testes de memória. Verificou-se que em pacientes que têm Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) - um grupo que está em transição para desenvolver Alzheimer - a droga reduziu a atividade em excesso e melhorou sua memória.
Terra - Por que você decidiu testar pacientes antes deles desenvolveram Alzheimer?
Michela -
Nessa condição de CCL, a doença ainda não tomou conta do cérebro e a hiperatividade é ainda mais clara. Nas pessoas que já atingiram um diagnóstico de Alzheimer, a hiperatividade na verdade vai embora e o sistema de memória é incrivelmente silencioso se comparado ao normal. Isso ocorre porque quando a pessoa já foi diagnosticada há uma neurodegeneração no cérebro e perda de tecido cerebral. Portanto, este medicamento provavelmente não é um candidato para a tratamento de Alzheimer, mas possivelmente para prevenir o desenvolvimento da doença.

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