terça-feira, 7 de agosto de 2012

Novo cartão de crédito cobra metade dos juros, mas prazo é pior para cliente

Aiana Freitas
Do UOL, em São Paulo
O banco Itaú lança na quinta-feira (9) um cartão de crédito com juros de 5,99%, metade da média cobrada pelo mercado (12%). Mas ele tem uma grande desvantagem ao lado desse benefício: o prazo de incidência dos juros é bem maior. Hoje, quando o consumidor atrasa o pagamento, ele paga juros a partir da data de vencimento da fatura. Quem tiver o novo cartão vai pagar juros a partir da data de cada compra.
Segundo cálculos do economista Samy Dana, blogueiro do UOL, nesse esquema, é melhor atrasar mais de 15 dias do que um dia apenas. O Itaú não comentou.

COMPARE O NOVO CARTÃO COM O TRADICIONAL
Exemplo: compra de R$ 1.000 feita no dia 31/8, em cartão cuja fatura vence no dia 15/9

DATA DE PAGAMENTO
DA FATURA
VALOR TOTAL DA DÍVIDA
NO CARTÃO TRADICIONAL
(Juros de 12% ao mês)*
VALOR TOTAL DA DÍVIDA
NO CARTÃO NOVO
(Juros de 5,99% ao mês)*
15/9 (sem atraso) - R$ 1.000 - R$ 1.000
16/9 (1 dia de atraso) R$ 1.003,78 R$ 1.031,51
20/9 (5 dias de atraso) R$ 1.019,07 R$ 1.039,54
25/9 (10 dias de atraso) R$ 1.038,50 R$ 1.049,67
30/9 (15 dias de atraso) R$ 1.058,30 R$ 1.059,90
5/10 (20 dias de atraso) R$ 1.078,48 R$ 1.070,23
15/10 (25 dias de atraso) R$ 1.099,04 R$ 1.080,65
  • * Cálculos não consideram impostos e outras taxas
  • Fonte: Samy Dana/FGV
O sistema é parecido com o que é usado por alguns bancos no cheque especial, diz Dana. Os bancos oferecem dez dias sem juros no especial, mas, se o consumidor passa do 11º dia, precisa pagar juros referentes a todo o período.

Cálculos mostram que novo modelo nem sempre compensa

O economista fez alguns cálculos para descobrir se o novo cartão do Itaú é interessante para o consumidor. O resultado mostra que, na prática, ele só é vantajoso para quem atrasar o pagamento em mais de 15 dias.
Ele tomou como exemplo um consumidor que tenha feito uma compra de R$ 1.000, 15 dias antes da data de vencimento do cartão. Os cálculos foram feitos considerando-se que os juros cobrados são compostos, como é a prática do mercado.
No caso do consumidor que usa o cartão tradicional, com juros de 12% mensais, a dívida vai saltar para R$ 1.003,78 um dia depois do vencimento. O consumidor, nesse caso, terá pago juros por apenas um dia.
Caso o consumidor use o novo cartão, com juros e 5,99% mensais, e atrasar um só dia o pagamento da fatura, a dívida total ficará bem maior: será de R$ 1.031.51. Isso porque, nesse caso, ele vai pagar juros por esse dia de atraso e também pelos 15 dias que se passaram desde que a compra foi feita.

Prolongar a dívida nunca é interessante, diz economista

Assim, apesar de os juros mais baixos, com o novo cartão o valor da dívida sobe porque o período considerado é maior. Segundo os cálculos do economista, se o atraso for mais longo, de 16 dias, o novo cartão se torna mais interessante: com ele, o valor total salta para R$ 1.064,02; com o cartão antigo, seria de R$ 1.062,31.
"Só que nunca é interessante para o consumidor ficar muito tempo devendo no cartão. Se ele achar que isso pode acontecer, é melhor negociar um empréstimo no banco, que tem juros mais baixos, e usar esse dinheiro para quitar a fatura", diz Samy Dana.
Prolongar muito a dívida no novo cartão de crédito traz, ainda, outra desvantagem. Enquanto o consumidor estiver devendo, ele também passa a pagar juros sobre as novas compras feitas naquele cartão. Esses juros só deixam de ser contabilizados quando ele quitar a fatura totalmente.
O Itaú diz que o novo modelo é usado internacionalmente. "Só que os juros cobrados no cartão de crédito nos Estados Unidos, por exemplo, são de 6% ao ano, e não ao mês", afirma Samy Dana.

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