quinta-feira, 13 de junho de 2013

Além da Escuridão é Star Trek, lingerie, morte e emoção em estado bruto!

“Estamos apenas esquentando.” Breve porém direto, foi essa a resposta do produtor Bryan Burk quando lhe escrevi alguns dias atrás com uma pergunta simples: depois de Além da Escuridão, como alcançar as novas e estratosféricas expectativas? Afinal, a aventura conduzida por J.J. Abrams (de volta à direção da série depois do incrível reboot de Star Trek que ele mesmo cometeu em 2009) tem tudo que um filme de férias perfeito traz. Tem ação, emoção, personagens bem desenhados, profundidade emocional e uma montanha russa eufórica que sequer dá tempo para o público recuperar fôlego antes da sequência de ação seguinte engendrada com precisão cirúrgica. É a fórmula que Spielberg, Lucas e Lawrence Kasdan popularizaram em Caçadores da Arca Perdida: a cada 10 minutos, arranque a platéia de suas poltronas. Com fortes ecos da segunda aventura cinematográfica da Jornada nas Estrelas original, Além da Escuridão envereda por um caminho deliciosamente familiar e surpreendentemente inédito. “Estamos apenas esquentando.” Droga, Bryan, assim fica difícil… Além da Escuridão foi construído para dar sequência ao Star Trek de 2009, um reboot inteligente que, ao construir uma linha do tempo paralela no mundo da série, abriu oportunidade de trilhar caminho próprio sem negar seu próprio passado. E como toda boa sequência moderna, oferece o que o original teve de melhor, só que de forma anabolizada. O filme já começa frenético, com Kirk, Spock e a tripulação da Enterprise salvando uma civilização primitiva da extinção – mas se revelando no processo, o que viola a Primeira Diretriz da Federação dos Planetas, que é nunca interferir no curso normal de uma sociedade. A punição vem rápida (Kirk perde a Enterprise; Spock é transferido para outra astronave) e não dura muito. Um ataque terrorista coloca nossos heróis em uma missão de vingança contra um certo John Harrison, desertor da Federação capaz de instigar uma guerra contra os misteriosos Klingon.

Bones (Karl Urban) e Kirk (Chris Pine) fazem turismo num planeta vermelho
Mas, peraí… vingança? Isso vai contra tudo pregado pela cartilha do criador de Star Trek, Gene Roddenberry, que via seu futuro como uma sociedade sem crime ou fronteiras, uma utopia cristalizada pela exploração de cinco anos do cosmos por aventureiros espaciais. Ainda assim, a trama caminha espertamente para provar a fibra moral de Kirk (Chris Pine, mais uma vem dominando o personagem), equilibrado pela lógica brutal de Spock (Zachary Quinto, honrando de todas as formas o ícone consolidado por Leonard Nimoy). Abrams passeia pelo impulso de Kirk, que encontra em Spock a voz de sua consciência, numa história que vai fundo no medo do mundo moderno do terrorismo e sua imprevisibilidade: se a Federação é atacada em seu coração por um dos seus, quem está à salvo? Sem medo de afrontar o cânone da série (o que é uma tremenda besteira, já que uma boa história não deve ter regras freando seu caminho), Além da Escuridão: Star Trek aos poucos desenha a tripulação da Enterprise para uma novíssima geração. Cada um dos membros principais da equipe tem seu espaço para brilhar, em especial o engenheiro Scotty (Simon Pegg), crucial para desvendar o mistério da trama, e a tenente Uhura (Zoe Saldana), presente nos dois momentos definitivos do filme. Peter Weller, o eterno RoboCop, surge como o manda-chuva da Federação em um papel maior e mais incisivo do que se poderia suspeitar. Mas se Além da Escuridão: Star Trek tem um “dono”, este é Benedict Cumberbatch.

Spock (Zachary Quinto) e Kirk (Chris Pine) interrogam John Harrison (Benedict Cumberbatch)
Como John Harrison – cuja verdadeira identidade não era segredo nem no momento em que o filme foi imaginado, ma fico por aqui por conta dos leitores mais sensíveis -, o ator devora o cenário e entrega um vilão com motivações reais e contundentes, ficando difícil discordar de seu caminho rumo à vingança e de sua aliança com Kirk. Mas um personagem (surpresa) do filme coloca, a certo momento do filme, que ele é “a maior ameaça que a Enterprise jamais enfrentou, e que não vai hesitar em matar cada membro da tripulação que ficar em seu caminho”. O clímax de Além da Escuridão, em plena Terra, é uma das sequências mais espetaculares do cinema moderno: em tensão, no tamanho do que está em jogo e nos jogadores no tabuleiro. Por isso é tão espantoso perceber que a cena dominante dos dias que precederam a estréia ianque deste Star Trek (que, até o momento, já amealhou cerca de 380 milhões de dólares em todo o mundo) não foi a Enterprise emergindo triufante das profundezas na cena pré-créditos; nem o ataque furioso à sede da Federação dos Planetas; ou o surgimento dos bélicos Klingon neste novo universo de Star Trek; e muito menos a espetacular queda da Enterprise na atmosfera da Terra. O que mais torceu o nariz foi uma cena de meio segundo da atriz Alice Eve, que interpreta a cientista Carol Marcus, despe-se e fica de lingerie na frente de Kirk. É uma cena gratuita? Sim e não. Sim porque não existe função dramática na sequência, que precede a descida de Carol, acompanhada de Bones McCoy (Karl Urban, mais uma vez incrível), a um planetóide. E não porque Star Trek é sexy por natureza, e a cena mostra exatamente que Kirk continua pensando como Kirk (mulherengo incorrigível) mesmo em situação de extremo perigo. Alice Eve, como você vê aí embaixo, é um arraso na melhor tradição da ficção científica e não precisa de desculpas.

Assim como era a estonteante Marta (Yvonne Braig) na série original… …

a belíssima Droxine (Diana Ewing)… …

a incrível andróide Andrea (Sherry Jackson)… …

a espetacular Sete de Nove (Jeri Ryan) de Star Trek: Voyager… …

a sexy T’Pol (Jolene Blalock) de Enterprise… …

e a inesquecível Gaila (Rachel Nichols), uma “escrava verde de Orion” que divide a cama com Kirk no Star Trek de 2009.

Hmmrrr… voltando à programação original… Além da Escuridão é superior a seu antecessor em todos os aspectos, o que mostra total compromisso de J.J. Abrams e a equipe da Bad Robot em criar uma aventura séria e extremamente divertida e acelerada, que coloca um caminho árduo para quem quiser que siga os passos do diretor no inevitável terceiro filme. Sim, porque o sucesso do novo Star Trek e a vontade do estúdio em continuar faendo negócios com Abrams atinge um pequeno problema que pode causar um conflito de agendas: o diretor e sua equipe se preparam para conduzir outro épico espacial, o sétimo episódio de Star Wars. A volta da saga criada por George Lucas, desta vez com o elenco original e recuperando a série três décadas depois dos eventos de O Retorno de Jedi, vai tomar o tempo de Abrams (que nucna foi fã de Trek, mas é doente por Wars) até o começo do já atribulado verão americano de 2015. Seria mais sensato por parte da Paramount dar tempo ao tempo. Agora que a Enterprise está audaciosamente indo onde nenhum Star Trek foi antes, apressar não é a melhor política. Mesmo que, depois de Além da Escuridão, a vontade de voltar a este universo seja urgente como um passeio na velocidade da luz.

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