quarta-feira, 26 de março de 2014

Natan Marques fala da criação do show Trem Azul (Especial 30 anos)

Natan Marques assumiu a direção musical do show Trem Azul, em 1981, quando Elis se separou do pianista César Camargo Mariano. Ele relembra os bastidores dessa história.




Poladian comemora Trem Azul, defendendo Elis


Manoel Poladian, produziu vários shows de Elis Regina (Foto: Paulo Gindalia ( Valor/Folhapress)) Em mais de 50 anos de carreira, o empresário Manoel Poladian trabalhou com grandes nomes da música nacional e internacional, entre eles Elis Regina, Gal Costa, Rita Lee, Mile Davis, Ray Charles, Ney Matogrosso e Tina Tuner. Para Elis, ele produziu os shows Falso Brilhante (1975), que ficou um ano e dois meses em cartaz, de quarta a domingo, em São Paulo, e, mais tarde, Essa Mulher (1979), Saudade do Brasil (1980) e o derradeiro Trem Azul (1981). Poladian não poupa elogios a Elis e diz que a cantora era explosiva, mas apenas com quem não trabalhava direito. “Os incompetentes achavam que ela era mau-caráter”, diz o empresário.
ÉPOCA – O show foi concebido para a inauguração do Canecão São Paulo (Canecão Anhembi)?
Manoel Poladian – Sim. O Canecão São Paulo era uma casa horrorosa, de teto baixo. Logicamente esse espaço não teve muito tempo de vida. Nessa época, Elis havia assinado dois contratos, um com a gravadora Warner e outro com a EMI. Eu estava de bombeiro, tentando apaziguar e acalmar os conflitos que isso gerou. As duas eram multinacionais e entraram em acordo para boicotar a Elis. Ela parou de tocar nas rádios.
ÉPOCA – E o que vocês fizeram?
Poladian – Assinamos contrato com a Som Livre e gravamos “Me deixas louca” para a trilha de uma novela (Brilhante, de 1981). A Som Livre dominava uma fatia importante do mercado, já que lançava as trilhas de novelas.
ÉPOCA – A estreia do show chegou a ser adiada, não é?
Poladian – Sim, a casa não estava pronta. E nem o show.
ÉPOCA – Como Elis era em relação aos contratos. Ela era muito exigente?
Poladian – Elis era uma pessoa extremamente profissional, competente, responsável. Nunca deixou o lado pessoal interferir no profissional. Dedicada em tudo o que ela fazia.
ÉPOCA – Mas ela tinha fama de ser durona...
Poladian – A Elis era durona com quem era amador, com quem não trabalhava direito. Eu nunca tive qualquer problema com ela. As reclamações dela eram sempre pelo lado profissional. Ela era perfeccionista, eu também sou. Por isso demos certo trabalhando juntos. Foi ela que me apresentou a Rita Lee, com quem trabalho até hoje. Tem muita lenda em torno da Elis... Aprendi com Elis a ser responsável e a respeitar os músicos e o público. Tive que ensinar a ela que Papai Noel não existe"Manoel Poladian
ÉPOCA – Era uma relação profissional madura...
Poladian – Sim, como tem que ser. Eu acho perigoso o empresário que vai para o lado da bajulação. Elis me pedia as coisas. Se eu achava que não estava certo, discordava. Discutíamos o problema e chegávamos a uma solução. Digo que 70% das reclamações de Elis eram justas. Os outros 30% eu ponderava e achávamos um melhor caminho. Eu aprendi muito com a Elis e ela também aprendeu muito comigo.
ÉPOCA – O que você aprendeu e o que você ensinou?
Poladian – Aprendi a ser responsável e a respeitar os músicos e o público. Tive que ensinar para ela que Papai Noel não existe, que a cegonha é sacanagem (risos)
ÉPOCA – Por quê? Era muito sonhadora?
Poladian – Como todo artista competente tem que sonhar, não é? A Elis era uma grande mãe de família, íntegra, sempre foi muito transparente. Até demais. E os incompetentes achavam que ela era mau caráter. Mentira. Ela era explosiva, sim. Mas sempre para o bem, nunca para o mal.
ÉPOCA – Quais as principais lembranças que você tem da Elis?
Poladian – Em 1980, eu estava produzindo o show da Gal Costa no Anhembi e a da Elis no Teatro Tuca, ambos em São Paulo. Eu passei o dia todo com a Elis. Era estreia e ela estava insegura. Quer dizer, quando Elis estava insegura era sinal de que ela daria um grande espetáculo. E de fato foi. Nessa noite, eu fui jantar com Elis e Gal. Elis virou para Gal e disse “A única cantora que pode falar que canta melhor que eu, é você, Gal”. Gal respondeu: “Elis, você é a maior cantora do país”.

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