segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Mulher diz que foi espancada por usar barba e ser lésbica: 'Me xingava'

Uma jovem de 21 anos foi espancada em Mongaguá, no litoral de São Paulo, por ser homossexual. Ela, que prefere não se identificar, foi alvo de pedradas, chutes e xingamentos homofóbicos. A vítima tentou fazer o boletim de ocorrência em duas delegacias diferentes e não conseguiu. Ela deve ir até a Delegacia da Mulher, nesta segunda-feira (6), para registrar a agressão.

A vítima conta que o crime aconteceu quando ela estava saindo da pousada da mãe, onde trabalha, e seguia para casa, na última sexta-feira (3). Como de costume, ela colocou o fone para ouvir música e seguiu o caminho. Quando ia subir uma passarela, que fica sob a rodovia Padre Manoel da Nóbrega, foi atingida por uma pedra e caiu no chão. “Um homem começou a me chutar. Eu consegui proteger a minha cabeça e ele começou a chutar a minha costela, a minha coxa. Ele me xingava de 'sapatão' e 'veado', falava que eu tinha que morrer, que os homossexuais estão estragando tudo e que não é o que Deus quer para o mundo. Ele me chutava cada vez mais forte”, relembrou a jovem. Outro homem, que passava de bicicleta pelo local, impediu que ele continuasse a bater na jovem. “Ele pediu para parar e falou que ia chamar a polícia. Ele me ajudou a levantar e a atravessar a passarela”, afirma a menina. O agressor saiu correndo e não foi mais visto. A jovem conta que, após a agressão, foi às delegacias da cidade para fazer um boletim de ocorrência. “Fui a duas delegacias e não consegui prestar queixa. Falaram que eu devia ir à Delegacia da Mulher. Lá, falaram para eu voltar na segunda-feira. Eles viram a cara para esse tipo de crime”, diz ela. A vítima tem certeza de que a agressão foi por conta da opção sexual dela, já que costuma usar barba e se vestir como um menino. “Eu tinha mais de R$ 100 na carteira. Ele não pegou nada. Ele simplesmente me chutou. Ele toda hora me chamava de 'sapatão' e 'veado', o tempo todo”, explica.

Ela imagina que talvez o agressor a conhecesse da pousada e estava a esperando no local. “Eu não consegui ver bem o rosto dele. Ele era muito magro, alto e era careca. Ele tinha muita certeza de como falava. Não estava bêbado”, conta. A vítima também foi ao hospital municipal, recebeu atendimento médico e está tomando remédios. Após três dias da agressão, ela diz que ainda sente dores na cabeça e em partes do corpo, além de estar com a visão embaçada. Nesta segunda-feira (6), ela tentará, novamente, fazer um boletim de ocorrência sobre o caso. Desta vez, a jovem irá acompanhada de membros da Comissão da Diversidade Sexual, da Ordem dos Advogados do Brasil. Ela diz que irá procurar os direitos dela e espera que outras pessoas não continuem sendo vítimas do crime de homofobia. “Eu também sou humana, tenho direitos. Ele (agressor) não pensou que eu podia ter uma família. Não são casos que acontecem só em cidades grandes. Em cidades pequenas também tem. Isso tem que parar. Eu não quero voltar para uma ditadura”, finaliza a jovem.

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