The New York Times/Erik Eckholm
Waco (Texas, EUA)
Taylor Schmitt (o terceiro a partir da direita), se assumiu gay no ano passado. Na imagem, ele participa de festa com amigos na Universidade Cristã Abilene, no Texas
A luta pela aceitação de alunos homossexuais surgiu nos lugares que menos a esperavam: nos vários colégios e universidades cristãos evangélicos que, em suas crenças fundamentais, veem a homossexualidade como um pecado.Décadas depois que o movimento pelos direitos homossexuais varreu as escolas seculares do país, mais gays e lésbicas de colégios cristãos estão começando a sair do armário, exigindo o direito de proclamarem suas identidades e formar clubes nos campi, e rejeitando as sugestões de buscarem ajuda para suprimir seus desejos homossexuais.Muitos dos novos militantes cresceram como cristãos e desenvolveram consciência de suas identidades sexuais só depois de começar o colégio, e anos depois de conflitos internos. Eles vêm de uma nova geração de jovens evangélicos que, acima de tudo, tem visões bem menos rígidas sobre a homossexualidade do que os mais velhos.Mas em seus esforços de afirmação, quer seja nos clubes no campus ou mais publicamente no Facebook, os alunos homossexuais estão batendo de frente contra os administradores que defendem aquilo que descrevem como a lei de Deus sobre a moralidade sexual, e que por sua vez precisam responder aos conselhos e alunos conservadores.Enfrentando proibições vagas contra o “comportamento homossexual”, muitos alunos se preocupam com que tipo de atitude – andar de mãos dadas com um parceiro, por exemplo, ou colocar uma foto num site gay – pode prejudicar suas bolsas de estudo ou levar à expulsão.
“É como uma força incontrolável que se depara com um objeto imóvel”, disse Adam R. Short, calouro de engenharia na Universidade Baylor que é gay assumido e lutou, sem sucesso, para o reconhecimento de um clube no campus para discutir a sexualidade e lutar contra a homofobia.Poucos colégios religiosos mais liberais, como a Universidade Belmont em Nashville, que tem origens batistas, permitiram, relutantemente, a formação de grupos de alunos gays. No caso de Belmont, após anos de um aquecido debate, e logo depois que a universidade obrigou uma técnica de futebol lésbica a pedir demissão.Mas a resposta mais típica veio de Baylor, que com 15 mil alunos é a maior universidade batista do país, e que se recusou a aprovar o fórum sobre sexualidade.
“Baylor espera que seus alunos não participem de grupos que promovam uma compreensão da sexualidade contrária aos ensinamentos bíblicos”, disse Lori Fogleman, porta-voz da universidade.Apesar da rejeição, mais de 50 alunos continuam a realizar encontros semanais do Fórum de Identidade Sexual, e continuarão buscando a validação moral que seria fruto do status formal, disse Samantha A. Jones, veterana e presidente do grupo.“O corpo de estudantes é grande e está pronto para isso”, disse Saralyn Salisbury, namorada de Jones e também veterana da Baylor. “Mas a administração e os regentes não.”Na Universidade Cristã Abilene no Texas, vários alunos são homossexuais assumidos, e muitos mais estão pressionando, nos bastidores, por uma mudança. Na última primavera, a universidade não permitiu a formação de uma Aliança Gay-Heterossexual.“Queremos lidar com esses temas complexos, e oferecer ajuda e orientação para os alunos que estão lutando com a atração pelo mesmo sexo”, disse Jean-Noel Thompson, vice-presidente da universidade para a vida estudantil. “Mas não vamos abraçar nenhum grupo de defesa da identidade homossexual.”Na Universidade Harding do Arkansas, que como a Abilene é afiliada às Igrejas de Cristo, meia dúzia de alunos e ex-alunos publicaram uma revista online no começo de março com relatos pessoais sobre as dificuldades dos alunos homossexuais. A universidade proibiu o acesso ao site em seu servidor de internet, o que ajudou a fazer com que o ele se tornasse um produto viral no mundo das universidades religiosas.Na capela, o presidente da Harding, David B. Burks, disse aos alunos que a universidade “não tentaria controlar o pensamento deles”, mas que “era importante bloquear o site por causa do que ele dizia sobre a Harding, quem ela é e no que acredita”. Burks disse que o próprio nome do site, huqueerpress.com, era ofensivo.
A maioria das faculdades evangélicas dizem que não disciplinam os alunos que admitem ter atração pelo mesmo sexo, apenas aqueles que assumem “comportamento” ou “atividades” homossexuais. (Nos campi evangélicos, o ato sexual fora do casamento é proibido para todos.)A Abilene vê uma grande diferença, diz Thompson, entre um aluno que está com dificuldades particulares por conta de sentimentos de atração pelo mesmo sexo, e um “aluno que diz em e-mails, no Facebook e outros lugares, que é publicamente gay e que este é um estilo de vida que ele defende independentemente da posição da universidade.”Amanda Lee Genaro diz que foi expulsa em 2009 da Universidade North Central, um colégio pentecostal em Minneapolis, quando foi mais afirmativa sobre sua identidade homossexual. Ela lutou contra seus sentimentos durante anos, disse Genaro, até 2006, quando foi inspirada por uma visita ao campus do SoulForce, um grupo nacional de alunos homossexuais religiosos que tenta levantar a discussão do tema nas universidades.
“Eu pensei, uau, talvez Deus me ame independente de eu gostar de mulheres”, lembra-se Genaro. Em 2009, depois que ela deixou a “terapia reparadora”, entrou no MySpace e admitiu ter uma relação romântica, mesmo que não consumada, com uma mulher, a universidade a suspendeu, dizendo que ela poderia se inscrever novamente dentro de um ano se deixasse a homossexualidade. Ela se transferiu para uma escola não-cristã.Alunos homossexuais dizem que costumam ser questionados sobre o motivo porque frequentam colégios cristãos. Mas a questão, dizem eles, é injusta. Muitos foram criados em lares profundamente cristãos com uma expectativa de frequentar um colégio religioso, e lutaram por muito tempo contra sua homossexualidade. Eles chegaram à universidade, como um dos autores do Harding Web disse: “esperando que o colégio nos tornasse heterossexuais, e uma vez lá, percebemos que isso não aconteceria, não havia nada que se pudesse fazer quanto a isso.”Os alunos que assumem sua homossexualidade no campus dizem que é um alívio, mas que a vida continua difícil.“Eu sou sozinho”, disse Taylor Schmitt, aluno do segundo ano da Abilene que entrou lá com uma bolsa total e com a esperança de que seu ser interior mudasse de certa forma. No final de seu primeiro ano, disse Schmitt, ele aceitou sua homossexualidade. Ele se transferiu para o departamento de inglês e deixou o departamento de estudos da Bíblia que, segundo ele, “tinha o ar das decepções e falsidades passadas que eu havia criado em torno de mim.”Em vez de mudar de universidade e desistir de sua bolsa, ele está fazendo aulas extras para se formar um ano mais cedo.Alguns dos alunos homossexuais acabam desiludidos com o cristianismo, e até se tornam ateus, enquanto outros buscam igrejas mais liberais.David Coleman foi suspenso pela Universidade North Central em seu último ano em 2005, depois que distribuiu panfletos que divulgavam um site de apoio a homossexuais e admitiu ter relações íntimas (mas não sexuais) com outro homem. Ele chama o ambiente da universidade de “espiritualmente violento”.Coleman, 28, está matriculado agora no Seminário Teológico Unido de Twin Cities em New Brighton, Minnesota, que é administrado pela Igreja Unida de Cristo, mais aberta. Ele ainda sonha em se tornar pastor.“Eu sinto o chamado”, disse ele.
Tradução: Eloise De Vylder
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