por Luciano Trigo/G1
/G1Em julho de 1965, uma festa promovida por Jane Fonda em Malibu reunia convidados como Warren Beatty, Sidney Poitier e Andy Warhol, animados pela banda ‘The Birds’. Incomodados com o volume da música, papai Henry, Gene Kelly e William Wyler foram lá reclamar. O episódio, prosaico, é revelador do conflito de gerações que se manifestou no mundo do cinema americano na década de 60. São histórias assim que recheiam as 488 páginas de Cenas de uma revolução – O nascimento da Nova Hollywood, de Mark Harris.Desde o final dos anos 50, a indústria do cinema estava em crise. Ano após ano, as bilheterias das salas de cinema tropeçavam ladeira abaixo, não apenas em função da concorrência da televisão mas também por conta de um aparente esgotamento criativo dos estúdios, presos a fórmulas vinculadas a um contexto social que já não existia e a valores culturais que vinham sendo radicalmente contestados pelas novas gerações. As regras do jogo estavam mudando. E essas transformações da vida na América tiveram sua face trágica, como o assassinato de Martin Luther King, em 1968.Por causa do atentado, a cerimônia de entrega do Oscar daquele ano precisou ser adiada. Foi mesmo uma edição incomum da premiação: os cinco longas que concorriam à estatueta de Melhor Filme representavam de maneira exemplar a encruzilhada vivida por Hollywood: Bonnie e Clyde – Uma rajada de balas, A primeira noite de um homem, O fantástico doutor Dolittle, Adivinhe quem vem para jantar e No calor da noite. Nas palavras do autor, “cinco fotografias instantâneas da psique norte-americana refletida em sua cultura popular”.
Cenas de uma revolução reconstitui em detalhes como essas cinco produções foram escritas, negociadas, produzidas, dirigidas, exibidas e recebidas pelo público, oferecendo assim um vasto painel do embate cultural que estava em curso, num dos momentos mais convulsivos da História do país, entre a velha guarda e a chamada Nova Hollywood. Esta, como se sabe, saiu vencedora, levando o mercado a se renovar, graças sobretudo ao êxito de dois filmes:
Bonnie e Clyde, de Arthur Penn, era uma produção independente concebida por dois jornalistas que, inspirados na Nouvelle Vague, queriam que o filme fosse dirigido por François Truffaut. Já A primeira noite de um homem, dirigido por Mike Nichols, tinha um protagonista que em nada lembrava os galãs de Hollywood – o estreante Dustin Hoffman. Se o primeiro mostrava a violência de forma ineditamente crua no cinema americano, o segundo levava para as telas a mudança no comportamento sexual e nos padrões morais dos americanos.O que esses e outros cineastas fizeram foi entender que o público americano não se enxergava mais nos faroestes, dramas bem comportados e filmes épicos da década de 50. Levaram para a tela questões do momento, como a segregação racial e a revolução sexual. Mas eles não pretendiam derrubar Hollywood , e sim ocupá-la – tanto que todos, mais cedo ou mais tarde, foram absorbidos pelos grandes estúdios. Diferentemente do que acontece em outros países, na América, a questão da liberdade artística nunca entrou em conflito com o fato de o cinema ser uma atividade industrial, que depende do desempenho econômico para sobreviver.
Como o recentemente lançado no Brasil Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind, o livro de Mark Harris só peca pelo excesso de minúcias – característica comum a escritores-jornalistas norte-americanos, que relutam em jogar na lata do lixo qualquer informação apurada, mesmo a mais comezinha. Assim, por exemplo, ficamos sabendo em detalhes que roupa Truffaut estava usando quando desembarcou em Nova York em 1964, onde ficou hospedado, o que comeu no café da manhã etc. É uma leitura divertida e cheia de informações, mas faltou talvez ao autor desenvolver um talento comum a todos os cineastas sobre os quais escreve: saber cortar.
Cenas de uma revolução reconstitui em detalhes como essas cinco produções foram escritas, negociadas, produzidas, dirigidas, exibidas e recebidas pelo público, oferecendo assim um vasto painel do embate cultural que estava em curso, num dos momentos mais convulsivos da História do país, entre a velha guarda e a chamada Nova Hollywood. Esta, como se sabe, saiu vencedora, levando o mercado a se renovar, graças sobretudo ao êxito de dois filmes:
Bonnie e Clyde, de Arthur Penn, era uma produção independente concebida por dois jornalistas que, inspirados na Nouvelle Vague, queriam que o filme fosse dirigido por François Truffaut. Já A primeira noite de um homem, dirigido por Mike Nichols, tinha um protagonista que em nada lembrava os galãs de Hollywood – o estreante Dustin Hoffman. Se o primeiro mostrava a violência de forma ineditamente crua no cinema americano, o segundo levava para as telas a mudança no comportamento sexual e nos padrões morais dos americanos.O que esses e outros cineastas fizeram foi entender que o público americano não se enxergava mais nos faroestes, dramas bem comportados e filmes épicos da década de 50. Levaram para a tela questões do momento, como a segregação racial e a revolução sexual. Mas eles não pretendiam derrubar Hollywood , e sim ocupá-la – tanto que todos, mais cedo ou mais tarde, foram absorbidos pelos grandes estúdios. Diferentemente do que acontece em outros países, na América, a questão da liberdade artística nunca entrou em conflito com o fato de o cinema ser uma atividade industrial, que depende do desempenho econômico para sobreviver.
Como o recentemente lançado no Brasil Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind, o livro de Mark Harris só peca pelo excesso de minúcias – característica comum a escritores-jornalistas norte-americanos, que relutam em jogar na lata do lixo qualquer informação apurada, mesmo a mais comezinha. Assim, por exemplo, ficamos sabendo em detalhes que roupa Truffaut estava usando quando desembarcou em Nova York em 1964, onde ficou hospedado, o que comeu no café da manhã etc. É uma leitura divertida e cheia de informações, mas faltou talvez ao autor desenvolver um talento comum a todos os cineastas sobre os quais escreve: saber cortar.
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