MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO
Uma festa com quatro horas de duração e dez shows.
A 18ª premiação do VMB, principal evento do videoclipe brasileiro, acontece na próxima quinta, em São Paulo, como "a maior edição de todos os tempos". Ao menos é assim que vem sendo anunciada pela promotora, a MTV.
O tom grandiloquente, no entanto, não corresponde à relevância atual da emissora na produção e veiculação de filmes nesse formato no país.
"A televisão ainda interessa, mas não é nosso foco principal", diz Rodrigo Pesavento, diretor do vídeo "Sambinha Bom", o mais novo de Mallu Magalhães. "Outros meios repercutem muito mais. Para atingir o público que realmente nos importa, a internet é quem manda."
Pesavento, que participa do VMB desde a primeira edição (mas não concorre nesta), diz ainda que, disponibilizando seus filmes no YouTube, o artista consegue monitorar o desempenho junto aos fãs --já que o canal tem recursos para contar quantos acessos cada vídeo alcançou.
Gaby Amarantos em cena do clipe "Xirley", que concorre na categoria Clipe do Ano do VMB 2012
Como, em tempos atuais, é na internet que o público vai buscar música --pesquisando, fazendo downloads etc.--, não poderia haver lugar mais apropriado para a música em sua forma visual.
"Conheço casos de artistas que já escrevem suas músicas pensando no clipe. Como é a internet que divulga a música, ela é pensada a partir do que pode render a melhor imagem na tela", diz Ivon.
Nessa nova ordem, a internet também é mais eficiente por transformar vídeos em virais, lembra Priscilla Brasil, diretora "Xirley", de Gaby Amarantos, um dos favoritos ao troféu de Clipe do Ano no VMB de quinta-feira.
Disso se beneficiaram, por exemplo, os curitibanos da Banda Mais Bonita da Cidade, no ano passado. O grupo ficou conhecido nacionalmente sem nunca ter aparecido em um grande programa de TV. Explodiu no "clique a clique", a partir do compartilhamento febril do vídeo "Oração" no YouTube.
"A televisão não tem esse recurso. Você não pode compartilhar sua TV", diz Brasil.
A diretora lembra, no entanto, que aparecer na TV pode ajudar muito no desempenho do clipe na internet.
Existe uma reação em cadeia. O vídeo chama atenção na internet, a televisão repercute e leva o público à rede.
"Trechos do clipe da Gaby apareceram nos programas da Xuxa e da Regina Casé, por exemplo. E as pessoas acabaram voltando ao computador para vê-lo inteiro", diz Brasil.
Del Reginaldo, outro diretor que concorre ao VMB deste ano (confira a lista completa de indicados ao prêmio em folha.com/no1147626 ), lembra de outro fator que coloca a internet à frente da televisão como o melhor lugar para um videoclipe se abrigar.
Na rede, o filme pode ser visto para além das fronteiras do país e acaba, por vezes, trilhando carreira internacional. É o caso do clipe "Mariô", dirigido por Reginaldo e estrelado por Criolo, que repercutiu tão bem nos Estados Unidos que dois artistas daquele país vieram a sua procura para que fizesse também seus filmes. "Vira um produto de exportação --coisa que o clipe não era", diz.
Do outro lado, a diretora-geral da MTV, Helena Bagnoli, considera que o canal cumpre hoje o papel de curador nesse oceano de informações que são despejadas a cada minuto no YouTube.
"A gente faz uma seleção do que é relevante pelo nosso ponto de vista, do que o espectador não pode perder."
Para Zico Góes, diretor de programação da emissora, "o jovem muitas vezes prescinde da televisão para consumir entretenimento, mas a maior parte do conteúdo buscado na internet ainda é produzido pelas emissoras".
Segundo informações do mercado, o grupo Abril está em busca de compradores para a MTV. Oficialmente, a empresa afirma que não há nenhuma negociação em curso.
"A MTV não vai fechar", diz Bagnoli. "Estamos criando projetos grandiosos para o primeiro semestre do ano que vem e desenvolvendo formatos de programas para 2014. Fazemos parte do pacote publicitário do grupo Abril para a Copa do Mundo."
Se assim for, o VMB de 2013 está garantido. E os clipes você assiste antes na internet.
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