Nascido no final da década de 1960, o tropicalismo, um dos mais importantes movimentos artísticos do país, volta à cena como protagonista do documentário "Tropicália", de Marcelo Machado, 54, que estreou na sexta-feira (14).
Paulo Salomão/Editora Abril/Divulgação |
Cena do documentário "Tropicália", dirigido por Marcelo Machado ("Ginga"), que entrou em cartaz na sexta (14) |
Além da dupla, o longa-metragem é marcado por falas de Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e de um inspirado Tom Zé, responsável pelos momentos mais cômicos da fita.
Representantes do movimento em outras vertentes, como Zé Celso Martinez Corrêa, no teatro, e Glauber Rocha, no cinema, também estão presentes.
O tema, reconhece o próprio Machado (veja abaixo), já foi bastante debatido, mas, com suas raridades, como a cena de Caetano cantando "Asa Branca" em uma TV francesa, "Tropicália" se diferencia e faz um retrato histórico digno de um período marcante.
ABAIXO, LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O DIRETOR:
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sãopaulo - O filme começa pela decretação do fim do tropicalismo. Por quê?Marcelo Machado - Isso é um truque [risos]. O assunto já foi tão veiculado e debatido que existe uma mitificação em torno dele. A negação mostra que os próprios criadores do tropicalismo tinham uma visão crítica do que faziam. Ninguém se achava fazendo um movimento definitivo para a cultura brasileira. Acho que eles tinham a noção de que aquilo se esgotava naquele período. Então, fiz uma graça para também predispor o público a uma atitude menos reverencial e deslumbrada sobre o assunto.
O que motivou a filmar esse tema?
O interesse que tenho pela música popular brasileira. E, como cresci no pós-tropicalismo, tinha vontade de entender melhor o que aconteceu ali.
Qual é o público que vai ver a obra?
A rapaziada de 20 e poucos anos. O cinema brasileiro não está vivendo um bom ano em termos de público e eu sei do limite que os documentários têm no circuito comercial. Mas, como o maior objetivo do filme é o resgate de um momento interessante de criatividade, é bacana apresentar para quem está chegando agora. Espero que o pessoal jovem veja o filme.
Como foi o seu contato com Caetano, Gil e os demais protagonistas do filme?
Olha, no começo eles [os entrevistados] estavam um pouco cansados de falar sobre esse assunto, que aconteceu há mais de 40 anos. Assim, baseei a minha estratégia na pesquisa. Mantive um silêncio respeitoso e uma certa distância deles. Estudei, pesquisei, levantei material de arquivo para só no final realmente gravar os depoimentos. Eu já tinha uma primeira montagem do filme quando fui gravar as entrevistas.
Então, sabia exatamente o que eu precisava. E sabia também que, melhor do que fazer uma entrevista em si, era mostrar esse material para que eles reagissem. Selecionei uns dez minutos para cada um deles e aí mostrei. Fiz poucas perguntas. Contava que eles iriam se interessar e eventualmente se emocionar. Foi o que aconteceu.
Como teve acesso ao material raro do filme?
Aí foi pesquisa, muita pesquisa. Desde o início, sabia que iria fazer um filme com o máximo possível de imagens do período. Achava que isso iria fazer uma grande diferença. Então, a gente [o diretor e sua equipe] partiu para um processo intensivo de pesquisa. Tive dois pesquisadores no projeto, um em São Paulo [Eloá Chouzal] e um no Rio [Antônio Venâncio], e a gente vasculhou arquivos como os da Cinemateca e o da TV Record. E também os não-organizados.
Essa coisa mesmo de tocar a campanhia e buscar o material na casa das pessoas. "Ouvi dizer que você morou nesse período junto com fulano. Tem aí alguma fita. Fez alguma gravação?". Foi uma garimpagem. E é claro que esse garimpo é muito divertido, né? Cada vez surgia uma pepita. Em paralelo, eu ia lendo tudo o que existe publicado sobre esse assunto e, por meio dessas leituras, a gente ia tendo ideias de onde ir buscar mais material.
Quais são as suas músicas favoritas do tropicalismo?
Que difícil escolher assim, mas, entre outras, eu gosto muito de "Tropicália", "A Voz do Morto", "Back in Bahia" e "Coração Materno". [Clique aqui e ouça as músicas selecionadas pelo diretor].
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