NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
"E quando ela falou que era transexual, cara. Não acredito." Aos prantos, o machão marombado Diogo precisa ser consolado por uma amiga. Ele soluça. A causa do choro é sua nova amiga, a trans Ariadna. "Vou ser sempre amigo dele", lamenta o macho, confuso, sem saber se chama a pessoa de quem gosta de ele ou ela. Ver um macho alfa chorar por causa da amizade com um trans mostra um ponto de evolução na escala humana. De perto, todo mundo é normal. Diogo provavelmente jamais conversaria com "um trans" na vida real. Talvez já tenha colocado a cabeça para fora ao ver um travesti e gritado: "viado". Mas, ao conviver com Ariadna, viu que ela era gente, como ele. E fez uma declaração de amizade sincera.
A saída da transex Ariadna no primeiro paredão do "BBB" não desagradou só Diogo. Até a produção do programa ficou frustrada, o que fez com que Pedro Bial desse bronca nos participantes. Tratar seres humanos com dignidade não é a principal característica de um programa que já fez com que participantes passassem uma noite vestidos de galinha, na chuva. O "BBB" humilha. E quem entra no disputadíssimo jogo nem reclama.
Ariadna não reclamou. Mas, sem derramar uma lágrima, soube se virar muito bem. E gritou bem alto para quem quisesse ouvir, que era, sim, trans, fazendo um gesto de orgulho. Todos lamentam que ela tenha saído tão rápido. A crise de Ariadna (ela não se dá com a família, já foi garota de programa, já apanhou) era o ponto alto da dramaturgia do programa. Mas a moça conseguiu alguma coisa, mesmo que não seja prêmio em dinheiro. Ela fez um macho chorar. E isso não é pouco.
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