José Luiz TeixeiraDe São Paulo
Assim como não acredito em bruxas, mesmo sabendo que elas existem, também descreio das profecias que tenho lido e ouvido ao longo da vida.
Esta semana, porém, confesso ter me surpreendido com a previsão, confirmada em parte, do sismólogo italiano Raffaele Bendani, falecido em 1979. Em princípio, segundo seus cálculos, aconteceria um abalo na última quarta-feira, em Roma, o que fez com que milhares de romanos abandonassem a cidade na véspera daquele dia.
O movimento das tais placas tectônicas, entretanto, aconteceu na hora certa, mas no lugar errado: em vez da capital da Itália, pegou desprevenidos os habitantes de Lorca, na Espanha.
Não sei a distância exata entre as duas cidades, mas não estão muito longe uma da outra; são municípios de dois países vizinhos, ainda que não dividam fronteiras. Por isso, o vaticínio de Bendani não pode ser desqualificado; os cálculos não foram precisos, algum imponderável físico pode ter desviado um pouco o epicentro do fenômeno, mas o terremoto aconteceu, estava lá na hora marcada. O 'sismólogo profeta' já havia previsto e acertado o tremor de terra que abalou Friuli, na Itália, em 1976, causando mais de mil vítimas - daí o justificado temor de muitos italianos, na quarta-feira passada.
Bendani alegava que abalos sísmicos são resultados de movimentos combinados de planetas e, por isso, podem ser detectados com antecedência. Essa teoria vinha sendo desconsiderada por astrônomos e sismólogos diplomados; quero ver o que dirão agora. A verdade é que neste meu meio século e pico de existência, foi a primeira vez que soube de uma previsão antes do acontecimento do fato que, realmente, acabou acontecendo como anunciado.
Só do fim do mundo já ouvi umas oito profecias, todas furadas, felizmente, e mais felizmente ainda porque, precavido, não saí por aí beijando na boca de quem não devia. Vi, também, a desmoralização de vários anticristos que teriam surgido e que não passavam, no final das contas, de antiamericanos ou antissoviéticos, dependendo do ponto de vista do observador. Com exceção dessa previsão de Bendani, até hoje as únicas profecias 'confirmadas' foram aquelas comprovadas apenas depois que aconteceram. Com Nostradamus, por exemplo, é sempre assim: depois de dar-se o fato, seus seguidores pinçam uma centúria e interpretam-na de acordo com o ocorrido - desse jeito, nunca falha. Resta saber o que ocorrerá em 2012, mas, nesse caso, ao que parece, não vai ficar ninguém para contar a história.
José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha da Tarde.


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