terça-feira, 3 de maio de 2011

Redes sociais se transformam em sistemas de alerta para furos jornalísticos

Brian Stelter and Jennifer Preston /THE NEW YORK TIMES
  • Twitter, Facebook e outros serviços de compartilhamento de mensagens ajudaram os internautas a reagir às notícias da morte de Bin Laden, fazendo com que surgissem multidões de improviso no Marco Zero (lugar onde ficava o World Trade Center), em Nova York Twitter, Facebook e outros serviços de compartilhamento de mensagens ajudaram os internautas a reagir às notícias da morte de Bin Laden, fazendo com que surgissem multidões de improviso no Marco Zero (lugar onde ficava o World Trade Center), em Nova York
Quando a Casa Branca anunciou abruptamente um discurso do presidente Barack Obama à nação na noite do último domingo, os apresentadores da CNN passaram cerca de uma hora assistindo antecipadamente à fala do presidente sem na verdade dizerem qual era o assunto tratado.
“Eu tenho a minha própria intuição sobre o que pode ser isso”, disse umas duas vezes o âncora da CNN Wolf Blizer, acrescentando que uma autoridade graduada da Casa Branca o agradeceu por ter demonstrado “controle” e não ter feito especulações.Graças ao Twitter e ao Facebook, alguns telespectadores da CNN já sabiam das notícias. Relatos não confirmados – que se mostraram verdadeiros – da morte de Osama Bin Laden circularam intensamente nas redes sociais por cerca de 20 minutos antes que os âncoras das principais redes de televisão falassem a respeito da missão militar norte-americana às 22h45, cerca de uma hora antes do discurso de Obama na Casa Branca.Esse foi mais um exemplo de como as mídias sociais e as tradicionais lidam com as mesmas notícias de formas e velocidades diferentes. Assim como a CNN no passado superou os jornais e telejornais noturnos com um fluxo contínuo de imagens da primeira Guerra do Golfo, o Twitter e o Facebook transformaram-se em sistemas antecipados de alerta para os furos jornalísticos – embora nem sempre confiáveis.O Twitter acusou a mais elevada taxa contínua de tuítes da sua história, com uma média de 3.440 mensagens por segundo na sua plataforma de 22h45 a 00h30 (horário da costa leste dos Estados Unidos). Houve mais de cinco milhões de referências a Bin Laden no Facebook só nos Estados Unidos, à medida que as notícias sobre o ataque ao esconderijo de Bin Laden se disseminavam por volta de 22h30. Uma nova página do Facebook surgiu com o título “Osama Bin Laden Está Morto” para que as pessoas começassem a compartilhar as suas opiniões. Ontem a página já tinha mais de 400 mil fãs (uma nova página, “Osama Bin Laden Não Está Morto”, logo se seguiu à primeira).
As mensagens de texto e as redes sociais não só ajudaram as pessoas a consumir e disseminar notícias sobre a morte de Bin Laden. O Twitter, o Facebook e outros serviços de compartilhamento de mensagens também ajudaram os internautas a reagir às notícias, fazendo com que surgissem multidões de improviso no Marco Zero (lugar onde ficava o World Trade Center), em Times Square e em frente à Casa Branca.
Isso fez com que alguns repórteres e observadores tentassem colocar a experiência compartilhada das notícias sobre Bin Laden dentro do contexto apropriado. “É o momento Kennedy para uma nova geração”, disse Alan Fisher, um correspondente da Al-Jazeera em inglês. “A minha geração se lembrará do 11 de setembro de 2001 e da morte da princesa Diana. Para esses jovens, a morte de Osama terá a mesma escala devido ao seu impacto global”.Sam Dulik, 20, um aluno de Estudos Latino-americanos da Universidade Georgetown, redigia um trabalho no seu quarto no dormitório estudantil quando examinou a sua página do Facebook e viu uma atualização feita por um amigo, fazendo referência ao anúncio iminente por Obama e à especulação a respeito da morte de Bin Laden.“A notícia simplesmente correu como fogo pelo Facebook”, diz Dulik, que viu em tempo real os fragmentos da notícia explodir na sua página do Facebook. A seguir ele recebeu apelos para que os estudantes se reunissem nos portões da universidade e rumassem para a Casa Branca.“Pela primeira vez na vida, em vez de simplesmente me informar, o Facebook me fez agir”, conta Dulik, que retirou uma bandeira norte-americana da parede do seu quarto e saiu do dormitório.
Assim que o presidente anunciou a notícia, os usuários do Instagram, um aplicativo de distribuição de fotos para o iPhone, inundaram o serviço com fotos de Obama falando, retiradas de telas de televisores e laptops. Logo havia fotos de bandeiras norte-americanas e, a seguir, de multidões reunidas em Nova York e Washington.Por volta de 23h, durante um jogo entre Mets e Philies no Citizens Bank Park, em Filadélfia, gritos de “USA! USA!” começaram a ecoar perto da linha da terceira base. Billy Wichterman, 30, um coletor de entradas, pegou o seu iPhone, fez uma busca no Twitter e descobriu o motivo dos gritos no estádio.Outras pessoas na multidão permaneceram cautelosas. “A princípio, fiquei um pouco cética porque sabia que no passado houve relatos semelhantes, mas os ataques aéreos não tiveram sucesso”, disse Julia Hays, 24, da cidade de Pitman, no Estado de Nova Jersey, que estava no estádio assistindo ao jogo. “Foi então que eu vi vários amigos mandando tuítes sobre isso – dizendo que Obama estava prestes a dar a notícia. Depois eu ouvi os gritos e vi as pessoas pegando os telefones celulares e verificando se era verdade”.
O que faltava na maioria desses serviços era a apresentação original das notícias. Isso foi deixado a cargo das redes de notícias, particularmente aquelas poucas que tinham repórteres no Paquistão. “Os nossos repórteres em Cabul falaram com chefes de segurança afegãos que disseram que isso aconteceu muito tarde – que existe agora um Bin Laden em cada rua”, disse Peter Horrocks, o diretor da BBC Global News, em uma mensagem de e-mail.Dan Gillmor, autor do livro “We the Media: Grassroots Journalism for the People, by the People” (“Nós, a Mídia: Jornalismo de Base para o Povo, pelo Povo”), que leciona jornalismo na Universidade do Estado do Arizona, disse que é importante ter cautela quanto ao impacto da forma como as pessoas estão consumindo notícias em tempo real, particularmente tendo em vista os relatos errados que ocorreram após outro fato que foi manchete, quando várias organizações de notícias anunciaram que a deputada Gabrielle Giffords havia morrido no tiroteio em Tucson, no Estado do Arizona.“Eu acho que devemos ser cautelosos em relação ao valor dessas redes”, opina Gillmor. “O valor de tais redes é enorme para todos os envolvidos, incluindo os usuários. Eu creio que nós deveríamos ter cautela no se refere a deixar todas as nossas conversas relativas às coisas que nós próprios controlamos a cargo de companhias privadas que estão no ramo apenas para garantir os lucros dos seus acionistas.”

Tradução: UOL

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