O dia de hoje foi atípico. Sentimento de dor, perda, injustiça. Na noite de ontem, mais um jovem gay assassinado no Brasil. Dessa vez, em São João del-Rei/MG. Um jovem de 18 anos perde a vida de forma brutal e injusta.No velório amigos, família e comunidade. Um só discurso: foi injusto, queremos justiça.
Até que a Polícia civil investigue e conclua o inquérito o que se tem como certo é um jovem gay assassinado pelo próprio companheiro por não aceitar o término do relacionamento conturbado dos últimos meses. Relacionamento marcado pela violência, anulação do afeto, manifestação do machismo. Aquele mesmo machismo que faz o homem bater na mulher, assassinar a mulher. O machismo que projeta nas mulheres e gays a imagem de servis, de fracos, de objetos que estão ali para satisfazer os desejos e vontades do macho dominador, mandante da relação, que se sente dono do outro ser humano.
Hoje no velório pude acompanhar parte do sofrimento da família. Uma família destruída pelo machismo e violência decorrente do mesmo. Pude ver um adolescente gay de 15 anos chorando copiosamente porque também está sendo ameaçado de morte pelo assassino que continua solto pelas ruas da cidade. Esse mesmo adolescente que teria um relacionamento com o que foi assassinado virou o alvo do machista assassino. Não aceitando o término da relação o assassino passeia de moto pelas ruas do bairro Sr. Dos Montes e ameaça o adolescente gay de morte. Chamamos a PM. Do outro lado da linha a atendente diz que pouco pode fazer porque o efetivo da PM é insuficiente para atender uma demanda crescente. Depois de um tempo a PM chega e registramos ocorrência. Na mesma hora desço no prédio da polícia civil para pedir ajuda e proteção. A Polícia civil pouco pode fazer. Seja pelas dificuldades já conhecidas da polícia, seja pelos entraves de um código penal atrasado e ineficiente. Começo da noite de hoje recebo um telefonema. Era o adolescente de 15 anos. Acabara de ser agredido a pauladas pelo assassino machista. Conseguiu se livrar.
Chamou a PM. Mais um BO registrado. Exame de corpo e delito feito. Uma família apavorada precisando de ajuda e proteção. Mais um gay correndo risco de morrer e agredido a pauladas. Diante desse cenário temos a PM com pouco efetivo em busca do assassino. A polícia civil engessada porque precisa da prisão do assassino. O movimento gay denunciando e pressionando pela prisão do assassino. Temos de concreto um gay assassinado, uma família destruída. Um gay ameaçado de morte e uma família prestes a ser destruída. Ausência de uma política pública de proteção dos direitos humanos, de mecanismos que garantam a proteção efetiva desse gay ameaçado de morte e dessa família prestes a ser destruída. Ausência de ações da comissão de direitos humanos da Câmara Municipal. Nenhuma autoridade se manifestando publicamente, omissão total e nenhuma cobrança por justiça. Ausência de políticas de juventude. Pode público omisso.
As horas passam. A ansiedade aumenta. Resta torcer, torcer muito para que a PM consiga prender o assassino e torcer para que nenhuma artimanha de um bom advogado consiga colocar o assassino novamente nas ruas. O movimento gay não se omite. Vem a público exigir das autoridades a prisão imediata do assassino. O emprego de um efetivo capaz de dar proteção à família do adolescente gay que está sendo ameaçado de morte pelo assassino que continua livre pelas ruas da cidade. Exigimos que a administração pública e câmara municipal saiam de sua zona de conforto e vá à luta pela justiça, punição do assassino na forma da lei e pela imediata instituição da secretaria municipal de direitos humanos. Secretaria que há anos o movimento gay reivindica, mas que é ignorada.
Amanhã é um novo dia, uma nova esperança. A noite será longa...
Indignado com esse sistema machista que mata mulheres e gays como se fosse o correto. Indignado pela ausência e omissão do poder público. Chamam de crime passional. Eu chamo de cultura brasileira machista, opressora, que desdenha quando são os gays e mulheres os assassinados. Eu chamo de falta de vontade política a ausência de políticas públicas de proteção e promoção dos direitos humanos de mulheres, homossexuais, jovens, portadores de deficiência, população negra e tantas outras populações vulneráveis.
Façamos a nossa luta, uma luta que não acaba nunca... Pelo fim do machismo e conseqüente homofobia. Pelo direito à vida dos jovens gays que estão sendo brutalmente assassinados em nosso país. Que país é esse? É a porra do Brasil!!!!
Carlos Bem
Coordenador Movimento Gay da Região das Vertentes
Diretor de Direitos Humanos da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais
Conselheiro Municipal de Saúde de São João del-Rei, Minas Gerais
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