terça-feira, 30 de agosto de 2011

Em 2011, 700 professores se licenciaram na rede pública de Vitória por problemas psiquiátricos

Flávia Bernardes
Especial para o UOL
Em Vitória


Depressão, transtornos de ansiedade, transtornos bipolares e o estresse são as doenças responsáveis por mais de 50% dos afastamentos dos professores da rede municipal pública de Vitória, no Espírito Santo, segundo o Sindiupes (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo).
Segundo o levantamento do sindicato, foram concedidas 700 licenças médicas por problemas psiquiátricos até agosto de 2011, sendo 356 por depressão, 187 por transtornos de ansiedade, 41 por transtornos bipolares e 72 por estresse. No total, a rede possui cerca de 4.000 docentes.Na avaliação do diretor  do Sindiupes, Rafael Ângelo Brizotto, o quadro é "grave". “Hoje os professores estão doentes devido à excessiva carga horária de trabalho, o grande número de alunos que prejudica a organização, o pouco tempo que há para se deslocar entre uma escola e outra, inclusive, que impede muitas vezes que o professor  almoce, o que consequentemente acarreta um caos na saúde do profissional”, disse Brizotto.Segundo o Sindiupes, os mais de 50% de educadores de Vitória afastados da rede municipal de educação deve-se também ao medo da violência sofrida muitas vezes por alunos de apenas 12 e 13 anos e aos baixos salários.

Preocupante

Segundo a doutoranda e funcionária dos Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Educação de Vitória, Karla Veruska Azevedo, o número de licenças é, sem dúvida, preocupante. Segundo ela, no primeiro semestre deste ano, os licenciamentos ocorreram primeiramente nos casos que tratam de mães e esposas (problemas ligados a família e a saúde); em 2º por problemas respiratórios (sinusite, asma, bronquite); em 3º devido a recuperações cirúrgicas e em 4º devido as doenças chamadas da modernidade, como a depressão e o estresse.
“Entendemos que essa situação se estende ao externo também, ou seja, se constitui tanto dentro do trabalho como fora, na ligação com a família, a cidade, entre outros agentes”, disse Karla Azevedo.
Neste sentido, além da medicina do trabalho que acompanha e discute o problema, foi formado pela prefeitura de Vitória um grupo de trabalho que atua integrado com as escolas e seus atores para identificar os problemas. Segundo ela, um seminário vem sendo organizado para unir as propostas neste sentido.
Entre as medidas em andamento, Karla Azevedo informou que há um trabalho específico para diminuir o número de alunos na sala de aula, que hoje chega a atingir 35 alunos por sala de aula.  Entretanto, o trabalho é gradativo,  já que é necessário estrutura para alocar os alunos removidos das salas em questão e reduzir a quantidade para 30 alunos por sala no máximo. “O afastamento dos educadores também é uma preocupação nossa, afinal, a conseqüência deste problema é um buraco na educação”, ressaltou Karla Azevedo.Só em 2010, por exemplo, foram 7.587 licenças médicas concedidas a funcionários do magistério da rede municipal de Vitória. Em primeiro lugar na causa dos afastamentos estão problemas respiratórios, seguido por doenças músculo-esqueléticas (dores nas costas, artroses, dores lombares ou outras dores pelo corpo). Já os distúrbios psiquiátricos apareceram em terceiro lugar no ranking com 703 casos durante todo o ano de 2010 – número bem inferior aos 700 já registrados no primeiro semestre de 2011.
FEVEREIRO DE 2011-Em SP, concurso reprova professor que teve depressão

Professores aprovados no último concurso para a rede estadual de São Paulo estão impedidos de assumir seus cargos por terem tirado, em algum momento de suas carreiras, licenças médicas por motivo de depressão. Por essa razão, devem continuar com contratos temporários. Especialistas afirmam que a decisão é preconceituosa.
O concurso que selecionou docentes para atuar no ciclo 2 do ensino fundamental tem diversas etapas: prova inicial, curso de preparação (que dura cerca de quatro meses), prova pós-curso e diversos exames de perícia médica - fase na qual os professores que tiveram depressão foram "reprovados". Docentes míopes e obesos também foram impedidos de assumir seus cargos nessa mesma seleção.

A psiquiatra da Unifesp Mara Fernandes Maranhão afirma que vetar um docente pelo fato de ele ter tido depressão é preconceito. "Toda pessoa está sujeita a passar por situações difíceis", explica. "Aquelas que têm propensão ou componente genético desenvolvem processos depressivos". Segundo ela, são poucos os quadros realmente curáveis, já que há grande chance de recorrência. "Mas a doença é tratável e, com acompanhamento, o paciente pode voltar a trabalhar normalmente"Eli Alves da Silva, presidente da Comissão de Direito Trabalhista da OAB-SP, concorda. "Essa pessoas estão sendo discriminadas pelo próprio Estado, que é quem deveria combater esse tipo de coisa". Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), o governo deve "propor acompanhamento a todos os casos de professores com problemas de saúde e não alijá-los do trabalho". A entidade ressalta que seu departamento jurídico tem ingressado com ações na Justiça para garantir aos professores nessa situação o direito de lecionar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
"A depressão é ainda infelizmente uma doença a que muita gente dá pouca importância em termos sociais. Eu era também daqueles que, por pura ignorância (preconceito), considerava a depressão uma demonstração de “preguicite aguda”, até assistir ao drama pessoal de duas colegas que apanharam uma depressão profunda. Uma delas nunca conseguiu recuperar totalmente, revelando falta de força para acompanhar ritmos normais de trabalho, denota perdas de memória, qualquer assunto de simples resolução é uma enorme complicação, demonstra enormes níveis de insegurança pessoal sofrendo ainda de crises terríveis de ansiedade. A outra colega ficou “incapaz para qualquer trabalho e teve aposentação antecipada com cerca de 45 anos de idade.Foi aí que mudei a imagem preconceituosa que tinha da depressão.Sabe-se quando começa uma depressão, mas nunca se sabe quando ela acaba!
Mas o pior, é que, quando mal curada e mal acompanhada, a depressão pode diminuir em muito as capacidades intelectuais de uma pessoa. Para quem no quotidiano lida com várias pessoas, como é o caso dos professores, é necessário uma grande higiene mental para que a depressão não tome conta das nossa vidas.
Técnicas de relaxamento, convívio com os amigos, sair de casa mesmo quando não nos apeteça, evitar a rotina, saídas aos fins de semana, boa alimentação, são factores que dou agora mais importância depois daquilo a que assisti dessas colegas.
Quando mais de 40% dos professores, em algum momento da vida, sofreram ou ainda sofrem de depressão, estamos perante uma situação, desculpem a minha ousadia pouco científica, de doença profissional. Por esse motivo os professores deveriam ter um regime especial de aposentação, mais cedo para os professores do 1º e 2º ciclo, um bocado mais tarde para os professores do 3º ciclo e secundário. Não se compreende a atitude deste de governo em exigir que as condições mínimas para a aposentação dos professores sejam 40 anos de serviço e 65 anos de idade, pois serão muito poucos aqueles que aguentarão tal meta. Com a experiência de ex-PCE (8 anos) posso garantir, com pouca margem de erro, que a maior parte dos professores a partir dos 55 anos de idade já demonstra um enorme desgaste profissional: irritabilidade, perdas de memória, lapsos durante as aulas, etc, etc. Note-se que fui PCE de uma escola que na altura tinha mais de 250 professores, e de facto eram poucos os docentes que a partir dos 55 anos demonstravam a “energia” necessária e suficiente para “defrontar” as vicissitudes emocionais da docência.
Tenho assistido a uma verdadeira explosão de casos depressivos, resultantes não só de um burnout provocado pela humilhação a que fomos sujeitos, mas também por enorme aumento da carga de trabalho. "(Pedro Castro )
A falta de acompanhamento médico de professores afastados da sala de aula, por problemas de depressão, também ocorre no Executivo Federal. A Coluna mostrou que os docentes do estado não recebem assistência quando se afastam, mesmo com a depressão, a ansiedade e a Síndrome do Pânico representando 70% dos motivos de licença-médica.Segundo o Ministério do Planejamento, o que existe atualmente são programas de prevenção que estão inseridos no Siass (Sistema de Atenção à Saúde do Servidor). Os trabalhos acabam direcionados para as principais doenças que afastam servidores do trabalho. A pasta informou que é de responsabilidade do órgão criar projetos de prevenção condizentes com a realidade do funcionário.Já a Secretaria Estadual de Educação informou que o Programa de Saúde Mental, oferecido pela pasta, tem orientado os professores nas situações de conflito e tensão no ambiente escolar. De acordo com a secretaria, uma equipe volante, composta por educadores e psicólogos, dá suporte imediato em situações de emergência. Há palestras e reuniões com pais e alunos. Os profissionais que atuam no programa não fazem perícia no professor estaduais. Apenas atuam na prevenção de doenças.

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