sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tony Goes: Nós Matamos Salomão Hayalla

Rodrigo Lombardi está péssimo em "O Astro". E digo mais: está deliciosamente péssimo. Sua atuação cheia de olhares enigmáticos é uma homenagem e também um passo adiante à criação original de Francisco Cuoco. Afinal, não dá para interpretar um personagem chamado Herculano Quintanilha sem mergulhar na canastrice. O remake de "O Astro" vem se revelando um prazer culpado. Todo o elenco parece estar se divertindo muito, debaixo de perucas que ameaçam despencar a qualquer momento e quantidades industriais de maquiagem. Muito se manteve da produção de 1977: o logo, a ótima música de João Bosco na abertura e até mesmo o tema romântico de Amanda e Herculano, totalmente inapropriado. Ninguém percebeu que "I'm Easy" não é uma canção de amor? Ou melhor, é sim - é uma longa declaração de amor a si mesmo.
Alex Carvalho/TV Globo
Rodrigo Lombardi está deliciosamente péssimo no papel de Herculano Quintanilha
Rodrigo Lombardi está deliciosamente péssimo no papel de Herculano Quintanilha

Muito da diversão deriva da história destrambelhada de Janete Clair, que se mostra envelhecida mesmo com o botox da adaptação. A verdadeira fundadora do estilo brasileiro de fazer novela nunca ligou para a verossimilhança, no que é louvada até hoje pelos autores contemporâneos - muitos deles seus discípulos.
Mas algumas das situações que ela criou parecem agora muito ingênuas, quase tolas. Socialite que frequenta show de mágica? Herdeiro milionário desapegado dos bens materiais? Oi? Em que século estamos?
Talvez seja por isto que o público vem rejeitando a "nova novela das 11". A audiência caiu quase pela metade desde a estreia. De nada vêm adiantando as chamadas quilométricas que a emissora transmite todos os dias, com os próprios atores narrando o desenrolar da história. São resumos tão completos que servem para quem dorme cedo acompanhar a trama sem ter que assistir a um único capítulo.
É uma pena. "O Astro" é um exercício kitsch, um retorno à emoção descabelada e sem compromisso com a realidade. Quem sabe o assassinato de Salomão Hayalla, ocorrido ontem de maneira espetacular, atice o interesse do público.
Mas duvido. Mesmo que o assassino não seja mais o mesmo de antes - desta vez Felipe Cerqueira nem chegou à cena do crime, tendo ficado num quiosque no Recreio dos Bandeirantes. Salomão está morto e enterrado, e ninguém mais dá a menor bola. "O Astro" está mal das pernas. E o culpado somos nós, os espectadores, que o atingimos com a nossa indiferença.
Tony Goes, tem 50 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longa-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.

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