DO "NEW YORK TIMES"
Pesquisadores italianos obtiveram êxito em um experimento que utiliza um "cigarro eletrônico" para controlar o vício do fumo.
A equipe, liderada por Riccardo Polosa, da Universidade de Catania, recrutou 40 fumantes inveterados e ofereceram a eles apenas um dispositivo já disponível nas lojas por US$ 50 (cerca de R$ 88).
Viktor Koen/The New York Times | ||
Ilustração brinca com o e-cigarro, que na verdade é um cigarro com uma solução de nicotina líquida vaporizada |
O cigarro eletrônico, ou e-cigarro, contém um pequeno reservatório com uma solução de nicotina líquida que é vaporizada para formar um aerossol. O usuário inala e expele o vapor para obter um pouco da nicotina --e a sensação familiar de trazer o cigarro até a boca-- sem as substâncias nocivas presentes no cigarro. Após seis meses, mais da metade das pessoas que realizaram o experimento tinha reduzido o consumo habitual de cigarros em pelo menos 50% e aproximadamente um quarto parou de fumar.
Embora o estudo-piloto seja de pequenas proporções, os resultados coincidem com outras evidências animadoras, reforçando a esperança de que os e-cigarros possam se tornar a ferramenta mais eficaz já utilizada para reduzir o número de mortes devido ao tabagismo.
MOVIMENTO CONTRA
Contudo, há um grupo trabalhando contra a inovação --e não são os produtores de cigarros. Trata-se de uma coalizão entre autoridades governamentais e grupos antitabaco que vêm alertando sobre os perigos dos cigarros eletrônicos. Eles querem proibir as vendas.
A controvérsia faz parte do longo debate filosófico sobre políticas de saúde pública, com uma estranha inversão de papeis. No passado, os políticos conservadores tendiam a apoiar políticas de abstinência ao lidar com problemas como gravidez na adolescência e dependência de heroína, enquanto que os liberais apoiavam estratégias de redução de danos como o incentivo ao controle de natalidade e a distribuição de metadona. Porém, quando o assunto é nicotina, os apoiadores da abstinência tendem a ser mais liberais, incluindo políticos do partido Democrático nos níveis estadual e federal, que vêm tentando pôr fim às vendas e proibir o uso de cigarros eletrônicos em locais onde o fumo é proibido. No entender deles, os fumantes que desejam fazer uso de fontes alternativas de nicotina devem usar apenas produtos totalmente testados, como a goma de mascar e os adesivos prescritos, usando-os apenas por um período breve, a fim de abandonar por completo a nicotina. O FDA (órgão que fiscaliza alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) tentou pôr fim às vendas de e-cigarros, considerando-os como "dispositivos para administração de medicamentos" que não poderiam ser comercializados até que sua segurança e eficácia fossem demonstradas em testes clínicos.
A agência teve o apoio da Sociedade Americana de Câncer, da Associação Americana de Cardiologia e das organizações Campanha para Crianças Livres de Cigarro e Ações Sobre Tabagismo e Saúde.
No ano passado, os apoiadores da proibição perderam a batalha com a rejeição no tribunal, mas continuam na briga por meio de propagandas dos supostos perigos do e-cigarro. Eles afirmam que o dispositivo, assim como o tabaco sem fumaça, reduz o estímulo para que as pessoas abandonem a nicotina e também pode ser a porta de entrada no vício para jovens e não fumantes.
Além disso, citam os alertas do FDA de que diversas substâncias químicas presentes no vapor podem ser "nocivas" e "tóxicas". A agência, porém, nunca apresentou provas de que os vestígios dessas substâncias façam mal à saúde, e desprezou a menção de que vestígios similares das mesmas substâncias podem ser encontrados em produtos aprovados pelo FDA, incluindo os adesivos e as gomas de mascar com nicotina.
AUMENTO
O número de americanos que experimentaram o e-cigarro quadruplicou entre 2009 e 2010, de acordo com os Centros de Controle de Doenças.
Uma pesquisa feita nesses órgãos, realizada em 2010, descobriu que 1,2% dos adultos americanos, ou aproximadamente 3 milhões de pessoas, relataram ter usado o e-cigarro no mês anterior.
"Os cigarros eletrônicos podem substituir uma grande quantidade, ou a maior parte, do consumo de cigarros nos Estados Unidos na próxima década", afirmou William T. Godshall, diretor executivo da Smokefree Pennsylvania. Seu grupo realizou campanhas pelo aumento dos impostos sobre os cigarros, pela proibição do fumo em locais públicos e por advertências com imagens fortes nos maços.
Em relação ao e-cigarro, ele diverge de muitos de seus antigos aliados. "Não há evidências de que os e-cigarros já tenham causado danos a alguém", disse Godshall. "Ou de que jovens ou não fumantes tenham começado a usá-los." Em uma escala de nocividade de 1 a 100, em que as gomas de mascar e os tabletes de nicotina têm nocividade 1 e os cigarros, 100, ele estima que a nocividade dos e-cigarros não ultrapasse 2. Caso milhões de pessoas trocassem o hábito de fumar pela inalação do vapor, isso representaria um desafio para a opinião comum em relação ao movimento antitabaco.
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