sexta-feira, 30 de março de 2012

Rick Bonadio tenta repetir Rouge em novo reality show

ALEXANDRE ARAGÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na sala de espera do estúdio Midas, no bairro da Casa Verde (região norte de São Paulo), o disco triplo de platina do grupo Rouge está pendurado acima de todos os outros prêmios --de artistas como Mamonas Assassinas, Rita Lee e NXZero. Em comum, o produtor musical dessas obras: Rick Bonadio.

Ex-jurado do programa "Ídolos", Bonadio se juntou novamente à produtora Floresta e à gravadora Sony para tentar repetir o sucesso de "Popstars", reality show que lançou, em 2002, o quinteto de meninas Rouge. Por enquanto, o novo programa ainda não tem nome, mas o projeto está pronto e seus criadores negociam com canais abertos e fechados sua exibição.Com o programa o produtor quer "contar a real" sobre como uma banda é montada e deve terminar com um grupo pop de meninas. "Elas vão poder cantar e dançar", diz o produtor. "Mas não precisam, necessariamente, cantar. Formato Spice Girls."

Leia a entrevista com Rick Bonadio.
*
sãopaulo - Há um ano, quando você entrou como jurado no "Ídolos", comentou que queria fazer uma banda de meninas. O que mudou de lá para cá, em relação a esse projeto?
Rick Bonadio - Ele evoluiu, acabou tomando uma forma. Não sei se falei isso na época, mas agora minha ideia é formar um grupo de meninas e mostrar na televisão. Eu decidi sair do "Ídolos" para fazer isso. Quero que o público saiba de verdade como se faz uma banda. Não vou esconder, quero desmistificar.
Sua experiência com o "Ídolos" foi frustrante?
Não foi frustrante porque aprendi muita coisa, mas foi conclusiva do ponto de vista de que um ídolo não vai a um programa de televisão tomar esporro de um jurado desconhecido. Não acho que você consegue encontrar um ídolo usando aquele formato. Acho que a televisão tem que alavancar o sucesso. A partir do momento em que o programa de televisão é só dar audiência, para mim se torna desinteressante.No novo programa a gente vai contar de verdade como se constrói uma banda de sucesso. Vou contar a real. O ponto principal é fazer um programa numa plataforma que entregue ao público exatamente o que eles nunca viram, mas sempre tiveram vontade de saber. Você não tem curiosidade de ver como é formada uma banda, de verdade?
Você não acha que isso pode frustrar o público?
Espero que não. Acho que se você chegar para o público e mostrar que a coisa é simples, mas é mágica, vai criar uma coisa algo mais prazeroso do que qualquer enganação que existe hoje. O grande lance da música é que não é uma questão matemática, dois mais dois não é igual a quatro.
Qual o estilo da banda feminina que você quer fazer?
Elas vão poder cantar e dançar. Mas não precisam, necessariamente, cantar. Formato Spice Girls.
Num formato do "Ídolos" é totalmente impossível formar uma banda como a que você queria?
É, sim. É um formato que caminhou para o show de calouros, e não dá para bater o Silvio Santos e o Raul Gil, ninguém nunca vai conseguir. Você não desenvolve o artista, não treina ninguém. O cara canta o que a produção determina --você destreina o artista, aliás. Porque se ele é bom no rock, vai cantar sertanejo, e vice-versa. O fato na minha profissão é tirar da pessoa o que ela faz bem, aí eu vou e faço exatamente o contrário. Isso não é legal, não faz sentido.
Você acha que agora é o momento certo de voltar com o formato de "boyband", como a One Direction, que está fazendo bastante sucesso nos EUA?
Não, "boyband" no Brasil não funciona. Americano é outra coisa. No Brasil, essa função é ocupada pelas bandas de rock. As brasileiras, principalmente, não gostam de ver meninos dançando.
E algo no estilo da banda Lipstick, que era composta somente por meninas e você produziu?
Menina tocando no Brasil é que não dá certo, é o contrário. Porque menina não sabe tocar. Meninas tocando são raras, você não consegue juntar cinco que tocam bem. Uma banda de meninas é muito difícil.
E em relação à seleção das participantes, como vai ser?
Vai ter um site em que meninas de 15 a 25 anos poderão mandar vídeos delas cantando, e todos poderão ver quem são as aspirantes. Todas as inscritas vão ser ouvidas, e vai ter uma equipe para selecionar as cem melhores para a primeira etapa.
O problema dos reality shows de música é o descompasso de interesses entre os produtores da televisão e os produtores musicais?
Com certeza. É preciso fazer uma escolha entre um programa de televisão ou um programa de televisão no qual, depois, o artista vai fazer sucesso. O "Ídolos", nesse ano, parece que vai dar um prêmio financeiro para o ganhador. Então eles já estão assumindo que o cara não vai fazer sucesso. É que nem antigamente, quando a Aracy de Almeida falava: "Vai levar dez paus!". É a mesma coisa.
Como deveria ser a participação do público em um reality show de música?
Outra, totalmente diferente da que acontece nos programas atuais. O público deveria se envolver com a realidade de cada participante. Um exemplo disso é o "Big Brother", que não se propõe a nada --por isso eu acho até que funciona muito bem. É a gostosa, o caipira, o bonitão, o modelo, o doido... Mas eles não se propõem a nada. A única proposta é: público, envolva-se com essas pessoas e vote na que você gostar mais. Acho que é muito honesto.

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