segunda-feira, 21 de maio de 2012

'House' apostou na repetição de uma fórmula em seus roteiros

Série termina nesta segunda (21), nos EUA, após oito temporadas.
Dirigido por Bryan Singer ('X-Men'), primeiro capítulo foi exibido em 2004.

Cauê Muraro Do G1, em São Paulo




Exibido em 16 de novembro de 2004, o episódio inaugural (ou piloto) de “House” não apresentou apenas as características fundamentais do protagonista: um médico misantropo para quem interessam doenças incomuns, jamais os pacientes, e que exerce seu gênio como uma espécie de Sherlock Holmes do fictício Princeton-Plainsboro Teaching Hospital, em Nova Jersey. Naquele capítulo, já se podia notar uma estrutura de roteiro que se repetiria ao longo de oito temporadas – opção que renderia, inclusive, acusações de limitação criativa por parte da equipe de roteiristas da série, uma das mais populares da última década.“Everybody Lies” é o título da estreia, que acabou se tornando um bordão, “Todo mundo mente”. Está ali toda a fórmula, que permaneceu por anos no seriado: cena de abertura com um personagem ainda desconhecido e a revelação de uma doença, House tendo preguiça de se envolver no caso, House fazendo pouco caso dos outros e dos diagnósticos sugeridos pela equipe, House sendo xingado, House assediando a chefe e/ou uma funcionária enquanto investiga a doença, House sendo ameaçado, House levando bronca e House solucionando o mistério.
Se por um lado esta aposta na recapitulação rendeu críticas quanto a um esvaziamento de conteúdo e à exaustão, por outro permitiu ao público se afeiçoar por uma figura repulsiva. E, para dar a prova de que a reiteração sempre foi voluntária, chama-se “Everybody Dies” o capítulo derradeiro, o de número 177, que vai ao ar lá fora nesta segunda-feira (21).
A sequencia inicial de "Everybody Lies" mostrava uma mulher dentro de um ônibus. Ao desembarcar, a jovem passa a correr, está atrasada para o trabalho. Descobrimos, em seguida, que se trata de uma professora de jardim de infância. Uma vez na classe, ela começa uma conversa com os alunos, mas logo perde a voz, cai no chão e tem um ataque.
Vem, então, o primeiro corte, e surge na tela a vinheta com os créditos: roteiro e criação de David Shore, direção de Bryan Singer (cineasta que fez “Os suspeitos” e “X-Men: O filme”, dentre outros). Àquela altura, o fundo musical ainda não era “Tear Drop’, do Massive Attack, que mais tarde entraria para a iconografia do programa. No retorno, o infectologista Gregory House já está no hospital. Em princípio, ele despreza a doente – ou, mais precisamente, a doença. Não crê que valha o esforço, até que alguém o convence do contrário.Adiante, vemos House conversando sobre o caso com seus subordinados e direcionando a eles sarcasmo e mesmo desrespeito. Ele também toma uma bronca da chefe, diretora do Princeton-Plainsboro, a quem não poupa uma ou outra ofensa. Seguem-se sucessivos debates acerca do diagnóstico, novas ironias cometidas pelo protagonista, novas demonstrações de “genialidade” e novas intromissões na vida privada dos coadjuvantes. Enquanto isso, a paciente está lá, quase morrendo, e de causa desconhecida. House não quer encontrá-la: prefere trabalhar à distância e assistir à sua novela favorita, uma paródia de seriados passados em hospitais. Quem faz os exames e conversa com a doente são os membros de sua equipe, que são forçados pelo chefe a invadir a casa dela.O time de House, assim como ele próprio, faz várias tentativas, e fracassa recorrentemente, até que uma hora parecem acertar. Só que não. A professora está pronta para a alta quando vem um novo ataque. Ela agora está cega. Tudo parece perdido – é o último bloco... –, mas eis que House tem um insight e acha solução para o mistério. Não era tumor cerebral, não era nada convencional. Era cisticercose, o que se explicava pelo fato de a professora gostar de presunto, carne de porco.
Deliberadamente esquemáticos, os roteiros de “House” foram, pouco a pouco, abrindo espaço aos chamados “conflitos” dos personagens. Era uma maneira de tentar fazer a história escapar do cansaço. O básico, contudo, mantinha-se: um seriado médico escrito nos moldes da literatura de mistério e policial – Sherlock Holmes é inspiração confessa de Shore.

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