“Aqui
Estou”, um documentário sobre a homossexualidade feminina em Macau,
venceu a edição deste ano do Macau Indies. O filme levanta o véu sobre
um tema ainda sensível no território, fazendo uso de depoimentos na
primeira pessoa.
Inês Santinhos Gonçalves
Tracy Choi foi a grande vencedora dos
Macau Indies, competição integrante do Festival Internacional de Cinema e
Vídeo. O documentário “Aqui Estou” aborda a homossexualidade feminina
em Macau, utilizando depoimentos da própria realizadora e imagens da sua
infância.
A jovem cineasta recebe, assim, um prémio
no valor de 25 mil patacas. Prestes a iniciar o último ano do seu
mestrado em Hong Kong, Choi espera que o tema do seu projecto final gire
em torno de Macau. Apesar dos aplausos e dos muitos elogios que lhe
foram feitos após a exibição do documentário, no sábado, a realizadora
demonstrou-se surpreendida com a distinção. “Estou muito feliz. Nem eu
nem os meus colegas de produção achámos que íamos conseguir. Estou
surpreendida e emocionada”, confessou.
A opção de aparecer no seu próprio
documentário surgiu após ter enfrentado dificuldades em encontrar quem
se dispusesse a falar em frente da câmara. “Pedi a muitos amigos [para
aparecerem no filme], não só lésbicas mas também rapazes gay, mas eles
não quiseram mostrar a cara à frente da câmara. Tiveram medo de que os
seus colegas e amigos os vissem e soubessem que são gays”, contou.Assim, Choi virou a narrativa para si,
recolhendo depoimentos da sua mãe e imagens de infância com o seu pai.
Essa reflexão pessoal, explicou, foi o mais difícil. “É sobre a minha
família, o meu pai, a minha mãe. Depois da exibição de sábado, não sei
como encarar o meu pai, não sei o que ele achou. Ainda não lhe consegui
perguntar”, confidenciou.
Além das várias perguntas do público após
a projecção, a realizadora foi abordada por diversas pessoas à saída:
“Não foram só os meus amigos a vir falar comigo depois da exibição.
Algumas pessoas vieram ter comigo e disseram ‘sou gay’; disseram que o
filme era comovente e agradeceram-me. Fiquei muito tocada porque não os
conheço”.Tracy Choi, que antes de ir para Hong
Kong estudou também em Taiwan, acredita que Macau não é um bom sítio
para estabelecer uma escola de cinema, já que não seria popular. “Se se
começasse uma escola de cinema aqui, ninguém se inscrevia, porque as
pessoas não acham que com este tipo de emprego conseguem bom dinheiro”,
afirmou.Peggy Chiao, um dos três membros do júri
do Macau Indies, falou da “emergência de um novo movimento
cinematográfico em Macau” e disse que os filmes que participaram na
competição mostram a “diversidade da mistura de culturas” do território.Ho Yuhang, também membro do júri,
concorda e diz que a qualidade “está cada vez melhor”. “Queríamos
vencedores com uma perspectiva diferente sobre as coisas. Os dois
vencedores na categoria de documentário fizeram algo muito pessoal,
muito comovente”, comentou. “Um Outro Lar”, de Fei Ho e Emily Cha,
obteve também uma menção honrosa.Ho contou que a escolha dos vencedores
foi fácil: “Foi bastante unânime, o mais difícil foi decidir qual seria o
vencedor principal”.
Para a próxima edição, o realizador
malaio aconselha os participantes a investir em “perspectivas mais
diversificadas”. “Macau é um sítio muito interessante. Alguns trabalhos
já começaram a explorar aspectos da vida local com que normalmente não
se entra em contacto. É preciso mais”, afirmou.
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