segunda-feira, 14 de maio de 2012

Indies saem do armário


 

“Aqui Estou”, um documentário sobre a homossexualidade feminina em Macau, venceu a edição deste ano do Macau Indies. O filme levanta o véu sobre um tema ainda sensível no território, fazendo uso de depoimentos na primeira pessoa.
Inês Santinhos Gonçalves
Tracy Choi foi a grande vencedora dos Macau Indies, competição integrante do Festival Internacional de Cinema e Vídeo. O documentário “Aqui Estou” aborda a homossexualidade feminina em Macau, utilizando depoimentos da própria realizadora e imagens da sua infância.
A jovem cineasta recebe, assim, um prémio no valor de 25 mil patacas. Prestes a iniciar o último ano do seu mestrado em Hong Kong, Choi espera que o tema do seu projecto final gire em torno de Macau. Apesar dos aplausos e dos muitos elogios que lhe foram feitos após a exibição do documentário, no sábado, a realizadora demonstrou-se surpreendida com a distinção. “Estou muito feliz. Nem eu nem os meus colegas de produção achámos que íamos conseguir. Estou surpreendida e emocionada”, confessou.
A opção de aparecer no seu próprio documentário surgiu após ter enfrentado dificuldades em encontrar quem se dispusesse a falar em frente da câmara. “Pedi a muitos amigos [para aparecerem no filme], não só lésbicas mas também rapazes gay, mas eles não quiseram mostrar a cara à frente da câmara. Tiveram medo de que os seus colegas e amigos os vissem e soubessem que são gays”, contou.Assim, Choi virou a narrativa para si, recolhendo depoimentos da sua mãe e imagens de infância com o seu pai. Essa reflexão pessoal, explicou, foi o mais difícil. “É sobre a minha família, o meu pai, a minha mãe. Depois da exibição de sábado, não sei como encarar o meu pai, não sei o que ele achou. Ainda não lhe consegui perguntar”, confidenciou.
Além das várias perguntas do público após a projecção, a realizadora foi abordada por diversas pessoas à saída: “Não foram só os  meus amigos a vir falar comigo depois da exibição. Algumas pessoas vieram ter comigo e disseram ‘sou gay’; disseram que o filme era comovente e agradeceram-me. Fiquei muito tocada porque não os conheço”.Tracy Choi, que antes de ir para Hong Kong estudou também em Taiwan, acredita que Macau não é um bom sítio para estabelecer uma escola de cinema, já que não seria popular. “Se se começasse uma escola de cinema aqui, ninguém se inscrevia, porque as pessoas não acham que com este tipo de emprego conseguem bom dinheiro”, afirmou.Peggy Chiao, um dos três membros do júri do Macau Indies, falou da “emergência de um novo movimento cinematográfico em Macau” e disse que os filmes que participaram na competição mostram a “diversidade da mistura de culturas” do território.Ho Yuhang, também membro do júri, concorda e diz que a qualidade “está cada vez melhor”. “Queríamos vencedores com uma perspectiva diferente sobre as coisas. Os dois vencedores na categoria de documentário fizeram algo muito pessoal, muito comovente”, comentou. “Um Outro Lar”, de Fei Ho e Emily Cha, obteve também uma menção honrosa.Ho contou que a escolha dos vencedores foi fácil: “Foi bastante unânime, o mais difícil foi decidir qual seria o vencedor principal”.
Para a próxima edição, o realizador malaio aconselha os participantes a investir em “perspectivas mais diversificadas”. “Macau é um sítio muito interessante. Alguns trabalhos já começaram a explorar aspectos da vida local com que normalmente não se entra em contacto. É preciso mais”, afirmou.

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