Estudo publicado nesta quinta-feira mostra que os planetas solitários compõem parte da massa invisível e ajudam a transportar vida em nossa galáxia
Cientistas acreditam que para cada estrela da Via Láctea
existam alguns milhares de planetas solitários que abrigam vida
microbiana
(Divulgação)
Um grupo internacional de cientistas acredita que existam muito mais planetas solitários na Via Láctea do que se pensava anteriormente. Em artigo publicado nesta quinta-feira na revista Astrophysics and Space Science, os pesquisadores sustentam essa teoria indicando que esses planetas são parte da matéria invisível
da nossa galáxia e que existam centenas de trilhões deles. Estudos
anteriores falavam em centenas de bilhões de planetas solitários na Via
Láctea.PLANETAS SOLITÁRIOS
Chamados também de planetas órfãos, são aqueles que não orbitam nenhuma estrela. Ao contrário dos planetas do Sistema Solar, que têm órbita fixa graças ao campo gravitacional exercido pelo Sol, esses planetas circulam livremente pelo universo, sem trajetória fixa. Os planetas solitários são considerados parte da matéria invisível do universo porque, como não emitem luz e não recebem iluminação constante de nenhuma estrela, não podem ser vistos.
MATÉRIA INVISÍVEL
Quando os cientistas observam a forma com que estrelas e as galáxias se movem, há algo inusitado. Segundo as leis da física, as estrelas, planetas e corpos de uma galáxia deveriam se movimentar mais lentamente à medida que se afastam do centro dela. Mas isso não acontece na prática. Para que as equações da física façam sentido, é preciso que exista alguma força empurrando o amontoado de poeira, gás, estrelas e planetas da periferia das galáxias em velocidades semelhantes a de corpos que estão mais próximos do núcleo. Essa força adicional compensaria a previsão física de que quanto mais longe do centro de uma galáxia mais lento é o movimento dos corpos. Essa força adicional, dizem os físicos, é a gravidade de uma manifestação da natureza que possui massa, mas não emite qualquer tipo de luz — ou radiação — que o homem consiga medir diretamente. É a matéria invisível.O artigo, liderado pelo professor Chandra Wickramasinghe, da Universidade de Buckingham (Reino Unido), diz que esses planetas são primordiais, ou seja, foram originados pouco tempo após o surgimento do universo.Os autores explicam que desde 1995, quando foi encontrado o primeiro exoplaneta — como é chamado um planeta fora do Sistema Solar —, cresceu o interesse dos cientistas em buscar planetas fora do Sistema Solar.No caso dos planetas solitários, que são um tipo de exoplanetas, é difícil saber exatamente quantos existem. A dificuldade é causada pelo fato de eles serem invisíveis: eles não emitem luz própria e, como não orbitam estrelas, não recebem iluminação constante.Para chegar ao número indicado no estudo, os cientistas fizeram cálculos a partir da matéria faltante da galáxia. Ou seja, a matéria cuja existência é comprovada por cálculos físicos, mas que não pode ser vista pelo homem.
Os cientistas calculam que um deles passa pelo centro do Sistema Solar em média a cada 26 milhões de anos. A cada trânsito, eles incorporam em sua superfície matéria de vida microbial presente na poeira cósmica do Sistema Solar e espalham esse material por toda a galáxia.
Para o astrofísico Amâncio Friaça, que não participou do estudo, os dados encontrados trazem considerações importantes para o entendimento do universo. "Os planetas primordiais são especialmente importantes para a astrobiologia, a disciplina que trata da vida no contexto cósmico", defende o cientista. "O estudo indica que eles [os planetas solitários] podem ser muito importantes para a panspermia, ou seja, o transporte de vida de um ponto da Galáxia para outro."
Opinião do especialista
Amâncio Friaça
Astrofísico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP)
Astrofísico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP)
“O artigo é importante e se insere em uma linha de pesquisa recente, que trata de planetas primordiais que foram formados junto com as primeiras gerações de estrelas”.
"Os planetas primordiais ajudam na contabilidade de massa faltante no Universo, ou seja, aquela massa sob forma invisível (até agora). A maior parte da massa invisível está na forma de matéria escura, de natureza ainda conjectural, mas uma parte dela é normal (prótons e elétrons), e é na contagem dessa massa faltante normal que os planetas contribuem. Os planetas primordiais são especialmente importantes para a astrobiologia, a disciplina que trata da vida no contexto cósmico. São importantes para a origem, abrigo e transporte da vida na Galáxia”.
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