Milton Nascimento comemora 50 anos de palco em aplaudido show com participação de Sandy

Ronaldo Evangelista
Do UOL, em São Paulo

• Taiz Dering/Divulgação
  Sandy faz uma participação no show de Milton Nascimento

Milton Nascimento existe como que em uma categoria à parte dentro da música brasileira. Sua voz única, as particularidades de suas harmonias, melodias, ritmos e andamentos não encontram paralelo em nenhum gênero que não os seus próprios. Milton nunca pôde ser definido como membro de um movimento como o tropicalismo, como seguidor fiel da estética da bossa nova ou como parte da geração que partiu da influência direta dos Beatles, embora tudo isso esteja de alguma forma em sua formação. O mais próximo de definição que chegou foi quando inventou a sua própria, ao lançar o álbum “Clube da Esquina”, ao lado do parceiro Lô Borges, em 1972, e o título do álbum entregava o nome da turma. Na sexta-feira, 3 de agosto, Milton deu mostras que sua obra continua única, em apresentação em São Paulo, como parte de turnê de comemoração de seu vindouro aniversário de 70 anos (em 26 de outubro próximo), e de seus 50 anos de vida musical sobre os palcos, além da efeméride de 40 anos do clássico “Clube da Esquina”. Algumas décadas depois, o poder lírico de sua voz e o efeito hipnotizante que desperta nos ouvintes de sua música continuam intactos, a julgar pela empolgação da plateia na casa HSBC Brasil, em evento lotado - com patrocínio da Natura como toda a turnê de Milton. Ao microfone ou tocando violão e piano, andando pelo palco calmamente ou simplesmente parado observando a plateia, nunca tirando os óculos escuros, Milton parecia estar saboreando cada momento do espetáculo, a amizade e o amor assuntos de quase todas suas poucas falas além da música.

Sandy faz uma participação especial no show "50 Anos de Voz nas Estradas", que comemora os 50 anos de carreira de Milton Nascimento, no HSBC Brasil, em São Paulo (3/8/12) Taiz Dering/Divulgação

Convidada especial do show da capital paulista, a cantora Sandy apareceu com carinha de porcelana e vozinha aguda e cantou, sob o olhar de Milton sentado no fundo do palco, “Morro Velho”. Juntos entoaram “Nos Bailes da Vida”. “Me sinto privilegiada por estar aqui”, dizia, sobre cantar com ele. "Sou muito fã desse fera." Apesar do timbre enjoado e da simplicidade da interpretação, a audiência pareceu aprovar a participação da ex-dupla de Junior, enquanto um batalhão de fotógrafos ficava de costas para o palco e disparava saraivadas de flashes no público, tentando capturar imagens dos pais de Sandy na plateia, Noely Lima e o superstar sertanejo Xororó. Participação menos díspar foi a do parceiro Lô Borges, que trouxe um lado pop-roqueiro ao show ao cantar solo composições como “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” e “O Trem Azul”, ambas do supracitado álbum “Clube da Esquina”. Momentos de especial euforia no público surgiram quando Lô e Milton, juntos, lembraram “Nada Será Como Antes” e “Para Lennon e McCartney”.
Outras canções emblemáticas de Milton, como “Cais”, “Anima”, “Raça” e “Amor de Índio” também figuraram no repertório, o cantor acompanhado de banda formada por sax/flauta, piano, guitarra, baixo e bateria, com forte influência jazz e complexos arranjos nas pontas dos dedos. A bela “Canção do Sal” ganhou forte introdução com a letra recitada. Já perto do fim, em “Canção da América”, dos famosos versos “amigo é coisa pra se guardar / do lado esquerdo do peito”, Milton disse que nunca deixava de cantar essa música em seus shows, mas que “hoje eu gostaria que vocês cantassem ela pra mim”. À frente do palco, simplesmente observando o público de trás de seus óculos escuros, Milton mal se movia, mas demonstrava-se emocionado com o coro de milhares de pessoas cantando pra si. “Incrível”, disse apenas, ao final. "Travessia" faixa de abertura de seu primeiro disco, foi a canção final de seu show mais recente. Talvez a música em que Milton cantou melhor em uma noite de ótimo canto naquela sexta, aplaudido várias vezes enquanto interpretava a canção, durante os momentos em que mais soltava a voz, longamente ovacionado ao final. O show teve duas horas.
Lista de músicas:
"Cais"
"Vera Cruz"
"Clube da Esquina 2"
"Canção do Sal"
"Nuvem Cigana"
"Planeta Blue"
"Anima"
"Raça"
"Lágrimas do Sul"
"Amor de Índio"
"Morro Velho"
"Nos Bailes da Vida"
"Maria, Maria"
"Nada Será Como Antes"
"Para Lennon e McCartney"
"O Trem Azul"
"Um Girassol da Cor do Seu Cabelo"
"Sofro Calado"
"Canção da América"
"Travessia"