Acusado de matar duas pessoas em SP diz que não matou para roubar.
Mortes de analista de sistema e modelo completam 1 ano nesta quinta (23).
Em montagem, acusado do crime é preso; ao lado, trechos de entrevista ao G1 (Foto: F.L.Piton/ A Cidade/AE)
O jovem Lucas Cintra Zanetti Rosseti afirmou em entrevista ao G1 que considera injusto o processo que responde por latrocínio (roubo seguido de morte) no caso da Rua Oscar Freire. Ele está preso preventivamente acusado de esfaquear, matar e roubar o analista de sistemas Eugênio Bozola, de 52 anos, e o modelo Murilo Rezende, de 21 anos. O crime ocorreu no apartamento de uma das vítimas na Rua Oscar Freire, em São Paulo, e completa um ano nesta quinta-feira (23).
“Só matei Bozola para não morrer. Eu não matei o Murilo”, escreveu Rosseti. O réu respondeu por escrito 18 perguntas feitas numa folha de papel pela equipe de reportagem encaminhadas a ele por meio de seus advogados. A defesa de Rosseti busca reverter na Justiça a tipificação do crime: quer que ele responda por homícidio, e não por roubo seguido de morte. Atualmente, ele aguarda julgamento detido no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros (CDP).
O G1 não conseguiu localizar os advogados da família de Bozola e Murilo para comentarem as declarações.
"Minha intenção nunca foi roubar muito menos assassinar uma pessoa. Se eu quisesse roubar poderia ter feito isso sem ninguém perceber, pois permaneci sozinho o dia todo no apartamento com livre acesso a todos os bens, inclusive à chave do carro", comenta. Na época do crime, Rosseti e o modelo Murilo Rezende moravam como hóspedes no imóvel de Bozola. O acusado do crime diz que deixou o interior do estado e se mudou para a capital com a promessa feita pelo analista de que iria conseguir emprego na metrópole.“Sinto-me arrependido por ter conhecido Eugênio, esse sim o verdadeiro psicopata da história. Graças a ele minha vida virou um inferno. Nunca teria vindo para a capital se eu pudesse voltar no tempo eu teria recusado o primeiro pedido de amizade que ele fez no Facebook”, afirmou. Na entrevista, ele informou ainda que abandonou os estudos e só saiu da casa de seus parentes porque o analista tinha lhe oferecido um trabalho. “Cursava direito. Trabalhava como analista administrativo e financeiro em uma rede de postos de combustíveis e fazia parte de uma ONG católica que ajudava moradores de rua e dependentes químicos. Vim para a capital porque Eugênio me prometeu diversas coisas, ele me elevaria profissionalmente, pois era um profissional de destaque na área que eu estava começando. Prometeu que me incluiria em futuros projetos profissionais e era necessário que eu viesse para a capital.”Rosseti afirma que Bozola matou o modelo por ciúmes e depois tentou matá-lo porque estava alterado. “Eugênio estava passando por uma fase difícil, talvez uma crise depressiva por conta do Murilo não dar a atenção que ele queria. Ele sempre se queixava dos ciúmes que sentia do modelo. Eu só dava risada das coisas que ele falava. Eugênio começou a criar na mente dele que o Murilo queria se relacionar comigo, loucura. Creio que esse motivo tenha sido a gota d'água que restava”, escreveu o preso. Na época, a Polícia Civil chegou a levantar a hipótese de que o crime poderia estar relacionado à homofobia. Rosseti chegou a postar mensagens contra gays na internet e uma das vítimas era homossexual. Mas essa linha de investigação foi descartada posteriormente. O jovem explica que apenas reagiu ao ataque de Bozola. “Minha intenção nunca foi roubar, o homicídio só aconteceu para que eu saísse vivo daquele lugar. Eu perdi o movimento de três dedos e tive perfurações em mais dois. Entrei em luta corporal com Bozola pois cada um de nós tinha uma faca na mão, eu preferi golpeá-lo do que ser golpeado, é o que qualquer um faria, só defendi minha vida. Uma pessoa que mata para defender a própria vida não merece ficar presa. Eu só optei por viver.”
Depois do crime, Rossetti chegou a fugir no carro de Bozola para Sertãozinho, no interior de São Paulo, onde mora sua família. O veículo foi achado abandonado em 28 de agosto do ano passado. O jovem foi preso pela polícia no dia seguinte. Objetos das vítimas foram encontrados no automóvel.
“Se a Justiça pensar de forma lógica irá perceber que não se trata de latrocínio, por diversos motivos, só levei objetos necessários para minha fuga e não tirei proveito de nada. Diversos bens de valores bem maiores permaneceram no local e eu não levei com dinheiro, cheques, cartões que eu possuía a senha. Nada foi levado”, respondeu o réu ao G1.
Recurso da defesa
Após a decisão do Tribunal de Justiça de SP, que trocou a tipificação, o advogado do réu, Aryldo de Oliveira de Paula, disse que irá entrar com recursos no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. “Entrarei com um recurso especial e um habeas corpus. O recurso é para pedir para a Justiça considerar que o crime que Lucas cometeu foi de homicídio e não latrocínio. O pedido de liberdade é porque já expirou o prazo para ele aguardar preso o julgamento. Portanto deveria estar livre”, disse o defensor. Sem data prevista para ser julgado, Rosseti escreveu que tem sonhos e espera realizá-los fora da prisão. “[Quero] me formar, constituir uma família e viver de modo digno e pleno. Sonhava em ser um profissional invejável na minha área e dar orgulho para minha família. Desejo que a verdade venha à tona e que esse pesadelo termine [...]”.Quando comentou a rotina na prisão, ele afirmou que é visitado pela noiva frequentemente. “Não tem sido nada fácil, o lugar não é dos melhores, ficar privado de sua liberdade é a pior sensação que já senti, mas graças a Deus sigo firme com o apoio de minha noiva, que toda semana enfrenta mil leões para ficar comigo aqui dentro. Eu ajudo a distribuir a alimentação do raio e faço a limpeza das galerias, tenho pensado muito na minha vitória, que está próxima.”
Sobre o futuro, Rosseti voltou a citar a noiva. “Gostaria de agradecer a minha família pela longa batalha que temos enfrentado juntos. Sei que nossa vitória está próxima. Dizer para a minha noiva que esse pesadelo vai terminar e logo seremos felizes juntos. Dizer para a família do Murilo que eu não o matei.” O jovem ainda afirmou que teme que uma eventual pena destrua suas perspectivas. “Tenho medo de perder meu futuro, mais tempo e meus sonhos, quero voltar a viver.”
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