sábado, 29 de setembro de 2012

TONY GOES-É inconcebível a TV brasileira sem Hebe Camargo

Ela estava lá, no porto de Santos, ao lado de Assis Chateaubriand, para receber os primeiros equipamentos da pioneira TV Tupi. Depois sua presença na telinha foi tão frequente e marcante que até hoje persiste a lenda de que Hebe Camargo teria participado da transmissão inaugural, cantando o "Hino da Televisão".
Não participou: apesar de convidada, ela deixou a tarefa para sua grande amiga Lolita Rodrigues, alegando um resfriado. Era mentira. Hebe foi passear com o namorado, cuja identidade permanece um mistério. E escapou de inaugurar nossa TV interpretando um hino "horrível", como ela mesma dizia às gargalhadas.
Ah, essas gargalhadas. Hebe interrompia a tudo e a todos com sua risada deliciosa. Lembro de um antigo especial da TV Record em que ela fazia a "Dama das Camélias". A crise final de tosse da personagem, que sucumbe à tuberculose, foi totalmente arruinada pelo riso incontrolável de Hebe, que não resistia às micagens que lhe fazia Ronald Golias. Um momento antológico da nossa televisão.
Outro momento impressionante foi sua participação no "Roda Viva" da TV Cultura, nos anos 80. Naquela época o programa era muito mais incisivo do que é hoje, e os convidados eram praticamente trucidados pela bancada de entrevistadores. Pois bem: Hebe começou a contar um drama pessoal, foi às lágrimas e calou seus algozes. Falou sozinha durante quase meia hora.
Hebe deixa hospital Albert Einstein
Esta semana saiu a notícia de que ela estava de volta ao SBT. Faria sua "rentrée" durante o Teleton, em novembro, e no ano que vem ganharia um novo programa. Talvez um especial mensal, cheio de luxo e brilho, como convém à rainha da televisão brasileira. Que pena que não deu tempo.
Foi no SBT que tive um contato mais próximo com ela. Trabalhei na emissora em 1996, como roteirista do extinto programa "Gente que Brilha" (uma espécie de "Esta é a Sua Vida"). Hebe foi uma das contempladas. Tive que mergulhar em sua biografia, entrevistar amigos e parentes, desencavar histórias. E a conheci durante a gravação: sempre a mais profissional, a mais bem-humorada, a mais fácil de trabalhar.
Hebe Camargo era uma grande estrela, mas nunca foi uma diva. Não fazia exigências descabidas, não tinha manias absurdas, jamais levantava a voz. Chegava na hora marcada, repassava os textos, tratava todo mundo bem. E ria, meu Deus, como ria.
Não consigo imaginar nossa televisão sem ela. Na verdade, não consigo imaginar minha vida sem Hebe Camargo: parece que me morreu uma tia, uma pessoa da família. Agora ela está brilhando no céu. E contagiando os anjinhos com sua gargalhada.
Tony Goes tem 51 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.

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