O ator, diretor e produtor foi encontrado morto, aos 82 anos, no sítio onde morava, no interior de São Paulo.
Esta semana, o Brasil perdeu um dos seus grandes artistas. Um nome que fez história no teatro, cinema e na TV. Aos 82 anos, Walmor Chagas vivia isolado em um sítio no interior de São Paulo. Um retiro a que só amigos e empregados tinham acesso. Eles contaram ao fantástico Como foram os últimos dias de Walmor.
Walmor Chagas escolheu viver os últimos 20 anos no meio do mato. “Ele queria morar num lugar bem tranquilo, que fizesse bem pra ele”, disse a cozinheira e empregada Luiza Maria Espíndola.
Walmor costumava dizer para os amigos que tinha se mudado para lá porque queria tranquilidade e sossego. Queria ficar em paz. Queria ter tempo praa estudar.
“Ele lia, escutava muita música, gostava muito de televisão”, disse o dono de restaurante Antonio Carlos Cardoso.
A ideia de construir uma pousada deu certo por pouco tempo. “Ele não queria criança na pousada, não queria coisa, ele impôs tanta regra que também é difícil”, disse o dono de restaurante.
Chegar até o sítio é complicado. A casa e a pousada ficam a mais de 30 quilômetros do centro de Guaratinguetá, interior de São Paulo.
A estrada termina no portão da fazenda do ator. Apesar de viver longe da cidade, Walmor saía de casa. Ia almoçar todo domingo em um restaurante da região. “Gostava de feijoada, costela no bafo”, conta o dono do restaurante.
Nos últimos quatro anos, decidiu cuidar do corpo e contratou uma terapeuta corporal. “Tinha dias mais animados, outros não, mas um excelente aluno, sempre foi”, diz a terapeuta corporal Thaís Mori
Nas últimas semanas a saúde piorou. “Não enxergava, mal conseguia andar, já não estava mais comendo”, conta Antonio Carlos.
O amigo diz que em 20 dias Walmor emagreceu oito quilos. Não queria comer. Não saía de casa. A empregada que acompanhou Walmor por 12 anos também percebeu que ele estava mais debilitado.
“Ele dependia da gente pra ajudar ele”, lembra a cozinheira e empregada.
O ator tinha diabetes e estava com 82 anos. E ele já tinha dito ao amigo que não queria dar trabalho. “Ele falou que se tivesse dificuldade e começasse a se sentir mal, que ele desejaria partir”, lembra Antonio Carlos.
No último dia de vida, Walmor comeu um prato japonês preparado pela mulher de Seu Cardoso. “Um macarrãozinho bem fininho com molho de shoyu”, revela.
“Ele tomou café. tomou banho, depois tomou banho de sol. Todo dia depois do almoço, ele deitava mesmo. Deixei ele tomando o caldo. Disse que estava bom, que estava ótimo. Foi a última palavra que eu ouvi ele falar”, conta a cozinheira.
Meia hora depois de sair, Dona Luiza recebeu a notícia. “Perdi o chão”, lamenta a cozinheira.
O corpo de Walmor Chagas foi cremado, no sábado (19), em São José dos Campos, também no interior de São Paulo. O velório foi restrito a parentes e amigos.
O ator, diretor e produtor foi encontrado morto, na sexta-feira (18), no sítio onde morava. Ele foi atingido com um tiro na cabeça, e a polícia trabalha com a hipótese de suicídio, mas ainda espera o resultado da perícia para encerrar o caso.
Nascido em Porto Alegre, em 1930, Walmor Chagas enfrentou a família, aos 18, para ser ator.
“Uma coisa estranhíssima, uma pessoa ser ator do ponto de vista da minha família”, disse o ator em 1992.
Na Globo, trabalhou em 15 novelas e oito minisséries. A última novela foi "A Favorita", em 2008.
Também fez dezenas de filmes. O primeiro trabalho no cinema foi o clássico "São Paulo SA", de Luís Sérgio Person.
O último foi o ainda inédito "A coleção invisível", de Bernard Attal. A equipe filmou em 2011 na Bahia.
Para o colega Vladimir Brichta, foi um aprendizado: “Era fácil contracenar com ele, na verdade. Porque ele estava ali, muito sincero. Se tivesse que comer de uma comida e estivesse dura, ele dizia: ‘essa porcaria está dura!’. Ele diria isso sem o menor e é maravilhoso. Alguém tem que dizer que aquilo está uma porcaria. E era ele”, conta o ator Vladimir Brichta
Mas os palcos foram sempre a maior paixão. Walmor Chagas foi casado com a atriz Cacilda Becker. Atuou, produziu e dirigiu mais de 60 peças. E fez teatro até na televisão. No Fantástico dos anos 70, deu vida a versos como os de Fernando Pessoa e de Carlos Drummond de Andrade.
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