quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Aos 65 anos, Schwarzenegger volta como protagonista e diz: "Envelhecer é uma droga"

Cindy Pearlman Do Hollywood Watch, em Nova York (EUA)


Arnold Schwarzenegger contracena com Rodrigo Santoro em "O Último Desafio" (2013) Ele sempre nos disse que voltaria. E é como se ele nunca tivesse se afastado durante dez anos para servir como governador da Califórnia, enfrentando déficits orçamentários em vez de espiões internacionais, e lutando para controlar os custos do atendimento de saúde em vez de escapar de robôs assassinos do futuro. “É uma sensação muito estranha estar de volta para falar sobre um filme”, admite Arnold Schwarzenegger. "Envelhecer é uma droga"

Os dois últimos anos foram difíceis para Schwarzenegger. Não podendo mais ser reeleito governador devido à limitação de mandato e não podendo concorrer à presidência, por ter nascido na Áustria, acabou passando o ano passado nas manchetes dos tabloides, após o fim de seu casamento com a apresentadora Maria Shriver depois da descoberta de um caso antigo entre ele e uma ex-empregada, que resultou em um filho hoje com 15 anos. No entanto, seu humor é alegre e jovial, apesar do olhar cauteloso. “Eu acabei de voltar de uma viagem de esqui de uma semana com meus filhos em Sun Valley”, ele diz com seu ainda forte sotaque austríaco. “É claro que as crianças agora tentam superar você no esqui. Virou uma competição feroz. Mas eu ainda posso fazer todas as coisas. Eu me sinto ótimo fisicamente.” E como é para um ex-Mr. Universo completar 65 anos? “A única coisa que posso dizer sobre envelhecer é que é uma droga. Eu não sou diferente de você.

Nós todos olhamos no espelho e dizemos: ‘O que aconteceu?’ Você antes tinha músculos e agora, lentamente, eles estão deteriorando. Mas se você malhar, você permanece em forma e se sente bem. Eu me sinto bem atualmente.” Com estreia marcada para sexta-feira, 18 de janeiro, “O Último Desafio” apresenta Schwarzenegger como o xerife de uma pequena cidade do Arizona que enfrenta um cartel das drogas. Há todas as lutas, tiros e explosões que o tornaram um campeão das bilheterias nos anos 80 e 90. Este pode ser seu filme de retorno, diz o ator, mas sua volta não deve causar surpresa para ninguém. “É ótimo estar de volta ao papel principal”, diz Schwarzenegger. “Como você pode se lembrar, quando assumi o governo em 2003, eu disse: ‘Governarei o Estado por sete anos. Então, eu voltarei para o cinema’. Nunca foi um caso de não voltar mais ao cinema. Apenas me afastei temporariamente. Meu plano sempre foi voltar.” Mas ainda resta saber se o seu público ainda está lá. “Quando você deixa o cinema por sete anos, é assustador voltar”, reconhece Schwarzenegger. “Você não sabe se será aceito de novo. Pode haver toda uma nova geração de heróis de ação. As coisas podem mudar rapidamente neste negócio.” Sua volta ao show business foi facilitada pela ajuda do amigo Sylvester Stallone, que lhe deu pequenas participações em “Os Mercenários” (2010) e na sequência de 2012.
Foram as primeiras aparições de Schwarzenegger em um filme desde seu papel coadjuvante em “Volta ao Mundo em 80 Dias – Uma Aposta Muito Louca” (2004), filmado antes de sua eleição. Ele se sentiu ainda mais em casa fazendo “O Último Desafio”, diz Schwarzenegger. “Em termos de ação, eu me senti muito à vontade de volta a um set com um grande papel. Foi como andar de bicicleta.” Não que andar de bicicleta aos 65 anos seja igual a quando se tem 16. “Este filme foi o teste perfeito para mim, porque exigiu muitos stunts, muita ação e trabalho físico. O diretor era fanático por ver o máximo possível de mim. Apenas quando havia o risco de eu morrer é que os dublês assumiam.”
Ele reconhece que a ação é diferente atualmente. “É diferente quando você tem 65 anos. É diferente de quando você corre aos 35 anos. Mas o ótimo neste filme, e naqueles que farei, é que não interpreto mais o herói de ação de 35 anos.” O sonho americano de Schwarzenegger A versão de Schwarzenegger do sonho americano teve início em Graz, a pequena cidade austríaca onde ele cresceu pobre e, quando era garoto, invadia as academias para treinar seu corpo depois do horário de funcionamento, porque não podia pagá-las. O fisiculturismo foi sua passagem para partir da Áustria e entrar no cinema, começando por “Hércules em Nova York” (1969), mas ganhando força depois do documentário “O Homem dos Músculos de Aço” (1977) sobre o concurso Mr. Olympia, que exibiu seu carisma. Ele conquistou o estrelato em Hollywood como “Conan, O Bárbaro” (1982) de John Milius, e dois anos depois conseguiu seu primeiro sucesso arrasador com “O Exterminador do Futuro” (1984), de James Cameron. Uma série de sucessos se seguiu, incluindo filmes de ação extravagantes como “O Vingador do Futuro”, “O Exterminador do Futuro 2 –O Julgamento Final” (1992), mas também comédias como “Irmãos Gêmeos” (1988) e “Um Tira no Jardim de Infância” (1990). Ao mesmo tempo, o ator –um dos republicanos mais proeminentes de Hollywood– abriu mão de tudo em 2003, quando o governador Gray Davis perdeu seu cargo e Schwarzenegger venceu a eleição especial, não partidária, para substituí-lo, à frente do grande número de candidatos com 48,6% dos votos. Ele foi reeleito em uma eleição convencional em 2006 e serviu até 2011. “Eu não acho que perdi nada. Eu tinha uma imensa responsabilidade para com a Califórnia, especialmente tendo legisladores um tanto descontrolados.” Schwarzenegger não queria ser um político de carreira. "De modo que voltei ao cinema. Agora, eu não fico aqui sentindo saudade da política. Não há muito do que sentir saudade de ser governador. Eu fico feliz por Jerry Brown agora estar suando com isso.” Os bandidos do filme, e alguns dos mocinhos, zombam da idade do personagem, o chamando de “vovô” e pior. Quando ele viu essas piadas, diz Schwarzenegger, ele estremeceu –mas as deixou no roteiro. “Eram piadas apropriadas. Você não quer se concentrar na idade, mas eu posso fazer piada comigo mesmo. Clint Eastwood faz isso muito bem. Eu também posso.” A cena que talvez tenha sido a mais difícil em “O Último Desafio” não envolveu escalada, luta ou correria. “Eu fiz uma cena de perseguição de carro em um milharal. Não é como dirigir correndo em uma estrada. Você não sabe para onde está indo ou se há uma vala à frente. Eu fiz essa perseguição por vários dias, onde dirigi por milharais de 1,80 metro.” “É claro que tive que ter cuidado para não destruir o carro no primeiro dia de filmagem. Eu podia ouvir o coordenador de stunts gritando: ‘Mais rápido, mais rápido!’ Eu estava dirigindo a 130 km/h por um milharal, com palha de milho voando do carro.” Schwarzenegger ri como criança com a lembrança. “Ainda é emocionante. Eu também fiquei empolgado com outro filme, no ano passado, onde nadei à meia-noite em águas geladas. Que experiência! Eu já vivi 65 anos e ainda estou fazendo essas coisas na minha vida.” O rumor mais quente é que Schwarzenegger estaria escalado para um novo “Exterminador do Futuro”. Ele diz que não é verdade... ainda. “Eu adoro o personagem”, ele diz sorrindo. “Dê-me um bom roteiro.” Para compensar o tempo perdido,
Schwarzenegger tem vários projetos em vários estágios de desenvolvimento, muitos revisitando antigos sucessos. “Muito disso tem a ver com ‘timing’. Isso é algo que o show business e a política têm em comum. Eu faria outro ‘Conan’ imediatamente se ele estivesse pronto. Há um executivo na Universal que acredita em trazer o personagem de volta. Tem que ser realmente de alta qualidade para mim. Esse roteiro ficará pronto neste ano.” O mesmo acontece com "Triplets", a sequência de "Irmãos Gêmeos". "Eu venho tentando convencer a Universal a fazê-lo há 10 anos. Até recentemente eles não viam valor. Agora, a nova direção acredita que é uma ideia brilhante. Eles contrataram os roteiristas. Está avançando a todo vapor.” Seja lá o que venha a seguir será apenas o mais recente capítulo em uma vida que, ele diz, se tornou “maior do que eu jamais poderia sonhar”. Há até mesmo um novo museu em sua cidade natal austríaca dedicado a ele. “Fica na casa em que eu cresci”, diz Schwarzenegger, soando um tanto incrédulo. “Eles decidiram transformá-la em museu. Eu forneci muitas coisas, incluindo os pesos originais que eu levantava quando tinha 15 anos. A casa toda está cheia de memorabilia. É bacana.”

* (Cindy Pearlman é uma jornalista freelancer em Chicago)


 

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