sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

CENSURA-Juiz manda recolher trilogia '50 tons de cinza' em livrarias de Macaé, RJ

Decisão, no Norte Fluminense, diz que só livro lacrado pode ser vendido. Segundo juiz, ele se baseou no Estatuto da Criança e do Adolescente. Carolina Burgos

Do G1 Norte Fluminense

Um juiz de Macaé, no Norte Fluminense, determinou o recolhimento dos livros “Cinquenta tons de cinza”, “Cinquenta tons mais escuros” e “Cinquenta tons de liberdade”, da autora E. L. James, das livrarias. Segundo a ordem de serviço assinada por Raphael Baddini, da Segunda Vara de Família, da Infância, da Juventude e do Idoso, estas e outras publicações consideradas "impróprias" não podem ser expostas nos estabelecimentos sem lacre.

Apesar de a decisão, da última sexta-feira (11), valer para outros livros, o juiz cita por diversas vezes a a trilogia. Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça, desde a determinação, 64 volumes foram recolhidos em duas livrarias da cidade – Nobel e Casa do Livro. Onze eram de títulos da trilogia e, os outros, de 19 obras diferentes. Os livros foram levados para a 2ª Vara. De acordo com o magistrado, a iniciativa foi motivada após ele ter verificado pessoalmente, em uma livraria da cidade, crianças perto das vitrines onde livros com conteúdo erótico estavam expostos. “A ordem de serviço é uma forma de garantir que a lei seja cumprida", diz o juiz. "Uma criança ou adolescente pode pegar um dos livros em uma prateleira e ter acesso a um conteúdo inapropriado para sua idade. Eles precisam ser protegidos”, afirma. A loja Nobel de Macaé, que fica no shopping da cidade, recebeu comissários de Justiça na segunda-feira (14).

Segundo o proprietário da loja, Carlos Eduardo Coelho, na ocasião não havia mais nenhum exemplar, pois todos já tinham sido comercializados. Apesar disso, foram recolhidas outras publicações. “Eles entraram procurando pela trilogia especificamente", diz Coelho. "Como não encontraram, acabaram olhando outros livros. Não questiono a lei, mas a forma de abordagem, já que não deram nenhuma orientação, ou fizeram alguma notificação anteriormente", diz ele, que afirma que as prateleiras do público infanto-juvenil são separadas. Ao todo, no estabelecimento, foram recolhidos sete volumes do livro “Algemas de Seda – A História de Jake Mimi”, de Frank Baldwin; um volume de “Dominique, Eu”, de Dommenique Luxor e sete volumes do livro “50 Versões de Amor e Prazer – Col. Muito Prazer”, de Rinaldo de Fernandes. “Não fica claro, por exemplo, qual o critério utilizado por eles para escolherem aqueles exemplares em específico, já que não há nada no ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] sobre os que são inadequados, ou não”, diz. Na tarde desta quinta-feira (17), um oficial de Justiça esteve na loja Nobel com objetivo de entregar um mandado de intimação sobre os 15 exemplares recolhidos.
Segundo ele, que disse não poder falar com a imprensa, os livros podem ser solicitados pela livraria e devolvidos no prazo de cinco dias. Segundo o Tribunal de Justiça, para isso é preciso que os estabelecimentos cumpram o que está previsto no artigo 78 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ele ainda informou que as obras que estavam no estoque dos estabelecimentos não foram recolhidas. Na loja, os livros da trilogia estavam novamente nas prateleiras, mas lacrados e postos no mais alto local de exposição. Decisão O artigo 78 do ECA, usado como base pelo juiz, diz que “revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo”. Na determinação, o juiz Raphael Baddini indica verificar se a trilogia está sendo comercializada protegida com embalagem que impeça o seu manuseio e, ainda, com a advertência de seu conteúdo. Também determina a fiscalização da locação, entrega, fornecimento e empréstimo, ainda que gratuitos, dos livros da trilogia a crianças e adolescentes. A decisão é estendida a outras publicações de conteúdo “de mesma natureza e espécie” da trilogia, que seriam obras “de conteúdo erótico, com descrição de cenas de sexo explícito, bem como de outras práticas sexuais, salvo as de natureza estritamente didática compatíveis com o nível de escolaridade do menor”. Opiniões Entre os clientes, a decisão dividiu opiniões. “Eu geralmente compro um livro quando ele é indicado por alguém. Não venho à livraria e fico folheando e acho muito difícil algum adolescente pegar um livro e abrir justamente na página, ou conteúdo que não é próprio”, opina a estudante de administração Marcela Oliveira. “Acho que com tanto conteúdo disponível hoje em dia, se a gente ficar falando em proibição aí é que vai instigar a curiosidade.

Outros livros que são considerados para o público jovem induzem a pensamentos que não acho correto, por exemplo”, diz Gisele Martins. O namorado de Gisele, Tiago Nascimento, acredita que os livros devem ser postos em locais reservados. “Cheguei à conclusão que não devem estar lacrados, mas postos em local apropriado, específico”, argumentou. Segundo o dono da Nobel Macaé, os livros apresentados na loja já são entregues pela editora da forma que são apresentados, além disso, a venda e acesso aos conteúdos são fiscalizados por funcionários. “Nunca iríamos vender um livro adulto para uma criança, ou adolescente e os funcionários fiscalizam a loja. As crianças, por exemplo, já vão direto para a parte delas e os adolescentes precisariam abrir, ler e nós temos controle”, afirmou.

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