quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Globo de Ouro perde prestígio e influencia menos na corrida pelo Oscar

A expressão de espanto de Ben Affleck quando foi anunciado como o vencedor do Globo de Ouro de melhor diretor rapidamente se transformou em felicidade pela vitória. O galã provavelmente não acreditava que sairia da festa com o prêmio depois de ter sido esnobado pelo Oscar.

Seu trabalho à frente de “Argo”, um dos filmes mais elogiados do ano, sequer é finalista na categoria de direção, embora o longa tenha recebido sete indicações. Os resultados de 2013 parecem apontar que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a dona do Oscar, e Associação de Imprensa Estrangeira nos Estados Unidos, a mãe do Globo de Ouro, que sempre foi considerado uma prévia do prêmio da Academia, caminham por estradas cada vez mais diferentes. Apenas dois cineastas concorrem na categoria de direção nas duas premiações: Steven Spielberg e Ang Lee. “Argo” ainda foi eleito como melhor filme dramático pelo Globo de Ouro. Em outras épocas, ele seria o franco favorito para o Oscar de melhor filme, mas se o resultado se repetir na festa da Academia, será a primeira vez em 23 anos que um filme ganha o prêmio principal sem ter o diretor indicado. Em toda a história do Oscar, isso só aconteceu três vezes: com “Asas” (1927), de William Wellman, “Grande Hotel” (1932), de Edmund Goulding, e “Conduzindo Miss Daisy” (1989), de Bruce Beresford. Durante muito tempo, a vitória no Globo de Ouro era uma espécie de carimbo para o prêmio da Academia. Os produtores de filmes como “Ben-Hur”, “A Noviça Rebelde”, “Um Estranho no Ninho”, “Laços de Ternura” e “Titanic” passaram pelo palco do prêmio dos jornalistas estrangeiros antes de receber o Oscar. Dos 69 anos em que os prêmios coexistem, os vencedores se repetiram 45 vezes.

Número que só não é maior porque, nos últimos dez anos, a Academia resolveu ignorar o resultado do Globo de Ouro. Dos dez últimos vencedores do Oscar de melhor filme, apenas quatro levaram o prêmio dos jornalistas estrangeiros: “Chicago”, “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, “Quem Quer Ser um Milionário?” e “O Artista”. E isso porque, teoricamente, o Globo de Ouro tem duas chances de “adivinhar” o ganhador do Oscar, já que premia os filmes em duas categorias separadas: melhor filme dramático e melhor comédia ou musical. E quando acontecem os desencontros, eles mostram que as duas premiações seguem lados praticamente opostos. O melodrama “O Segredo de Brokeback Mountain” ganhou o Globo de Ouro em 2006, ano em que a Academia elegeu o urbano “Crash”. Em 2008, foi a vez do drama de época, “Desejo e Reparação”, levar o Globo de Ouro, enquanto o Oscar preferiu o independente “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Já em 2011, o moderninho “A Rede Social” ficou com o prêmio dos jornalistas, enquanto os acadêmicos escolheram o tradicional “O Discurso do Rei”. De uns tempos para cá, a Associação da Imprensa Estrangeira tem demonstrado uma preocupação com o show televisivo que é a festa de entrega dos prêmios. Quantos mais astros e estrelas no palco e na plateia, melhor. Um caso clássico é o de Sharon Stone, que venceu o Globo de Ouro por “Cassino”, única vez em que concorreu ao Oscar, mas recebeu ao todo quatro indicações. Duas delas por filmes que caíram no esquecimento ou que ninguém chegou a ver, “Sempre Amigos” e “A Musa”. Tom Cruise nunca ganhou um Oscar, mas tem três indicações. O prêmio dos jornalistas ele já levou três vezes (de um total de nove candidaturas). A manutenção de duas categorias (drama e comédia) para atores e atrizes protagonistas garante que haja 30 intérpretes indicados a cada ano, em vez dos 20 nos quatro quesitos de atuação no Oscar. Por causa de opções como esta, Meryl Streep, que ganhou 3 e foi indicada 17 vezes ao Oscar, já levou 7 Globos de Ouro e foi finalista 25 vezes (sem contar os prêmios de TV). Leonardo Di Caprio, indicado neste ano, já concorreu 9 vezes ao Globo de Ouro e ganhou numa delas, mas tem apenas 3 indicações ao Oscar. Essa preocupação com a presença de estrelas ajuda a decifrar algumas vitórias na edição 2013 do Globo de Ouro. Na categoria de roteiro, “Lincoln” e “Argo” eram favoritos, com “O Lado Bom da Vida” correndo por fora, mas o vencedor foi “Django Livre”.

Curiosamente, Quentin Tarantino era o único “astro” entre os indicados. Bradley Cooper, elogiadíssimo, era o preferido nas apostas para ator em comédia ou musical, mas ter Hugh Jackman, de “Os Miseráveis”, no palco foi irresistível para o Globo de Ouro. Filme -- “Argo” ganhou o Globo de Ouro de filme dramático. “Os Miseráveis” foi eleito na categoria comédia ou musical. Os dois longa concorrem, mas nenhum tem o diretor indicado ao Oscar, o que enfraquece suas candidaturas. Será que isso vai beneficiar “Lincoln”, de Steven Spielberg? Diretor -- Ben Affleck ganhou o Globo de Ouro e sequer é finalista para o Oscar. Pela lógica da popularidade, Spielberg já ganhou. Daniel Day-Lewis, ganhador do Globo de Ouro de melhor ator de drama por "Lincoln", é o favorito ao Oscar de melhor ator Vote em quem você gostaria que ganhasse o Oscar de melhor ator Ator -- Daniel Day-Lewis (“Lincoln”), repetindo toda a temporada de prêmios, foi o melhor ator dramático. Parece imbatível. Atriz -- Jessica Chastain (“A Hora Mais Escura”) e Jennifer Lawrence (“O Lado Bom da Vida”) ganharam o Globo de Ouro. Seriam as favoritas, mas o Oscar indicou Emmanuelle Riva, de “Amor”.

Só duas atrizes estrangeiras ganharam o Oscar falando seus idiomas nativos, Sophia Loren e Marion Cotillard, mas será que a Academia vai resistir a uma velhinha de 86 anos, lenda viva do cinema, por um filme que teve surpreendentes 5 indicações? Ator Coadjuvante -- Christoph Waltz (“Django Livre”) levou o Globo de Ouro, mas taí uma categoria em que qualquer um (Philip Seymour Hoffman, Robert De Niro, Alan Arkin e Tommy Lee Jones) tem chance de ganhar. Todos já levaram pelo menos um Oscar. Atriz Coadjuvante -- Anne Hathaway (“Os Miseráveis”), outra aposta pop do Globo de Ouro, mas esta parece ser mesmo a favorita ao Oscar. Resta aguardar as especulações e o lobby que vão correr soltos nos próximos dias e terão influência decisiva nos votos dos integrantes da Academia. A única certeza na festa deste ano é que esse “racha” com o Globo de Ouro deixou a festa do Oscar menos previsível e, como o que interessa em Hollywood é o espetáculo, a noite do dia 24 de fevereiro promete muito mais surpresas do que nos últimos anos.

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