terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Longa e livro sobre as filmagens de "Psicose" e programas de TV reavivam Hitchcock

RODRIGO SALEM DE SÃO PAULO

Em uma tarde qualquer dos anos 1950, o diretor Alfred Hitchcock (1899-1980) grita para sua secretária atender o telefone de seu escritório nos estúdios Universal. Ninguém responde. Ele decide atender a chamada. Um garoto de nove anos com sotaque do norte dos Estados Unidos está animado do outro lado da linha, falando que é fã de seus filmes --mesmo sem ter idade para isso. Anos depois, o mestre do suspense está na pré-estreia de "Cortina Rasgada" (1966), seu filme de espionagem com Paul Newman e Julie Andrews --cuja filmagem gerou o famoso diálogo entre Newman ("Qual seria a motivação do meu personagem?") e Hitchcock ("Sua motivação, sr. Newman, é o seu salário"). O mesmo garoto, agora com 15 anos, aproxima-se, pede um autógrafo e, com o troféu nas mãos, fica observando a equipe do longa. Em 1980, Stephen Rebello não era mais um menino. Já estava com 30 anos quando foi escalado para entrevistar Alfred Hitchcock naquele mesmo escritório no qual, ainda criança, o atormentou. "Quando contei quem eu era, ele deu uma daquelas risadas de orgulho. Hitchcock respeitava minha cara de pau, era uma pessoa muito bem-humorada e tivemos uma ótima conversa", conta Rebello, hoje com 62 anos, de sua casa em Los Angeles. Mal sabia ele que aquela seria a última entrevista do diretor, morto em abril de 1980. O contato com um dos maiores nomes do cinema o inspirou a escrever "Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose", que chega ao Brasil (22 anos depois de sua primeira edição americana) graças à badalação em torno do filme "Hitchcock", inspirado no livro e com Anthony Hopkins no papel do cineasta. A obra literária, ao contrário do filhote cinematográfico, é um mergulho profundo nas filmagens de "Psicose" (1960) e nos métodos de trabalho de Hitchcock -o que resvala em sua vida pessoal. "Não consigo ler um livro sem vislumbrar as imagens na cabeça", disse certa vez ao procurar ideias para seu filme após o sucesso de "Intriga Internacional" (1959). Já o longa dirigido por Sacha Gervasi, que estreia em 1º de março no Brasil, centra a linha narrativa em um suposto interesse romântico de Alma (Helen Mirren), mulher de Hitchcock, pelo roteirista Whitfield Cook (Danny Huston), que coescreveu "Pavor nos Bastidores" (1950) e "Pacto Sinistro" (1951). "Quando você toma a decisão de não fazer um documentário, o filme precisa ter drama. Whitfield viajava e passava o fim de semana com os Hitchcocks. Alma gostava de nadar e de longas caminhadas. Com quem ela andaria? Seu marido odiava esforço físico", declara Rebello, que deu todo apoio ao filme.
Editoria de Arte/Folhapress

A abominação de Hitchcock por atividades físicas e dietas é um ponto em comum do filme e do livro. Mas, ainda assim, o que chega às telas é muito pouco em comparação aos detalhes no papel. "Ele era um homem difícil com certas pessoas e não tinha muito tato com os atores. Podia ser um sujeito estranho, apesar de gostar de suas brincadeiras", diz o escritor. MUNDO SOMBRIO Rebello descreve como o cineasta filmou a cena de abertura de "Psicose" de dentro do carro, onde ele se refugiava do calor. Há o jogo de manipulação que tecia com seus atores, Janet Leigh e John Gavin, colocando um contra o outro para criar tensão. Outro ponto interessante é como o diretor deu um nó na cabeça dos chefes de estúdio para filmar "Psicose". A Paramount rejeitou o filme, mesmo sendo Hitchcock sua galinha dos ovos de ouro, a ponto de pagarem a ele um salário de US$ 250 mil (cerca de US$ 1,9 milhão em valores atuais), o mais alto da época. Mas a visão hollywoodiana de um de seus grandes representantes poderia ter sido bem pior. "Ouvi muitos absurdos até encontrar os produtores certos", diz Rebello. "Um produtor certa vez me disse que era uma pena o fato de eu não ser maluco, um assassino homicida, pois isso venderia muito bem o filme. Outro me sugeriu Johnny Depp para o papel de Hitchcock. Não faz sentido." Mesmo entre trancos e barrancos, "Hitchcock" acabou acendendo uma faísca de interesse em Alfred Hitchcock. A HBO está exibindo o longa "The Girl", sobre a atriz Tippi Hedren, que trabalhou com o diretor em "Os Pássaros" (1963), e "Marnie, Confissões de uma Ladra" (1964). O canal A&E prepara "Bates Motel", série que se passa antes dos eventos de "Psicose". "Estamos vivendo em um mundo sombrio", afirma Rebello. "É um mundo cada vez mais hitchcockiano."

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