quinta-feira, 15 de maio de 2014

Godzilla estreia

A cena final de Monstros, primeiro longa-metragem de Gareth Edwards, é de uma beleza que parece incabível num gênero de cinema em que o foco, principalmente nos últimos anos, é o poder de destruição dos efeitos especiais. E essa beleza que encerra aquele filme vai muito além da plástica; invade o território da delicadeza numa espécie de balé da vida. Este momento finalmente encerra o mistério sobre os gigantescos invasores que o diretor conserva quase invisíveis durante a maior parte do longa. Um olhar mais atento mostra que Edwards tenta trazer esse conceito diferente de “filme de monstro” para Godzilla, guardando, literalmente, as devidas proporções. Se seu longa de estreia era um filme independente, sem a missão de fazer dinheiro, espaço ideal para arriscar, este último trabalho é uma superprodução com todas as letras, compromissos e expectativas, que, além disso, carrega o peso de ser uma releitura do primeiro e maior monstro gigante do cinema. Mas mesmo diante dessa responsabilidade imensa, o cineasta inglês abre espaço para buscar beleza num filme de criaturas feias. Inversamente proporcional ao que Zack Snyder promove no rolo compressor O Homem de Aço, há vários momentos de prazer estético em Godzilla.

Um desses momentos é a cena em que, no meio das ações militares para a defesa do planeta, os paraquedistas partem para o ataque ao monstro, cena que Edwards filma como um melancólico mergulho no desconhecido. Outro, que vai além da plástica, é quando o diretor insinua a identificação entre o herói vivido por Aaron Taylor-Johnson e o monstro, uma relação de intimidade que o cineasta sabe que é impossível. Por essas e outras, Godzilla parece apostar nos efeitos visuais mais como forma de materializar a imaginação do que em espetacularizar as cenas de ação. Gareth Edwards aponta o foco para capturar o lado B do ataque de criaturas gigantes, que é a base de Monstros, e faz isso apoiado num casting surpreendente, que vai dos ótimos Bryan Cranston e Elisabeth Olsen até uma inesperada participação de Juliette Binoche. Mas como em praticamente todo filme que tenta equilibrar o macro e o micro num momento de ameaça global, Godzilla abraça alguns lugares comuns, sobretudo na reprodução de dramas particulares dos personagens e na onipresença do herói. Edwards compensa isso costurando novas perspectivas à mitologia do monstro, sem arranhar seu currículo. Por sinal, o Godzilla de 2014 tem o mesmo rostinho do original de 60 anos atrás. Nem sempre dá certo, mas, para um gênero de filmes fadados a se tornarem gigantescas operações militares, Godzilla está bem acima da média.

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