segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crítica-PLANETA DOS MACACOS: O CONFRONTO

Quando o reboot de Planeta dos Macacos foi anunciado poucos podiam adivinhar que A Origem seria o bom filme que mostrou ser. Logo ficou claro que temas recorrentes da franquia são tão relevantes hoje quanto no passado, e a sequência, O Confronto, trabalha ainda melhor esses aspectos. Mais inteligente e profundo do que qualquer outro da série cinematográfica, o longa de Matt Reeves funciona em todos os aspectos e ainda é capaz de causar reflexões enquanto diverte, algo raro em blockbusters. A sequência se passa dez anos depois de César (Andy Serkis) liderar os macacos inteligentes à liberdade. Nesse tempo, ele criou uma sociedade complexa nas florestas ao redor de São Francisco. Enquanto isso, o mesmo vírus que aumentou as capacidades cerebrais dos macacos também foi o responsável por eliminar boa parte da humanidade. Quando sobreviventes humanos reencontram os símios, desentendimentos ameaçam começar uma guerra que pode acabar com ambas as espécies. Cabe a César, protagonista da trama, controlar a sede de vingança de seus comandados enquanto negocia trégua com Malcom (Jason Clarke). Embora a trama gire em torno da tensão entre as duas raças, a narrativa não deixa de fora questões políticas internas de cada grupo, além de motivações individuais dos personagens. Esses elementos aprofundam o enredo, garantem diferentes camadas ao longa e refletem a complexidade de nossa própria sociedade. A franquia conhecida por trabalhar questões políticas e sociais volta a tocar nessas questões sem entediar os espectadores, diferente de A Origem, que simplificou demais esses aspectos. Grandes atuações garantem que esses elementos não sejam desperdiçados. Gary Oldman aparece pouco e seu arco acaba de forma simplória, mas o ator domina suas cenas.

Jason Clarke consegue ser um coadjuvante a altura de César e a dinâmica dos dois é um dos pontos fortes da produção. Andy Serkis impressiona cada vez mais na captura de movimentos e conseguem transmitir emoções cada vez mais complexas. Grande feito, principalmente se levarmos em conta que boa parte das conversas dos macacos é feita apenas por linguagem de sinais. Reeves faz bem ao trazer de volta os companheiros de César do filme anterior. Personagens que poderiam ter sido substituídos facilmente, agora ganham destaque, principalmente Koba (Toby Kebbell), Maurice (Karin Konoval) e Rocket (Terry Notário). Diferente do primeiro, no qual produtores sentiram a necessidade de focar nos humanos, O Confronto poderia facilmente ter apenas macacos na tela e ainda funcionaria. Mesmo assim, o longa procura fechar o ciclo iniciado no longa anterior, relembrando até mesmo a amizade de César com Will Rodman (James Franco).

A relação entre César e Koba garante alguns dos principais momentos da produção. O macaco mais velho questiona a abordagem de César em relação aos seres humanos e, quando discutem, Koba implora por perdão com uma mão estendida e postura de submissão. No começo, o líder pega a mão do amigo com vontade e aceita seu pedido de desculpas, afinal ele entende a dificuldade da situação. Conforme a cena se repete, pequenas variação mostram que algo na amizade entre os dois está mudando. Sutil, mas impactante. Visualmente o filme é muito bonito. Mesmo cenas simples como dois macacos conversando mostram a atenção ao detalhe da equipe de direção de arte e efeitos especiais. Além disso, outro elemento clássico da série retorna de forma abundante: macacos montados em cavalos observando, de longe, os humanos. Essas são apenas algumas cenas inesquecíveis que remetem ao original sem parecerem cópias. No final das contas, o que faz O Confronto ser tão bom é o fato de partilhar com a série antiga a exposição de problemas enfrentados no mundo real.

Noções relevantes como família andam lado a lado com questões como pena de morte, isolacionismo e preconceito. Esse é o tipo de filme que Hollywood deveria fazer mais vezes, capaz de tratar de assuntos relevantes e ainda divertir. É algo que todo amante de cinema merece e, mesmo sendo um pouco longo e não precisar ser visto em 3D, é ótima escolha para todas as idades.

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